Luanda - Sem razão aparente, esta semana dois jornalistas acreditados da RTP, televisão portuguesa pública, foram expulsos do Palácio Presidencial, em Luanda. O Sindicato dos Jornalistas angolano, o Sindicato dos Jornalistas de Portugal e o próprio Governo português chamaram a atenção para a importância do respeito pela liberdade de imprensa em Angola.
Fonte: RFI
Em declarações à RFI, Luísa Rogério, presidente da Comissão de Carteira e Ética dos jornalistas de Angola, disse que este tipo de expulsões é algo "recorrente", especialmente com jornalistas que pertencem a meios de comunicação privados angolanos que tentam acompanhar o Presidente ou o Governo.
O facto de esta vez ter acontecido a jornalistas portugueses vem, segundo Luísa Rogério, dar visibilidade a este tipo de práticas.
"Ter acontecido isto com um meio de comunicação social português, apesar de ser um acto mau, um acto lesivo dos direitos de informação de um modo geral, também acaba por ter alguma vantagem já que dá visibilidade a algo que vem acontecendo de forma recorrente com os jornalistas angolanos. E eu acho que o próprio Governo, o próprio Executivo, vai ter alguma preocupação ou poderá ter alguma preocupação, porqueo Governo português já reagiu, porque a mídia portuguesa reagiu, a mídia francesa reagiu, a mídia internacional está a chamar a atenção para este episódio e está a perceber-se que, apesar de Angola ter subido quatro lugares no ranking dos Reporteres sem Fronteiras, continuamos a ter um país com dificuldades ou em dificuldades no quesito liberdade de imprensa", explicou Luísa Rogério.
Entretanto, a presidência angolana exprimiu-se hoje na sua página oficial da rede social Facebook, afirmando que a RTP tem acompanhado ao longo dos anos, "quase em exclusividade, as atividades desenvolvidas pelo Governo angolano", mas que, "por força de notícias tendenciosas" que tem sido veiculadas pela estação, o Governo angolano decidiu pôr fim ao privilégio de acesso ao Palácio Presidencial.
Para Luísa Rogério estas exclusões consecutivas são um problema para a liberdade de imprensa, mas também para a qualidade das notícias em Angola. Outros meios de comunicação mais pequenos e privados, vendo-se rejeitados, podem cair na tentação de produzir notícias falsas ou fake news, tornando o Estado angolano cúmplice destas más práticas.
"O Presidente da República governa para todos, não é? A Presidência da República deveria dar acesso a todos os jornalistas, pelo menos àqueles que estão devidamente credenciados com a sua carteira profissional e aos órgãos que são reconhecidos. Mas a prática tem exactamente contrariado esse critério, que devia ser um critério razoável. Nós achamos que está na altura da Presidência da República se posicionar ou posicionar-se diante dos fatos e compreender que não é pelo facto de negar acesso a vários jornalistas ao Palácio Presidencial que vai conseguir impedir que a realidade dos factos seja pública. Muito pelo contrário. Quando o jornalista não tem acesso directo às fontes, vai acontecer o quê? Pode caminhar no ramo da presunção, pode presumir e pode, inclusive empolar factos ou ir na esteira dos "ouvi dizer". O executivo angolano subscreve e, por outro lado, também está a contribuir para a perpetuação dos boatos, do "ouvi dizer" e daquilo a que chama fake news", concluiu Luísa Rogério.