Sr. Governador de Cabinda;
                                                                                        

 Autoridades em geral;

Camaradas e amigos.

Caros amigos

 

Pretende esta ser uma carta aberta, para reflexão de todos os Cabindas, angolanos (se preferirem) africanos em geral e todos os cidadãos livres.

 

Sou português, residente (com saídas ligeiras) em Angola, mais exactamente em Cabinda, há já 40 anos. Essa terra que eu aprendi a amar e onde constitui família. Terra de alegrias e tristezas, de amigos do passado e que se perderam, apesar de lá continuarem.

 

Quer isto dizer que há que repensar a sociedade, para tentar voltar ao passado harmonioso de vivência familiar, onde as famílias viviam em paz (sem se matar e sem feitiços), independentemente dos ideais políticos, de raças ou sedes de poder.

 

As riquezas e ambições que afastaram os falsos patriotas, criaram no espírito egoísta um desejo de poder, onde a mentira e falsidade provoca denúncias e arrasta pessoas às prisões. É preciso tomar-se consciência da realidade de Cabinda e deixarmos a "caça às bruxas" onde por ambição, ou interesses diversos se destróem famílias, sempre em nome do patriotismo. É preciso acautelarmos a cidadania, com uma atitude mais moderna, onde a independência do Enclave (ou Estado como se lhe quer chamar), seja imune a sentimentos racistas e não se misture direitos humanos políticos com injustiças.

 

Diziam os antigos: "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"! É bem verdade pois que cada um quer agradar ao chefe para conseguir uma posição de destaque, onde lhe seja permitido, por meios pouco claros, benefícios que lhe permitam certas mordomias, enquanto esperam poder um dia apelar por uma situação de maior poder.

 

Será legítimo ou justo ambionarmos a tão desejada independência ou autonomia? Legítimo talvez seja, mas quem ocuparia os lugares de poder? É preciso tomar consciência de quem são os que desejam o poder e que jogam com os dois lados do tabuleiro. São fáceis de identificar os que têm engordado à custa do MPLA e que esperam o dia da oportunidade. O que acontecerá é que por serem tantos se "comerão" uns aos outros e das duas "camisolas" que há tanto vestem, já não saberão identificar qual deixar. É que que me questiono: será justo? Não é decerto. Depois de tanto sofrimento e de tantos mártires. De tanta fome e perseguições, esse povo já tão martirizado merece mais. Será legítimo, justo e progressista pensar numa sociedade só de uma tribo? É que o problema não se traduz só entre branco e negro e quiçá o mulato. Sim o problema é bem mais grave como se vem revelando.

 

As rivalidades entre os povos de Cabinda. Para além disso temos já o síndrome do cruzamento de raças (tribos) com as migrações dos povos vizinhos. Como vão fazer a partir daqui? É que nos tempos mais próximos não haverá solução e só nos resta desejar que o MPLA, mantenha o poder (e que Deus nos proteja) para evitar males maiores pela instabilidade. Compreendo que muitos cabindas não partilhem desta ideia, mas tentem!.

 

Quanto ao Dr. Luemba, que lamento esteja detido, apesar de tudo, deveria fazer umas adendas ao seu livro, que em minha opinião deveria analisar os novos tempos e as novas realidades deste seu/nosso tempo.


Se tiver coragem publique os nomes (o senhor conhece-os bem) dos que vêm engordando à custa do MPLA, por cargos ministeriais e outros e que aguardam pacientemente a sua oportunidade de dormir no Palácio de Cabinda.


Um amigo de Cabinda

Fernando Manuel Madeira

Engº de Sistemas/Professor

Lisboa, 13 de Setembro de 2010