Luanda - É realmente difícil escolher, entre milhares de angolanos, aqueles que verdadeiramente deram o cabedal pela independência nacional. Se não for pedir demais, seria desejável, em nome da transparência e para evitar especulações, que fosse do domínio público o critério de selecção, bem como o que fez cada um dos contemplados para merecer a Medalha dos 50 Anos de Independência.
Fonte: Club-k.net
A verdade é que há nomes incontornáveis e inolvidáveis na memória colectiva que não figuram na lista dos medalhados.
Na qualidade de cidadão, proponho-me, até ao próximo dia 11 de Novembro, trazer à luz nomes de nacionalistas esquecidos pela Pátria (como se de um lembrete se tratasse para as autoridades competentes), na esperança de que, em futuras condecorações, nos casos em que os perfis se enquadrem, lhes seja concedido o merecido reconhecimento.
Desta vez, trago o nome do destemido Comandante Lumumba.
Infelizmente, não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, nem conheço o seu verdadeiro apelido. O nome Lumumba deverá ser apenas o seu nome de guerra, em homenagem ao grande africano Patrice Lumumba, do Congo-Kinshasa. Também não faço a mínima ideia de alguma vez o ter visto em algum lugar. Mas o meu irmão mais velho, o Jó, apesar da pouca idade que tinha, lembra-se dele. Conheceu-o na Região Militar 17, no Cuando-Cubango, quando deambulávamos pelas matas de Kwatili, Baixo Longa e Mawe, entre os anos de 1978 e 1979. Ele lembra-se de que Lumumba andava sempre com uma arma de fogo (FN), como quem estivesse constantemente pronto para a acção. Era um verdadeiro militar. (Se estivesse em vida, presumo que hoje seria, também, General.)
Outro que me falou dele foi o Coronel José Kungo, que, durante algum tempo, fez parte da sua guarda pessoal. Falou-me da mufuka preta e da sua inseparável FN. Disse-me também que era um homem de poucas palavras, mas de actos firmes, respeitado por todos – sobretudo pela coragem que demonstrava em combate.
Em 1975, quando o Comandante Pole-Pole tombou em combate, no ataque ao Cubal, foi Lumumba, vindo do Bocoio, quem assumiu o comando da frente. A sua chegada, segundo Kungo, reacendeu o ânimo dos guerrilheiros e reorganizou as linhas de resistência. Foi um comandante estratega, decidido e corajoso. Não comandava de longe: ficava sempre ao lado dos seus homens na trincheira e partilhava com eles os momentos de angústia e de alegria.
Embora não o tenha conhecido, nem nunca o tenha visto em qualquer retrato fotográfico, a sua fama atravessou os tempos e chegou até mim com a força das histórias que resistem ao esquecimento e às manipulações. Ele foi, na verdade, daquelas figuras que sempre quis ter conhecido pessoalmente – pelo seu exemplo, pela bravura e, sobretudo, pela sua determinação.
Soube também, pelo kota Alfredo Mukanda (que conheceu Lumumba, quando ainda ostentava a patente de Tenente e operava ao longo do Caminho de Ferro de Benguela, nas proximidades de Kangumbe, durante a luta pela independência), que Lumumba foi um destacado combatente da luta anti-colonial, daqueles verdadeiros heróis da independência nacional.
Pese embora a Pátria que ele ajudou a libertar não o reconheça como um dos filhos que deram tudo de si pela independência, ainda assim tenho a esperança de que, dentro em breve, quando a Terra voltar a sorrir e os angolanos se reconciliarem de corpo e alma, Lumumba seja reconhecido como antigo combatente e veterano da Pátria. Até lá, quando isso acontecer, quem sabe, teremos uma rua, numa das Províncias, com o nome de Major Lumumba das FALA, ou, talvez, se for promovido a título póstumo, a rua chamar-se-á General Lumumba.
Voltarei...
Cubal, 06 de Junho de 2025
Gerson Prata