Luanda - Nos últimos dois anos fiscais, o Governo Provincial do Kuando-Kubango desembolsou mais de 1,624 mil milhões de kwanzas em alimentos destinados ao palácio do governador, calamidades naturais e apoio a famílias vulneráveis. No entanto, uma investigação realizada pelo Maka Angola revela discrepâncias significativas entre os valores pagos e os bens efetivamente entregues, sugerindo possíveis esquemas de desvio de fundos públicos.

Fonte: Club-k.net

Despesas no Palácio do Governador

De acordo com os dados apurados, o palácio do governador José Martins consumiu 723 milhões de kwanzas em alimentos, representando 44,4% do total gasto. Este montante equivale a aproximadamente 10.328 salários mínimos, considerando o salário mínimo mensal de 70 mil kwanzas estabelecido pelo Decreto Presidencial n.º 152/24. Em comparação, o apoio às famílias vulneráveis recebeu 328 milhões de kwanzas (20,1%), enquanto as vítimas de calamidades naturais receberam 204 milhões (12,5%). Além disso, os coffee-breaks do governo provincial consumiram 128 milhões de kwanzas (7,8%).

 

Caso do Centro de Acolhimento “Mbembwa”

Um exemplo emblemático de possíveis irregularidades é o caso do Centro de Acolhimento “Mbembwa” Padre João Bosco dos Santos, em Menongue, que abriga 42 crianças órfãs e com deficiências. Em 2023, o Governo Provincial pagou à empresa Ango-Djib um total de 72 milhões de kwanzas para fornecimento de alimentos ao centro. No entanto, a responsável pela instituição, irmã Zélia Pinto, afirmou que o valor recebido foi de apenas três milhões de kwanzas, indicando uma diferença de 91,5 milhões de kwanzas entre o montante pago e o efetivamente entregue.

 

Empresas Envolvidas

As empresas Sedar Lda., com sede no Huambo, e Ango-Djib destacam-se como as principais fornecedoras de alimentos ao governo provincial. Nos últimos dois anos, a Sedar faturou 930 milhões de kwanzas apenas com vendas ao governo de José Martins, além do volume de negócios com os municípios. Nos primeiros três meses de 2025, a Sedar já faturou 272 milhões de kwanzas, enquanto a Ango-Djib recebeu 126 milhões de kwanzas no mesmo período.

Moradia do Governador

Curiosamente, desde há dois anos, o governador José Martins não reside no palácio oficial, mas sim na residência protocolar anteriormente atribuída à vice-governadora para a Área Política, Social e Económica, no Condomínio das 10 Casas, junto à sede do Governo Provincial. Esta situação levanta questões sobre a necessidade de gastos elevados com alimentação para o palácio desocupado.

 

Reações e Expectativas

O Maka Angola aguarda uma resposta do Governo Provincial do Kuando-Kubango, na esperança de que quebre a política de silêncio adotada em relação às investigações. Com a recente divisão político-administrativa, a província foi dividida em duas – o Kuando e o Kubango –, com José Martins permanecendo como governador do Kubango. Apesar da mudança, a estrutura de gestão parece ter permanecido inalterada, com os mesmos colaboradores em cargos-chave.

Este caso levanta sérias preocupações sobre a gestão dos recursos públicos e a necessidade de maior transparência e responsabilidade na administração pública. A sociedade civil e os órgãos competentes devem acompanhar de perto as investigações e exigir esclarecimentos sobre os destinos dos fundos públicos destinados ao bem-estar da população.