Luanda - Facto Mediático nº. 1: O BP do MPLA «bravou» com alguns ditos que «estariam a mando de interesses estrangeiros para denegrir a imagem do Executivo e do seu Chefe» – no que referia-se sem citar aos relatórios do Rafael Marques, amplamente divulgados pelos semanários e rádios privadas.


Fonte: SA


Essa foi a única reacção às graves acusações constantes neste relatório, quando a questão que é necessário responder é simples: afinal as tais acusações são verdadeiras ou não. Ou pelo menos um mal entendido? E dali há uma acção que se impõe na senda, aliás do que disse o próprio Rui Pinto de Andrade: Os órgãos competentes que intervenham, pois o caso é grave demais para que se remetam ao silêncio em que estão: Ou os referidos dirigentes prevaricaram e devem ser condenados e ressarcir o Estado, ou o Rafael Marques incorreu num não menos grave crime de calúnia e difamação pelo qual deve ser competentemente responsabilizado. Esse assunto é, pois, entre a investigação jornalística do Rafael e os cidadãos citados e, que deve ser intermediado pelos tribunais. O resto da malta só tem que aguardar pelo desfecho.

 

Facto Mediático nº. 2: Rui Falcão Pinto de Andrade vem a público acusar a Rádio Despertar, a UNITA e o seu Presidente de estarem a provocar a desobediência civil que poderia descambar para o descontrolo que houve na África do Sul e, em escala maior em Moçambique – o que, a todos os títulos é absolutamente indesejável para a nossa jovem e ainda ferida Nação. Devo dizer – sem desprimor para o excelente trabalho que esta estação vem fazendo e graças ao qual é uma referência na zona sul de Luanda – que do meu ponto de vista, a Rádio Despertar não mediu com a responsabilidade que se impunha a explosão social que poderia advir de um possível seguimento dos exemplos da África do Sul e de Moçambique. Cenário perfeitamente possível dado o grau de frustração expressado por quase todos os ouvintes que intervieram nos referidos programas. Tecnicamente falando, impunha-se por isso da parte do moderador – o experiente Jojó, se não estou em erro – uma acção pedagógica de contenção. Uma posição clara do órgão desencorajando essa opção. É que, qualquer profissional da Informação não deve jamais esquecer-se da hecatombe que Hitler e Goebbels criaram com a instituição da propaganda radiofónica como forma de instilar comportamentos radicais no povo alemão e que os levaram à II Grande Guerra. É por isso também que essa escola de comunicação foi denominada «a das balas mágicas», tanto que foi depois vigorosamente denunciada pelos pesquisadores da escola de comunicação seguinte, que passou a os tipos de conteúdos (jornalismo - nunca mente; Publicidade - omite a mentira; e Propaganda - arma comunicacional de guerra, pode usar a mentira). Hoje por hoje, a nossa responsabilidade pelos comportamentos colectivos não se limita somente àquilo que dizemos directamente mas também por aquilo que omitimos, encorajamos ou mesmo insinuamos. Esta é a base de todos os códigos de ética e deontologia que regem a actividade de comunicação social nos chamados «países democráticos de direito».

 

Por isso é que acho pessoalmente que a UNITA, em concertação com a Despertar fez uma jogada de provocação à qual o MPLA caiu que nem um patinho. De tanto o comer serviu ao dono o seu próprio veneno, por assim dizer. Não querendo, ou não podendo trazer directamente à discussão pública as analogias entre a situação do nosso país e as da África do Sul e Moçambique e aproveitando o agastamento do MPLA por causa dos relatórios do Rafael Marques, optou por espicaçar indirectamente; com uns subsídios de Samakuva depois subtilmente postos à discussão em fóruns de ouvintes – que sempre podem dizer o que quiserem sem com isso necessariamente engajar a rádio – e ganharam como bónus o pronunciamento musculado do Secretário para a Informação do seu arqui-rival. Porque a entrevista do Presidente da UNITA, assim como o seu discurso no Bié, na verdade foi o pronunciamento de um líder da Oposição cumprindo o seu papel, mas pensado para criar «mal-entendidos» inevitáveis porque sabiam que seriam ignorados pelos grandes órgãos de comunicação, com destaque para os públicos. Quando o não deviam. Por isso o pronunciamento de RP de Andrade se calhar foi causado pela ignorância do tom cordato de Samakuva – aliás sua marca – que ele teria tido em conta se a RNA, TPA e Jornal de Angola tivessem o bom hábito de cobrir os pronunciamentos do líder do maior partido da Oposição. Dali que essa de Samakuva dizer na nossa cara que «a Despertar não tem nada a ver com a UNITA» ficou a cheirar a grande esturro. Existem cabeças pensantes nesse país, Senhor Presidente da UNITA, portanto faça o favor de não considerar-nos lorpas!

 

Foi assim que, graças ao «empurrão» da Rádio Despertar, o Secretário para a Informação do MPLA, avançou para o que à partida considerava um exercício normal de matreirice política… e viu sair-lhe o tiro pela culatra! Assustou a Nação, irritou os «opinion makers» e deixou numa mudez estupefacta – para não dizer desorientada – as vozes que habitualmente se levantam para a defesa da honra do velho glorioso. Samakuva e a sua UNITA devem estar a esfregar as mãos de contente. O que não acontece todos os dias…

 

Facto Mediático nº. 3: Na sua análise deste facto a media angolana – a privada, porque a pública ignora olimpicamente esta nuance jornalística – partiu para a condenação unânime do MPLA, do seu BP e do Secretário para a Informação desse partido. Tudo se disse, até que estava a ressuscitar os fantasmas da guerra. Vicente Pinto de Andrade, candidato às presidenciais e tio do Rui Falcão – numa análise que não percebi se de analista ou de activista – foi ao extremo de apodar este de «mensageiro da desgraça».


Creio que foi uma reacção a quente que sofreu muito do facto que o ambiente político andou muito tempo numa modorra quase total – facto que aliás nós da Imprensa criticámos incansavelmente – ao ponto que perdemos todos o hábito de encarar os «aquecimentos» que na volta e meia «esquentam» o debate político. Porque vistas as coisas com frieza, nem a Rádio Despertar foi o Diabo que a pintaram, nem Samakuva andou a «incitar à desobediência civil» nem Rui Falcão foi mensageiro de desgraças. O que eles foram, foi actores de uma cena política absolutamente normal em processos democráticos. Os actores políticos muitas vezes lembram os lutadores de kickboxing: vão rodando pelo ringue, tocando-se ao de leve, quase acariciando-se e, de repente explodem numa saraivada de socos e pontapés antes de voltarem ao minuete, um à roda do outro para gáudio da assistência. Alguém vai dizer aqui que não valeu o «bilo»? Que não bateu café? Fingidos…!


Assim como assim, permito-me concluir que desta vez estão de parabéns o MPLA e a UNITA – esta com a «sua» Despertar – por terem proporcionado ao país uma boa ocasião para o povo aferir da sua justiça com que linhas se cosem os seus «políticos».