Luanda - A jovem dirigente do MPLA protagonizou um episódio infeliz ao dirigir-se com desrespeito a pré-candidatos mais velhos e experientes do partido. Um deslize ou sinal de algo mais preocupante?
Fonte: Club-k.net
Recentemente, fui surpreendido por um artigo de opinião assinado pelo jornalista Graça Campos, no qual se relatava uma intervenção infeliz de Milca Caquessa, Administradora Municipal das Ingombotas e Primeira Secretária do MPLA naquele município. Segundo o artigo, Milca utilizou a palavra “assanhados” para se referir a pré-candidatos à liderança do MPLA — uma escolha de palavras que considero profundamente inadequada.
Durante uma atividade da JMPLA nas Ingombotas, Milca teria se referido a figuras como Higino Carneiro, António Venâncio, José Carlos de Almeida e Valdir Conego — todos militantes do MPLA, com idade e experiência suficientes para serem seus pais ou irmãos mais velhos — de forma desrespeitosa. A crítica feita por Graça Campos destacava não apenas o tom da fala, mas a mensagem subjacente: uma falta de reverência e equilíbrio no trato com os mais velhos, especialmente dentro de uma estrutura partidária onde a hierarquia e o respeito à senioridade sempre tiveram grande peso.
A princípio, custei a acreditar. Tenho por Milca Caquessa uma admiração particular. Vejo nela uma jovem dirigente em ascensão, com uma carreira que inspira confiança e uma postura que até aqui parecia pautada pela compostura. Foi essa imagem positiva que me levou a procurar por um registo da intervenção. E, infelizmente, encontrei. Era verdade. Milca se excedeu.
É importante frisar que o respeito dentro de um partido político, principalmente entre camaradas de diferentes gerações, é um valor essencial para a coesão e para o bom funcionamento das estruturas. A forma como tratamos os nossos mais velhos, sobretudo os que carregam décadas de militância, diz muito sobre a cultura política que queremos construir.
Mais grave ainda seria se essa postura não fosse apenas um deslize, mas parte de uma estratégia deliberada para enfraquecer adversários internos, como Higino Carneiro. Se for esse o caso, então estamos diante de um problema ainda mais sério: o uso de linguagem ofensiva como ferramenta de luta política dentro do próprio partido.
Tenho sérias dúvidas de que o Presidente João Lourenço se orgulharia de ver uma jovem oriunda da JMPLA agir dessa forma contra um veterano do MPLA. Não se trata apenas de política interna; trata-se de postura, de ética e de respeito mútuo.
O MPLA precisa estar atento. Um partido dividido entre alas jovens e veteranas, sem pontes de diálogo e respeito, corre o risco de se fragmentar. E isso, num momento de grandes desafios nacionais e internacionais, seria trágico.
Milca Caquessa não precisa de bajulações nem de ataques gratuitos para crescer politicamente. Até aqui, vinha construindo um percurso admirável. Prefiro acreditar que tudo não passou de um erro, um momento infeliz, um tropeço verbal. Mas que sirva de lição: liderança exige cabeça fria, sobretudo quando se está sob os holofotes.