Luanda - Os dados pré fabricados da INDRA e da CNE que apresentam constantemente uma queda de 10% para o MPLA, pintam um cenário eleitoral inédito em Angola: a UNITA, com 49 % das intenções de voto, surge pela primeira vez à frente do MPLA, que cairia para 41%. Diante dessa ameaça histórica, o partido no poder parece ter acionado suas peças no tabuleiro político. A legalização repentina do PRA-JA, do Partido Cidadania e do PL não é mera coincidência, mas uma estratégia para fragmentar o eleitorado e equilibrar uma disputa que, pela primeira vez, escapa ao seu controle.

Fonte: Club-k.net

Com a ampliação dos ciclos eleitorais e o aumento do número de deputados, o MPLA aposta numa matemática perversa: dividir para governar. A entrada de novos partidos no Parlamento pode servir para criar uma coligação pós-eleitoral que mantém o MPLA no poder, mesmo sem maioria clara. Nesse jogo, partidos como PRA-JA, Cidadania e PL — somados a FNLA, PRS e Humanista — poderiam formar um bloco de sustentação, deixando a UNITA e o Bloco Democrático isolados.

O verdadeiro perigo para o regime está na liderança de Adalberto Costa Júnior, reconquistou a coesão interna e a confiança dos "guardiões do projeto Mwangay". Enquanto isso, o MPLA enfrenta suas próprias guerras: a sucessão de João Lourenço tornou-se um campo minado, com Manuel Homem e Adão de Almeida em disputa silenciosa, enquanto Higino Carneiro e seus aliados tentam deslocar o poder do círculo presidencial.

A grande ironia? O MPLA, que sempre usou a divisão como arma contra os adversários, agora vê seu próprio partido rachar. E essa fragmentação pode ser o passaporte para a alternância política em 2027. O PRA-JA, por exemplo, surge como um actor ambíguo — capaz de aliar-se ao MPLA ou à UNITA, dependendo do vento congressual.

Os indicadores económicos e sociais não mentem: desemprego, crise de custo de vida e desgaste após 50 anos no poder corroem a base do MPLA. A UNITA, ao contrário, capitaliza o descontentamento e a esperança por mudança. Se a oposição mantiver a unidade e o MPLA continuar a tropeçar em suas contradições, 2027 pode marcar não apenas uma vitória da UNITA, mas o fim de um ciclo histórico.

O que está em jogo já não é só uma eleição, mas a possibilidade de Angola reescrever seu destino político. E, desta vez, o povo parece disposto a ditar o final.

Por Hitler Samussuku