Huambo – O que deveria ser o motor da integração regional e da modernização dos transportes angolanos está a enferrujar – literal e simbolicamente. O Corredor do Lobito, megaprojeto ferroviário que liga o litoral atlântico à região centro-leste do país, está em colapso silencioso. Registros recentes divulgados nas redes sociais mostram uma realidade desoladora: vagões abandonados, carris partidos e estruturas corroídas, de Benguela até ao Huambo.

Fonte: Club-k.net

Fotos e vídeos feitos em todas as províncias ao longo do corredor do Lobito por moradores locais mostram carris cobertos de ferrugem, segmentos da linha férrea sem qualquer vigilância, e sinais evidentes de vandalismo e pilhagem. De acordo com o canal do YouTube Angola Fala ao Mundo, há relatos de que moradores locais estão a desmontar partes da estrutura para vendê-las como sucata.A situação levanta sérias dúvidas sobre a gestão do projeto e o destino dos investimentos milionários injetados por parceiros internacionais, incluindo Estados Unidos e União Europeia.


Apesar das somas vultosas atribuídas por investidores ocidentais para a modernização da ferrovia, o governo angolano estaria a desviar parte significativa desses recursos, segundo fontes próximas à gestão do projeto. Para reduzir custos – e aumentar margens de corrupção – optou-se por aço de qualidade inferior, ignorando os rigores do clima tropical do país.


Especialistas apontam que a composição química dos carris não respeita os padrões técnicos necessários. A ausência de ligas como o crómio, essenciais para resistir à corrosão, aliada à adição indevida de enxofre e fósforo, reduziu drasticamente a durabilidade dos trilhos. “É uma economia suicida. A ferrovia foi condenada antes mesmo de entrar em funcionamento pleno”, alerta um engenheiro consultado sob anonimato.


A deterioração acelerada levanta suspeitas de que o desgaste dos trilhos possa ser parte de um plano deliberado para forçar novos investimentos futuros, criando oportunidades para mais desvios. Com o agravamento da situação, o próprio governo poderá alegar a necessidade de “reparações urgentes”, abrindo caminho para novos contratos e mais dinheiro perdido.


Desde que foi anunciado, o Corredor do Lobito tem sido envolto em denúncias de corrupção e má gestão. Apesar do seu potencial estratégico para a economia nacional, o projeto tem apresentado resultados pífios, minando a confiança internacional e desgastando a imagem do presidente João Lourenço, que apostou politicamente na iniciativa.


Especialistas e analistas políticos apontam que a única saída viável seria a realização urgente de uma auditoria internacional independente, com a participação de peritos estrangeiros em engenharia ferroviária e finanças públicas. O objetivo: apurar responsabilidades e estancar o sangramento de recursos.Até que isso ocorra, o Corredor do Lobito segue como um retrato simbólico de muitos grandes projetos em Angola: promessas grandiosas soterradas pela ferrugem da corrupção e do descaso.