Joanesburgo - No de 1993, a revista Foreign Affairs publicou o célebre artigo de Samuel P. Huntington intitulado “The Clash of Civilizations? Ou seja, “O Choque das Civilizacoes?” De acordo aos seus editores, o artigo gerou maior debate e discussão em três anos, do que qualquer outra matéria publicada pela revista desde dos anos de 1940’s.


Fonte: Club-k.net

 

Huntington, o seu autor, um reputado professor de Ciência Política e Relações Internacionais na Harvard University, foi um especialista em Política Internacional e Segurança Nacional americanas, bastante influente em círculos políticos conservadores americanos. Enquanto académico da direita, advertiu sobretudo as ameaças que a imigração representa para os Estados Unidos da América.

 


De acordo a sua teoria, que mais tarde desenvolveu-se naquela que é a sua obra mais conhecida, “The Clash of Civilizations and The Remaking of World Order”( O Choque das Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial)”, inspirada no pensamento do historiador e filósofo polaco Feliks Kaneczny, as identidades religiosas e culturais( diferentes civilizações), seriam as principais fontes de conflitos no período pôs Guerra-fria e não as  tensões ideológicas que dominaram o sistema internacional e o discurso das Relações Internacionais na era da Guerra-fria.

 

Para Huntington, a nova ordem internacional seria pela primeira vez na História da Política Global, multicivizacional e multipolar. A geopolítica internacional deixaria de ser predominantemente um “business” dos estados nacionais do ocidente- EUA, França, Inglaterra, Canada,Espanha,Alemanha. A modernização diferente da ocidentalização. A balança do poder move-se do ocidente para o oriente na medida em que os estados do sudoeste  asiático e do mundo arábe vão desenvolvendo  as suas economias  e tornam-se cada vez mais confidentes no seu futuro. O Islão, acrescenta, representa o maior desafio aos países do ocidente no período pôs Guerra-fria.

 

Por outro lado, Robert Keohane, professor de Teorias das Relações Internacionais na Woodrow Wilson School of Public and International Affairs , Princeton University, acredita que o sistema internacional contemporanêo é eminentemente Neoliberal Institucional. Por outras palavras, os estados nacionais continuariam a ser os principais actores da Política Internacional mas, haveria um enorme movimento não governamental na solução dos grandes males de que padece a vida Política Internacional. Organizações Internacionais não governamentais como a Amnistia Internacional, Human Rights Watch( que continuam a denunciar não  tão somente  as cleptocracias e as ditaduras da África, bem como as grandes democracias liberais do ocidente, como  aconteceu com a administração de George W. Bush em Guantánamo), grupos transnacionais – the coca-cola Company, SAMSUNG, Microsoft Corporation ou individualidades como Bill Clinton, Nelson Mandela, Ernesto Zedillo, Fernando Henrique Cardoso seriam actores importantes na prática das relações internacionais e na manutenção do sistema internacional.

 

O regionalismo (União Africana, União Européia, ASEAN, SADC), tornaram-se em modelos interessantes da diplomacia internacional, resolução de conflitos no Burundi, Cote d ’Ivoire, DARFUR e cooperação económica como acontece dentro do projecto europeu.

 


Richard N. Hass, presidente do Council on Foreign Relations, escreve que contrariamente ao sistema multipolar clássico (diferentes potências com poderes económico, militar e político igual), predominante na Europa medieval ou mais concretamente depois da Paz de Westphalia em 1648 até ao fim da Primeira Guerra Mundial, a actual ordem é decididamente um sistema que envolve diferentes polos ou concentrações de poder. Numerosos centros com poderes significativos.

 

A concentração do poder no sistema intenacional contemporâneo não é possível. Existem hoje diversas alternativas para agências como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial. A China seria o grande exemplo em África. As novas tecnologias de informação hoje são produzidas em toda parte. A CNN, a BBC deixaram   de ter o controlo sob o monopólio da informação e da opinião pública internacional. A comunicação internacional hoje pode ser feita através do Al jazeera, The Times of India ou Facebook.

 

Diferente da análise propalada por certos analistas de que o século XXI será o século da Ásia, outras grandes tendências na política internacional como a ascensão  económica, política e militar de certas nações da  América latina como Brasil, Argentina, Chile, México  e Venezuela e de países africanos como a África do Sul, Nigéria, Ghana e possivelmente Angola e, dos  estados do médio oriente-Arabia Saudita, Irão, Egipto, Qatar, tudo aponta para um mundo multipolar, diverso e de cooperação multilateral.

 


Os grandes desafios da modernidade: terrorismo, a paz e segurança internacionais, Al Qaeda, a degradação ambiental, redução da pobreza, só encontrarão soluções sustentáveis através da cooperação entre as economias e governos nacionais, permitindo uma maior integração das economias desenvolvidas e dos mercados emergentes. Este sistema, ainda na sua gênese, é multipolar. Os EUA permanecem a única superpotência mundial (militar, política e tecnológica), mas já não o são no domínio da economia.
O grande desafio do futuro, me parece, será o desenvolvimento e o crescimento das economias em todo o mundo.


Aristides Cabeche, Estudante de Relações Internacionais