Luanda  - Peço um ponto de ordem! Párem as discussões, párem as agendas, párem as conversas paralelas. Camaradas, estou confuso e peço: alguém me explique…!

 

Fonte: SA

 
Primeiro tínhamos GURN, que algumas vezes tinha que contemporizar com a agenda partidária dos partidos da Oposição. O nosso glorioso podia querer isso ou aquilo, mas se os Outros achassem diferente tinha que se recuar. E agora que governamos sózinhos e com maioria gorda, como se explicam as Tchavolas, Iraques, Bagdades, Cambambas que bem podiam ser resolvidas à sombra da mulemba; com os mais velhos das comunidades à moda dos tempos de mobilização do «Povo Heróico e Generoso no combate pela Independência…»?


 
Vivemos o período mais sangrento da guerra depois de 1992 e os jornais apareceram e falaram. Criticaram o Governo e o próprio Presidente pela opção por «fazer a guerra para acabar com a guerra». Ninguém lembrou-se de uma tal Lei de Crimes contra a Segurança do Estado tão velha como 1978. Nem com o fogo dos canhões em volta do Kuito e de Malanje  declarou-se qualquer Estado de Emergência, o que deixou toda a gente bwamada, até os estranjas. Ninguém foi preso, ninguém foi molestado até mesmo os da UNITA, que na altura fazia a guerra. Tirando um ou outro mau-entendido, rapidamente resolvido. Não estão aí o Maluka, o Man´Chivas, o mano Saviemba e outros? Tinham até mais imunidades que eu, eles eram Deputados e eu Zé Povoléu. No final, os factos tipo dão razão à tal opção criticada na altura por toda a Comunidade Internacional e Sociedade Civil, incluindo as Igrejas... e eu! Em plena guerra civil, as instituições democráticas continuaram a funcionar; os Deputados do partido que fazia a sublevação armada gozavam a plenitude das suas imunidades parlamentares.  Alguém me explica como é que agora que estamos em Paz, até falar em jeito de análise que, o ministro A, B ou C está a perder poderes em relação a X, Y ou Z é já crime contra a Segurança do Estado…? Como é que agora toda uma edição de um jornal é queimada só porque criticou um discurso do PR ou leva arreganhos porque falou de amigos dos patrões? Mas então um animal político como o PR que contornou as esquinas mais complicadas da política mundial dos últimos trinta e cinco anos, e da forma como o fez, fica tão atingido por um simples editorial crítico ao ponto de ferir direitos sagrados na Constituição que ele mesmo orquestrou? Quem inventou isso, alguém me explica, Camaradas? Então o homem driblou o mundo todo e saiu-se com a Constituição que estamos com ela. Alguém quer agora dizer-nos que o mesmo homem quer driblar a Constituição que nos driblou com ela...? Esses Camaradas têm provas? Porque nós nunca lhe ouvimos dizer isso…


 
Andámos aqui às turras, materialistas e ateus de um lado e idealistas e «religas» do outro durante cerca de dezassete anos. Alguns até chegaram a transformar igrejas em currais e um «Cubila» mandou um tiro que levou o nariz do Cristo Rei no meu Lubango natal. Mas nunca ouvimos dizer que um Padre foi preso, julgado à truz-truz-truz e enfiado na cadeia por crimes que até os próprios desconseguem (d)explicar. Até os colonos trataram melhor os Reverendos Cónegos Franklin da Costa, Alexandre do Nascimento, Joaquim Pinto de Andrade, Manuel das Neves e outros que na altura já queriam uma Angola Independente. Puseram-nos em casas e mosteiros – vigiados, é certo, mas nada de cadeias – em plena Lisboa dos kaputos. Como é então que agora, em pleno gozo da nossa liberdade libertária alguém prende um padre que semanas antes tinha sido convenientemente «dispensado» pelo seu Bispo; acusado de participar de uma reunião a convite de outro clérigo, esse vai ao julgamento confirmar isso mesmo e é mandado de volta em paz. E o Padre é condenado e atirado às masmorras e a Igreja dele – que é de muitos de nós também, diga-se – não tuge nem muge. Tipo diz é bem feito… alguém me explica como isso é possível?! Como será que fica o padre quando voltar das celas… padre ainda, ex-padre, político-profeta (ou profeta-mártir já nem sei...? Ccomo se vai gerir a tremenda força que os algozes lhe conferirão junto de um povo com o qual é incontornável dialogar de olhos nos olhos e coração nas mãos? Alguém me explica como é que isso está a ser pensado?
 

 

Na primeira legislatura tínhamos um Parlamento mais menos dividido ao meio, e nos media e nas notícias, cada partido falava a sua verdade para todos ouvirem. Sobre cada coisa um dizia uma coisa, outro dizia outra coisa, com o povo a escutar. Isso, mesmo durante a guerra. Era o Adelino Marques de Almeida a dizer «… com o Savimbi só à bala... negociar praquééé?» e o Maluka a ripostar «… nem pensar, tem que se negociar com ele». O povo ouviu todas as verdades e votou como votou: O MPLA governe com 82%. Porquê agora tapa-se o caminho da UNITA aos media para não ouvirmos o que tem a dizer sobre cada assunto da Nação? Alguém me explica como é que o nosso próprio jornal público, pago também com as contribuições dos militantes desse partido dá-se ao luxo de insultar esse partido, os seus militantes e até o seu líder? Alguém me explica como é que essa gente não entende que assim sujamos a imagem do país sem necessidade, e isso não vai mudar o voto do povo, para bem ou para mal? Que medo é esse de fazer o povo saber as coisas importantes do país, como se quer fazer entender, alguém explica?


 
Vemos aí «igrejas» estrangeiras a distribuir camisinhas aos nossos filhos e filhas adolescentes. Dizem-lhes assim: «O sexo é natural, podes fazer quando quiseres. Mas tem cuidado: cuida-te com esta camisinha, senão apanhas SIDA». E quando um jornal diz que isso não tem nada a ver com a Bíblia e com o Evangelho, a tal igreja leva o jornalista e o seu jornal a tribunal. E pede mais de meio milhão de dólares de indemnização a um descamisado que mal tem onde cair morto -- se isso tudo é vontade de enriquecer rápido à custa de um povo sofrido. E essa tal igrejola é quê? Um grupo de Chico-Espertos com um monte de processos de tribunais às costas nos outros países onde estão. Acusados de quê? De roubo de dinheiro ao povo. E nesses países – incluindo no Brasil onde o chefe deles lhe deram berrida – andam de bola baixa, fogem dos tribunais como o Diabo da Cruz. Alguém me explica como é que em Angola enchem tanto o peito que são eles que levamos jornais e jornalistas ao tribunal por dizerem exactamente as mesmas coisas que estão provadas nestes países? Alguém me explica de onde lhes vem este atrevimento?
 


Pronto, Camaradas. Acabou o meu Ponto de Ordem. Só mais duas perguntas: alguém me explica porquê a Administradora Suzana de Melo das Ingombotas, quando não tem dinheiro para pagar os trabalhadores eventuais da Administração vai à rua, recolhe alguns carros mal estacionados – porque ela nunca construiu um parque de estacionamento em toda a sua vida de Administradora  – e guarda-os na Chicala até os donos lhe pagarem 80 mil kwanzas por cada carro? Ou 40 mil kwanzs aos fiscais para o esquema de o carro não ir à Chicala, de onde volta já sucata?


 
Última pergunta: Quem está interessado em enterrar este País? Ainda nem morreu e já querem komba...?


 
Muito obrigado, môs Camaradas. Antes da continuação dos pontos da agenda, «gardecia» um esclarecimento a essas questões que estão a fazer muita confusão na minha cabeça. E a perturbar a minha militância. Tinha outras, mas fico por aqui.