Luanda - Em relação à matéria publicada no único diário do país, há escassos dias, sob o título “Maior partido da oposição incita à desobediência civil”, referente às declarações do secretário para informação do MPLA, Rui Falcão numa conferência de imprensa, realizada em Luanda. Gostaria de tecer as seguintes considerações.
 

*José Fragoso
Fonte: Club-k.net
 

O combate em defesa da memória do 27 de Maio, decerto partilhado por milhares de vozes em surdina, não é senão um combate pela verdade, pela libertação das consciências amarradas muitas das vezes à cores partidárias e pelos direitos humanos, contra qualquer manifestações que visam manter o homem angolano, sobretudo, os autóctones na sombra do medo.

 


As pessoas que ainda pensam que este povo não sente e nem vê, estão distante deste povo. Pois, o seu clamor ecoa por todo território nacional. As pessoas que assim pensam pretendem na sua estratégia perpectuar a dominação e o extermínio gradual do homem angolano. A incitação à desobediência civil, num país democrático e de direito, se obstina em fazer crer a comunidade nacional e internacional que os únicos que querem a paz e a reconciliação entre angolanos é o MPLA e os demais pretendem atingir o poder para servirem seus interesses, que serve, de facto, de arma de arremesso, para os que utilizam estes termos, pensando que este povo continua adormecido, e sem perspectivas.

 


Será que este povo, se um dia se libertar do medo e realizar uma manifestação espontânea para libertar-se das algemas pós-independência, num exercício consagrado na nossa constituição, chamar-se-á esta atitude de incitação a desobediência ou exercício de cidadania?

 

É preciso respeitar este povo, porque ganhou maturidade jamais vista. Dizer ao povo que vamos construir um milhão de casas e mais tarde assistir a sua casa a ser demolida, sem prévio aviso e ficar ao relento e como consequência reivindicar e/ou se manifestar publicamente, chama-se a isso, incitação à desobediência civil?

 

Se o povo desempregado e, sobretudo aqueles que serviram os dois exércitos numa guerra fractricida entre irmãos reivindicarem os mais de um milhão de empregos prometidos aquando da campanha, é exercício de direito ou incitação à desobediência civil?

 

Meus senhores, com advento do sistema político-multipartidário no nosso país, os termos desobediência civil, agitação e outros termos do dicionário comunista, já não tem valor de uso. A não ser que se pretende voltar ao sistema político monopartidário das décadas 70 e 80, de triste memória, onde a lei da força e não a força da lei imperava.
 


Os que pretendem denegrir, a qualquer preço a imagem do senhor Presidente da República são os bajuladores que ferem os estatutos e programa de governação do MPLA, que visa essencialmente o bem-estar dos angolanos sem discriminação e, não aqueles que chamam atenção ao senhor Presidente dizendo-lhe que está mal rodeado e é preciso com urgência extirpar todos aqueles que fazem política para o benefício pessoal.

 

Por isso, é oportuno que o Presidente da República, inicie a marcha, aplicando com rigor a Lei de probidade e a tolerância zero, de modo a implementar o programa de governação apresentado ao povo angolano, que volvidos dois anos, não se vislumbra as melhorias então prometidas.

 

O senhor Presidente, para implementar o binômio (probidade e tolerância zero), precisa de pessoas que o aponte soluções, e não pessoas que lhe dizem que está tudo bem, que o povo está satisfeito com o seu empenho.

 

Os que assim agem – e não são poucos –, mancham, de facto, a sua imagem e, por conseguinte devem ser identificados e extirpados, para o país se ver livre da bajulação e da corrupção que é – sem dúvidas –, a gangrena que urge amputar, de modos a repôr os valores morais, cívicos e éticos deixados pelos nossos ancestrais que daria outra imagem e credibilidade ao PR que anda a ser enganado por pessoas a quem depositou confiança.

 

O bom militante é aquele que chama ao seu superior hierárquico sobre um eventual erro, ou ainda, aquele que luta para ver o programa concebido e defendido pelo seu partido seja de facto implementado. E não aquele que finge estar a trabalhar em prol do povo e do seu partido!

 

Vamos colocar um basta à bajulação, a arrogância, ao fanatismo cego e exigirmos aos governantes maior empenho e governação transparente! Um basta à corrupção, um basta à discriminação social, económica e política. E começarmos de facto com progresso social que traga de facto a unidade e reconciliação que da teoria não passa.

 

Pois, já se falou tanto, mas as vozes dos que pensam que este povo deve seres tratado como selvagem falam mais alto, porque são eles que têm acesso aos órgãos de comunicação social sem contraditório, mantendo assim o povo desinformado.

 

Força senhor Presidente. Avante a Lei de Probidade e Tolerância zero. Pois, são os únicos desideratos capazes de trazerem ao povo uma nova vida cheia de prosperidade.


Hoje, os angolanos querem homens que constroem a unidade e a reconciliação, porque as guerras havidas apenas atingiram aos angolanos propriamente ditos e, os que advogam o regresso do sistema monopartidário têm os dias contados e jamais encontrarão adesão.


O povo ainda tem memória das consequências resultantes do holocausto verificado pós 27 de Maio de 1977, que dizimou cerca de 80 mil angolanos. E os incompetentes quando assumem cargos de relevo, vêm fantasmas por todo lado. Para manter os seus cargos procuram – a todo preço –, atropelar tudo e todos, mas desta vez, o povo está sob alerta. Basta a manipulação e intimidação, porque Angola é de todos.


Ainda assim, gostaria de acrescentar o seguinte: dirigir uma organização de escuteiro – composta por crianças e adolescentes –  é uma coisa, e outra, é falar para o público em geral, farto de mentiras, intrigas e bajulação...

 

Ao presidente do MPLA deixo um recado: Homens que agem como o senhor Rui Falcão pretendem – implicitamente –  empurrar-lhe num beco sem saída. Porque os melhores companheiros e amigos são aqueles que nos alertam quando estamos a cair no abismo. E homens desta fibra são raros no seu seio. Por isso, urge tomar medidas conducentes a extirpar está casta com apetência nos cargos, desprezando o sofrimento do povo que dizem defender!...


Ao Rui Falcão, pergunte ao Kwata Kawana o que lhe aconteceu para estar acantonado num ministério inexistente.

 
*Activista cívico e PCA da Fundação 27 de Maio