Luanda - Nos últimos dias, a política doméstica angolana foi marcada por várias abordagens, com realce para os projectos de revisão da legislação eleitoral, com o devido destaque na media convencional e não só.

Fonte: JA

Aliás, no actual figurino mundial é impossível dissociar as mais candentes abordagens da média moderna ou se preferirem das demais plataformas de comunicação digital, elevado pelo seu perfil de animação seja positivista ou negativista, cabendo a cada um a análise do que melhor aprouver.

Permito-me abrir parêntesis para recordar que entre nós, infelizmente as referidas novas formas e canais de comunicação tendem a conotações mais negativas, muitas delas injustificadas até mesmo pelos argumentos de falta de literacia nesta matéria, considerando propositadas e bem pensadas algumas das maldades que nelas ocorrem.

De regresso ao considerado ponto de partida desta reflexão, o facto de terem sido tornadas públicas várias versões de proposta de revisão da lei eleitoral vigente deixa, nas entrelinhas, a ideia de existência de unanimidade na necessidade de revisão do referido instrumento legislativo, fulcral para as eleições e, por conseguinte, às acções subsequentes consideradas, em última fase da régua analítica, a ponte dos consensos impostos pela democracia, quando tidos por úteis.

Revisitando os debates realizados em sede de algumas sessões plenárias da Assembleia Nacional, era perceptível a existência de inúmeras fracturas, classificadas como normais no jogo democrático, independentemente da forma pouco ou mais urbana como os interessados apresentam as suas posições.

A propósito, defendo que a magnitude e solenidade de que se reveste o hemisfério legislativo nacional impõem a necessidade da observância de melhor postura, por parte de determinados legisladores, alguns dos quais devem rever os conceitos de postura e compostura perante a casa cuja vocação fundamental é a produção legislativa e acções correlacionadas.

O MPLA, partido que suporta o Executivo, tomou a dianteira em deixar mais clarificado o sentido da sua proposta de revisão da lei eleitoral. Para o efeito, ainda que tenha sido por imposição e obediência à Constituição da República de Angola, enviou ao Parlamento o Ministro de Estado, Adão de Almeida, cuja forma peculiar, sóbria e até mesmo penetrante foi, mais uma vez, revelada.

Se por um lado o discurso do Chefe da Casa Civil do Presidente da República pode ter sido considerado eloquente – que nem sempre é sinónimo de convincente -, por outro lado e com base na mais natural das razões de liberdade de expressão e pensamento, foi julgado insuficiente para convencer os contrários,
Falando bem ou mal, Adão de Almeida defendeu a sua alma, ante um silêncio pelo menos circunstancial de grande parte da oposição, muitas vezes acusada de só saber jogar em contra ataque, aproveitando sempre a iniciativa do adversário que, nisto, vai definindo o andamento e ritmo de grande parte das jogadas políticas.

No demais, e quase que é sempre assim, entre a verdade explicada ou não, os adversários do MPLA ressuscitam, volta e meia, o fantasma da fraude com que, de forma reiterada e nem sempre diferenciada, classificam as eleições, as mesmas que contestadas em determinados contexto e aceites, noutros.

A propósito, alguém poderá sugerir quando chegará o tempo que falar de eleições em certas geografias africanas deixará de representar o expectro de acusações, acirrar de ânimos e todo um conjunto de discursos inamistosos, muitas vezes motivos de conflitos armados e suas tamanhas colecções de morte e destruição à vários níveis?

Na continuidade, o Executivo fez, novamente, ouvir a sua voz em torno do assunto, mudando o palco e o figurino, deixando intacto o interlocutor. Foi na TPA em que Adão de Almeida debitou outros tantos elementos que suportam a proposta de lei dos “camaradas”, momento que terá sido dos mais altos em termos de audiência que a referida estação televisiva conseguiu dos últimos tempos.

Bate agora o ponto, referindo-me ao segmento de cidadãos que, numa manifesta expressão de ignorância intelectual, por mais residual que se seja, decidiu reduzir o alcance e valor da entrevista, com o argumento de que maior seria a serventia se ela fosse objecto de contraditório.

Confesso ficar estarrecido com tal invenção, mais ainda com o côro de imbecibilidades à ela atrelada, potenciadas pela febre dos likes, umas das finalidades dos internautas cuja capacidade de percepção extensiva e profunda do valor das redes sociais não com eles não coabita.

Tomado pelo vício de partilhar saberes, sobretudo os relacionados com a minha área de informação e ocupação, seja na docência ou no jornalismo, senti-me na obrigação de dizer, de forma clara e simples, que não existe nenhum manual de instrução jornalística que sugere o contraditório para determinada entrevista, definida como um diálogo directo entre o jornalista e o interlocutor.

Desde logo, ficaram mal na fita os patrocinadores da narrativa de que o assunto foi tratado de forma isolada e, por isso, retirou a importância a ele atribuído. Mais que esta ignorância, maior foi o estrago por serem vistos na fila dos inventores da nova narrativa sobre entrevistas, de pessoas que pelo estatuto social obrigavam-se a, se não fosse pedir muito, optar pelo silêncio.

Entretanto, enquanto o tempo faz-se oportuno, salutar é que continuemos a falar de eleições, sejam eles em entrevistas que, repito, não se subordinam ao princípio do contraditório ou por outros formatos jornalísticos, sendo bom que cada um seja respeitado no seu saber.