Luanda - O empresário e filantropo sudanês-britânico Mo Ibrahim quer vir a Angola debicar o seu pedaço de carne em troca de um elogio fácil e insincero, sussurrado recentemente de forma doce e suave ao ouvido da vice-presidente do MPLA. O cumprimento meloso e ligeiro do patrono da Fundação Mo Ibrahim foi proferido em Marraquexe, à margem da “Semana de Governação Ibrahim 2025”, subordinada ao tema “Alavancar os recursos de África para colmatar o défice financeiro”.
Fonte: Club-k.net
A exaltação foi breve, mas embalada num guardanapo de bajulação internacional e interesses económicos que confundem oportunidade com oportunismo: “Angola está a registar progressos.”
Mentira! Uma mentira vinda de uma língua com açúcar que tenta ajudar a maquilhar a miséria dos angolanos. Uma falsidade que indigna os patriotas e cidadãos de bem. Uma indignação que os transporta para lá de Marraquexe. Porque não há progresso quando hospitais fecham por falta de luvas e crianças aprendem sentadas no chão. Quando bairros inteiros vivem às escuras, com água por balde e fome como rotina.
Mo Ibrahim quer vir an Angola fazer negócios? Que venha. Mas que não minta!
Quer vir debicar o seu pedaço? Força! Mas poupe-nos às canções de embalar ao ouvido dos governantes e deputados. Eles já bocejam e dormem o suficiente em serviço. Se a ideia de Mo Ibrahim é a de investir, aproveito para o informar o seguinte: A Segurança Jurídica em Angola anda pelas ruas da amargura. Está avisado. E quem avisa, amigo é.
Sempre tive Mo Ibrahim como um exemplo raro de seriedade num continente tantas vezes saqueado por oligarquias. Mas a tirada bajulatória ao Executivo angolano lançada em Marraquexe mudou radicalmente essa percepção. Hoje vejo nele mais um palrador elegante e homem de negócios interessado apenas numa coisa: Facturar! Mo Ibrahim acaba de se revelar um homem politicamente útil a sistemas como o de Angola.
Porque vê progresso onde há escombros sociais. Vê ganhos onde há mortes por inanição e desrespeito pelos direitos humanos. Porque aplaude onde deveria perguntar. Porque confunde Luanda com Londres ou Mónaco, onde vive rodeado de estabilidade, civismo e verdadeiros serviços públicos.
Fim de prosa: Mo Ibrahim tem de decidir se quer ser levado a sério como observador atento da realidade africana ou se prefere o papel confortável de figura simpática que diz o que os poderosos gostam de ouvir. Mesmo que isso implique trair os que vivem longe dos palácios e perto do chão duro da sobrevivência. Afinal, quando a mentira é moeda de troca, não há vergonha. Há aquilo que Mo Ibrahim mais gosta e persegue: Lucro! Mesmo que custe a verdade e a dignidade de um povo.