Luanda - Aprendi o ABC académico entre as escolas do Bungu, textang II e o colégio da Boa vista em Luanda. Sentei sobre as pedras ou num tronco partido enquanto meu professor escrevia sobre uma parede preta. Deslocava-me de 2ªfeira á 6ªfeira a pé e descalço, os momentos mais duros eram o sol das 12h e o chão inferno. Ensinou-me de A á Z.


Fonte: Club-k.net

 

Já tinha idade escolar e como uma criança esperta, descobri que vivia apenas com minha mãe e uma irmã, cinco anos mais velha do que eu. Indagava-lhes varias vezes onde está o meu pai. Elas sorriam e olhavam para mim e no tom suave, respondiam “o pai está na Cuba”. Sempre acreditei nas palavras de minha mãe, lembro-me que quando brincava com meus amigos, diziam-lhes que o meu querido pai está na Cuba. Essa era a verdade verdadeira.

 

Quando me tornei mais adulto, a minha mãe disse-me que o meu pai afinal não estava na Cuba, encontrava-se em Benguela. A minha curiosidade aumentava a cada dia, foi então que aos meus trezes anos, parti para a terra de ombaka cuja finalidade era ver ao vivo e a cores aquele que me trouxe no mundo. (Senão jamais eu escreveria isso). Não o encontramos e esperamos (eu e a minha irmã) a tarde toda e quando venho apresentaram-me. Este é o seu pai. Confesso que senti algo inexplicável (só quem já viveu sabe). Recebeu-me sem hesitações. Hoje, perguntou-me, se o meu pai desse uma entrevista e dissesse que não sou seu filho? Se o meu pai não fosse o meu pai?


 
Na “noite sagrada” recebi um telefonema de alguém que eu de manhã contara que uma senhora de 46 anos, diz ser filha do camarada presidente. Soou a voz “O camarada presidente está a negar a senhora. Fiquei atento e “testemunhei ao vivo o facto”. Não faço um julgamento público sobre o acontecimento”. Quem sou eu? Como me disse um amigo, isto não é para ti?
Se eu que vivi treze anos sem conhecer o meu pai, senti na carne e no osso a dor desse amor... O quão triste é! Sei que existem pessoas que vivem assim a mais anos. Não é nada fácil. È um sentimento terrivel …vocês não imaginem a força das palavras vindas de uma mãe a dizer-nos que “ meu filho seu pai é o fulano”. Qual é o filho que duvidaria? Quando o meu pai não é meu pai?…

 

Esta polémica foi conversa de bar, táxi, universidade, becos e esquinas…na verdade quantos casos anda por aí? Já achamos meramente normais? Vários” peritos e analistas de tudo”, saíram á rua com uma corrente de solidariedade, o que é verdadeiramente normal. Quem são acusados de fuga a paternidade? Ricos ou pobres? Os que cantam a fuga paternidade, estão mudos? .Um advogado da “praça local”, disse é preciso o teste de ADN…”Boa ideia a maioria aplaudiu eu também. Só que outra reflexão apoderou-se de mim, onde faze-lo? Se muitas vezes” os hospitais estão mais próximo do cemitério”.

 

 Meus manos, procurar o pai é uma obsessão que arrasta qualquer filho, que perturba e deixa o coração, as vezes dá a sensação que ele está próximo de nós e a vontade de abraça-lo é tanta que não medimos. Vivemos horas inquietas e esperançosas que um dia aparecerá. Por isso aos supostos pais nunca neguem frontalidade sejam mais ponderosos nos seus argumentos/esclarecimentos. Como nos sentiríamos se os nossos pais não fossem nossos pais? 


A consagração constitucional diz que a família é o núcleo fundamental do Estado. Os filhos são iguais perante a lei, sendo proibida a sua discriminação e a utilização de qualquer designação discriminatória relativa á filiação. Art.º 35. Nºs 1, 4 e 5 da C.R.A.O Estado está preocupado com o futuro? Quais os meios que usa? O meu colega de carteira, irrita-se com a prestação de alimentos, para ele não suficiente. É necessário a presença dos pais na educação dos filhos. Pergunta ele, onde ficam o afecto, o acarinha e o amor?

 

Essas mães são “mais que generais”, as batalhas da vida que enfrentam e o espírito de victoria que as dominam e as alegrias que alcançam, merecem respeito e um tratamento especial. Desde o amor ao pão. Por favor, não se sentam desmotivados continuem a procurar o pai. Ainda bem que o meu falecido pai não deu uma entrevista…não sei como me sentiria…. (papoite apesar da viagem longa que percorres, um dia estaremos juntos, perdoo-me).


D.S.Chipilica Eduardo em Benguela.