Luanda - O jornalista Rui Kandove é um dos raros símbolos da resistência intelectual e política num País onde a inteligência crítica é vista como ameaça aos poderes instalados. É uma figura pensante que se destaca num contexto político adverso como o angolano, onde os jovens clamam por melhorias económicas e sociais sentados no sofá a ver Netflix, ou a murmurar queixas numa festa de amigos com uma cerveja na mão.

Fonte: Club-k.net

Rui Kandove é um intelectual com valor. Dedica o seu precioso tempo ao cometimento do “crime” de exprimir publicamente o que pensa. Sabe usar bem o seu tempo. Passa noites em claro a pensar no País e nos seus problemas. Como ele, há muitos. Mas poucos com a coragem de partilhar o que pensam. O poder político angolano é refratário a ideias lúcidas. Cospe nas contribuições dos seus melhores filhos. Não lhes concede a devida importância.


Quando, em noites de lua cheia, Rui Kandove não prega olho. Põe os neurónios a trabalhar e faz uso da sua competência académico-intelectual. O resultado desse sacrifício, no dia seguinte, é regozijante. Exalça o orgulho dos verdadeiros patriotas e dos angolanos de bem. Já os patrioteiros( e todos aqueles que “compram prestígio e vendem influência”) bufam de raiva e rangem os dentes perante o juízo de valor do jornalista, que escreve aquilo que os aprendizes de refilões comentam em mesas de bar ou nos almoços de quintal ao fim de semana.


Quando virem Rui Kandove a andar com a carapinha alta e a barba por fazer, tipo “maluco beleza”, é porque passou a noite inteira a pensar profunda e seriamente nos problemas (e nas possíveis soluções) que afligem o País. Mau grado o poder político ainda não saber ler e escrever em condições. Mau grado ter aversão aos poucos pensadores que ainda temos. Mau grado detestar intelectuais com ideias próprias. Rui Kandove. Barba por fazer, país por refazer. Barba por fazer, ideias por fazer.


Olhem o fruto de uma noite em claro, da barba por fazer e dos cabelos por pentear de Rui Kandove: “José Eduardo dos Santos (…) cultivou, com habilidade cirúrgica, o que se poderia chamar de ‘Estado profundo’ — um sistema onde as eminências pardas (como Hélder Vieira Dias, Aldemiro Vaz da Conceição e Jú Martins) actuavam como verdadeiros operadores do poder real. Não eram ministros com pasta, mas estrategas da estabilidade. O país funcionava com base nesse delicado equilíbrio: visibilidade institucional de um lado, comando discreto do outro. Pode-se discordar de muitos elementos do seu governo, mas negar a sua mestria no jogo do poder seria negar a evidência.”


E Rui Kandove escreveu ainda: “(…) João Lourenço acabou por desarticular parte do próprio sistema de sustentação do poder — sem construir outro em seu lugar. O resultado: um governo com autoridade formal, mas muitas vezes sem comando estratégico sobre as dinâmicas reais do País.” É por isso que não gostam dele. As suas ideias incomodam. Num País civilizado e instruído, as ideias de Rui Kandove seriam respeitadas e levadas em consideração pelo poder político. Em Angola, são estoicamente combatidas. Ferozmente perseguidas. Maldosamente catalogado como alguém não digno de confiança política, pelo simples pecado de, há alguns anos, ter optado por praticar uma modalidade desportiva que antes era privilégio de uns poucos e de quem se julga fadado para mandar: A emissão pública de opinião.


Tivesse Angola cinco centenas com a coragem, o intelecto e a lucidez política de Rui Kandove, o País seria outro. Lá isso seria. Estou certo e seguro. Mas Rui Kandove é uma voz no deserto, e nós, um povo que se habituou ao silêncio.


Em vez disso, temos debates no WhatsApp, indignação no X e revolução só no TikTok. O futuro agradece. Sentado. Num País onde pensar é crime e opinar é traição, Rui Kandove vai continuar a ser alvo da sanha de analfabetos políticos, instrumentalizados por quem, no topo, sabe que as ideias do jornalista Rui Kandove podem servir de farol para muitos. Os governos fracos temem ideias fortes. E é por isso que Rui Kandove vai continuar a ser combatido. Porque pensa. Porque escreve.

Porque não se cala e não se verga. Num País onde o silêncio se recompensa com cargos, e o pensamento se pune com desconfiança, Rui Kandove continua a fazer o impensável: Pensar alto. E por isso, vai continuar a incomodar. Enquanto muitos vendem silêncio, Rui Kandove oferece palavras.