Luanda - Para esta edição do espaço literário do Semanário Angolense, fomos ao encontro dos argumentos de razão do professor Petelo Nginamau Fidel, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da decana Universidade Agostinho Neto, para abordarmos alguns aspectos da nossa literatura, aquele académicos é defensor da angolanidade literária, da escrita da nossas literatura em línguas nacionais , valoriza profundamente o trabalhos desenvolvido pelo lendário escritor de feliz memoria Óscar Ribas, do papel que a Faculdade de Letras deve desempenhar e das editoras em Angola.      


Fonte: SA   


S.A- Professor Petelo, enquanto académico como é que descreveria as principais etapas da historia da literatura angolana?

 P.F- Bom! De uma maneira geral podemos dizer que existem duas etapas principais, que são os períodos do pré- Independência e do pós- Independência, são as duas etapas globais que caracterizam a evolução histórica da literatura, desta literatura.

 

S.A- Como é que descreveria cada uma destas etapas professor?

 PF- No período do pré - Independência houve uma literatura que teve o seu início há muito tempo, ou seja há muitas décadas atrás, havia alguns escritores que podem ser considerados como angolanos, mas que eram de origem portuguesa, pelo que houve várias tendências, e a literatura colonial tal como aconteceu noutros países cuja colonização foi europeia nomeadamente aqui em África, para além disso, houve um certo desenvolvimento da imprensa livre, até a fase em que a mesma foi submetida a alguma censura. Depois, houve um período um pouco anterior à  Independência, surgiu uma grande literatura nacionalista, que serviu de contribuição para luta de libertação. Depois da independência, surgiram outras tendências um pouco mais variadas: Seria difícil caracterizar de forma mais uniformizada este período que ainda continua a vigorar.

 

S.A- Em termos de orientação de leitura, professor, quais são os escritores que se recomenda, ou seja, quais os escritores que despontaram nas duas etapas descritas por si?

 PF- Bem! Eu posso fornecer-lhe alguns nomes, como do grande poeta António Agostinho Neto,  com a sua poesia de forma muito engajada na luta cultural, luta esta que o levou à ascensão  política; e esta poesia foi reflexo de certa maneira daquilo que foi a visão da Negritude nalgumas décadas anteriores, cujo projecto era a reivindicação cultural, para consciencializar o africano para poder libertá-lo do jugo colonial europeu. Então temos, a Sagrada Esperança com Agostinho Neto,  temos escritores como Luandino Viera, que muito escreveu, só para recordar uma obra como A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, que quanto a mim, constitui um verdadeiro clássico da literatura  africana escrita em língua portuguesa, existem ainda outros nomes como do Uanhenga Xitu que, em meu entender, tem alguma tendência na sua escrita que é a da valorização do património nacional africano, algo que não é muito frequente entre os escritores, nas obras como  Manana, o Discurso do Mestre Tamoda, O Ministro, que é uma obra mais ou menos política, em que interpela a nação recém chegada à Independência para que se possa reajustar os tiros, para  que se  possa fazer uma melhor gestão e planeamento do país.

 

Temos o grande Pepetela, com a obra do tipo Negritude militante ou política, com o Mayombe, onde se nota a preocupação para luta pela libertação do povo angolano do jugo colonial português; ainda sobre este autor há uma que quanto a mim é muito importante, que é A Geração da Utopia, onde se pode ver de forma global, que houve uma altura em que uma certa elite político- cultural teve um ideal que perspectivava para o país, e com o andar do tempo, nem sempre este ideal foi possível atingir-se, pelo que ele como escritor lamenta a não realização da utopia que foi da geração daqueles militantes. Confirma-se aquela perspectiva de crítica construtiva da gestão da sociedade, da coisa pública (“Res publica”), nos seus dois últimos romances escritos nestes anos: Uma crítica cada vez mais aberta, mais estreita, digamos,  das duras realidades da nossa vivência e convivência, a partir da gestão sócio -política do país.

 

S.A- Quando está na sala de aulas,  perante aos alunos, como é que tem descrito  à literatura angolana?

 P.F- Na verdade, eu não falo com frequência desta literatura angolana, pelo facto de eu não ser  professor de literatura angolana: Os alunos dos cursos de Letras têm uma cadeira no segundo ano, que é precisamente de literatura angolana. Mas eu posso dizer que actualmente, e depois de observar o que temos, gostaria que esta literatura se preocupasse de alguns aspectos. 


- O primeiro aspecto linguístico:Nós temos como nos outros países antigamente colonizados pelos europeus  uma literatura que é a mais conhecida, uma literatura angolana escrita na língua dos colonizadores, para o caso de Angola em português. Seria bom que houvesse também o desenvolvimento de uma literatura escrita em línguas nacionais, que para mim seria uma literatura realmente africana, quer dizer a literatura inglesa está escrita em inglês, pode estar traduzida, mas está escrita em inglês, a literatura russa está escrita em russo, a chinesa a mesma coisa, a italiana está escrita em italiano...! Então, a literatura angolana deveria estar escrita em Línguas nacionais, Kimbundu, Umbundu, Kikongo,  Ciokwe, etc, etc. O que é certo é que existe pouca produção nestas  línguas, geralmente desconhecida. A produção literária em língua nacional deve ser valorizada e incentivada. Na verdade, este aspecto já foi salientado várias vezes: de um Senghor, por exemplo, que teve aquela fama toda, foi dito que na verdade não trabalhou para glorificar a literatura senegalesa, de maneira particular ou africana de forma geral, mas fé- lo  de formas a glorificar a literatura francesa. A mesma coisa aconteceu com o Chinua Achebe, por exemplo, na produção da literatura de língua inglesa. Então, em resumo, deve-se valorizar a literatura nacional numa inspiração angolana, mas sempre valorizando as línguas angolanas, quer dizer as nacionais de Angola.
  


-O segundo aspecto: Seria muito bom que ao lado desta literatura escrita em línguas africanas, ou seja  em línguas angolanas, houvesse também o desenvolvimento da literatura oral, um trabalho  que teve  impulso na pessoa de Óscar Ribas, que se destacou de maneira particular, exemplar e dignificante.  Pois, foi a partir dele com o seu contributo, apesar das dificuldades de vária ordem, desde o trabalho e saúde, mas contínuo com a sua fé e convicção, para fazer grandes coisas. Então, é preciso que os homens de letras, os africanistas e outros continuem este esforço de levar ao público as literaturas orais. Assim, pode-se recolher os dados a partir da própria tradição oral, e estes dados poderão ser transcritos  beneficiando de um suporte escrito com a tradução por exemplo em português e outras línguas europeias e também africanas; poderá também haver traduções nas línguas mais conhecidas,  ou seja as mais faladas no mundo.

 

Um outro aspecto que eu queria levantar: gostaria mesmo que a nossa sociedade fizesse um esforço particular neste sentido, pois é uma literatura mais ou menos marginal, trata-se da literatura infantil que já surgiu no nosso país há poucas décadas, e até hoje temos poucos escritores, como a Cremilda de Lima, Kanguimbo Ananás, Yola de Castro, John Bella, etc, etc. E devia haver mais escritores,  para poder veicular muitos valores a serem incutidos nas crianças, que vão ser os futuros adultos do país, e até mesmo os adultos podem absorver alguns destes valores, como os que dizem respeito à promoção cultural, à promoção da saúde, à reconstrução, respeito, paz e harmonia entre os habitantes, aspectos que eu particularmente já vi nos textos destes autores. Seria bom que o ensino primário e secundário pudessem divulgar e aproveitar este tipo de conhecimentos para os nossos alunos e porque não os próprios adultos, e até mesmo a nível das Universidades.

 

S.A- Professor, apesar destas observações relativamente ao facto de a nossa literatura, deva ser escrita em língua nacional, tem alguma repulsa em aceitar que o português considerado  língua  nacional? Por outro lado que papel o português falado em Angola pode desempenhar no universo da língua portuguesa?

 P.F- Sim, no que diz respeito à nacionalidade da língua portuguesa, começa-se a considerar a língua portuguesa como língua de Angola, mas eu pessoalmente digo que pode ser como um acidente histórico, mas do ponto de vista puramente geográfico, cultural e linguístico, a língua portuguesa é língua de Portugal, assim como Ciokwe ou Nganguela são línguas de Angola, estas línguas podem um dia estenderem-se e até serem faladas noutros países, não será por isso que poderão vir a ser línguas nacionais destes países. Então, para mim o português é mesmo língua de Portugal, que foi adoptada como consequência do acidente histórico da colonização que nós africanos sofremos, mas é uma língua de que aproveitamos pelo facto de termos sido colonizados por Portugal, e temos alguns ganhos com isto, mas não é por isso que temos que esquecer as nossa línguas. Quanto aos possíveis ganhos do português de Angola, é verdade que a língua portuguesa, assim como as outras a língua francesa ou a língua inglesa, por serem muito faladas, têm sempre as suas variedades, pois, nunca as línguas são faladas da mesma maneira e de forma homogénea por todos seus falantes em toda extensão geográfica onde são faladas as línguas. Portanto há sempre variedades, mas as línguas não deixam de ser as mesmas. Por isso, no que diz respeito ao português falado em Portugal, no Brasil, em Moçambique, Cabo Verde, São Tomé, Timor Leste ou em Angola, cada comunidade geográfica  e cultural tem as  suas características e especificidades, do ponto de vista social e cultural, cada comunidade como eu dizia vai poder desenvolver ao longo dos tempos alguns reflexos culturais e linguísticos que podem fazer com que se crie uma língua particular, apesar de ser sempre o português,  e assim ao longo do tempo a nossa literatura mesmo escrita em português terá a sua especificidade e originalidade. Isto é possível e já foi notado nas outras línguas europeias como a francesa, e a inglesa, com alguns escritores africanos, que trabalharam ou manipularam a língua europeia , adaptando a língua europeia para dizerem coisas africanas numa estrutura tipicamente africana: é uma possibilidade  que cabe naturalmente aos linguistas, aos escritores com talento, para fazer este trabalho de forma estética.

 

S.A- Professor, enquanto especialista no domínio da literatura, pode-se falar de angolanidade na nossa literatura?

 P.F- Sim quer dizer, pode ser um tema, eu entendo por este conceito de angolanidade , tudo aquilo que caracteriza o homem angolano, a partir da sua cultura, que é uma cultura que se  vive de forma específica e que se cria dentro do espaço geográfico em que se move o angolano, com  todos  seus aspectos positivos e negativos, nomeadamente a questão da língua, da mentalidade, das situações  sociais, políticas, a questão da imprensa como a liberdade ou não liberdade, tudo isto  pode constituir um todo, ou seja um conjunto de características próprias que podem definir ou  caracterizar de forma particular o cidadão angolano, e assim, este pode ser um tema, mas nem sempre todos os escritores têm consciência deste aspecto, uns podem abordar este aspecto de forma explícita, consciente, e ou de forma mais inconsciente, por exemplo livros como  Wanga, ( Feitiço) de Óscar Ribas, como o Manana de Uanhenga Xitu, ou ainda Os Discursos do Mestre Tamoda, O Desejo da Kianda do Pepetela, os próprios livros do Luandino Viera, podem entrar  na tentativa  de se organizar uma certa temática da angolanidade,na nossa literatura, mas esta angolanidade deve ser fortalecida não só em termos de vivência ou convivência, mas também em termos de exploração estilística ou temática por parte dos escritores, nas suas obras.

 

S.A- Qual foi o papel desempenhado por Óscar Ribas neste domínio?

P.F- Ele jogou um papel por um lado científico, por outro lado puramente literário. O lado científico foi o lado do pesquisador, que desempenhou um papel muito importante na área da etnologia,  da etnografia, da recolha das nossas tradições, na transcrição de algumas colectâneas: é o caso do Missosso  que neste aspecto foi uma mais valia para nossa literatura. Ele foi um dos grandes investigadores neste domínio, depois de nomes como do suiço Heli Chatelain, ele foi um dos elementos fundamentais na recolha e entendimento de uma parte importante da nossa literatura oral que é sem dúvidas um património herdado dos nossos ancestrais. Do ponto de vista puramente literário, ele foi um escritor que depois das suas recolhas, pode fazer a transcrição, facto que faz com que deixe de ser um mero pesquisador e passa a ser escritor, ainda assim ele traz -nos  outras propostas com a literatura de imaginação como é o caso do  WANGA . Portanto ele desempenhou um duplo papel, por um lado de investigador numa área tão sensível como a tradição oral, algo que a mim particularmente era admirável, porque uma pessoa como ele que nasceu em Portugal, e que se tornou angolano pela vivência e convicções, tornou-se  mesmo Africano , facto que do meu ponto de vista deve ser salientado. Pois , poucas pessoas fizeram ou fazem  aquilo que ele fez.  Por outro lado, temos a literatura de pura imaginação,  como romancista , com obras que manifestam, fortalecem e salientam a africanidade. Assim,  no que diz respeito a Angola, podemos dizer que há uma certa angolanidade daquilo que é a vivência cultural nas crenças dos angolanos.

 

S.A- Que papel a Universidade pode jogar na qualidade da nossa literatura?

 P.F- Bom! A Universidade de uma maneira geral e o departamento de Letras  da Faculdade de Letras e Ciências Sociais de maneira particular, podem jogar um duplo papel: primeiro  aprofundar os conhecimentos e pesquisa, e com as pesquisas pode-se ir recolhendo e aperfeiçoando conhecimentos    da literatura  angolana: em segundo lugar a nível   das disciplinas que dizem respeito à própria literatura, como por exemplo a estilística,  análise de obras, análise textual, teoria da literatura, crítica literária e introdução ao estudos literários. Deve-se acompanhar mais de perto os conhecimentos que os nossos estudantes vão adquirindo na área da literatura , e assim poder encorajá-los para produção literária. Claro que para produzir literatura, não é necessário ter estudado matérias ligadas ao estudo literário: tem a ver com o talento, que pode ser depois fortalecido em função dos conhecimentos adquiridos, mas primeiro tem a ver com o talento. Portanto a Faculdade e de uma maneira particular o departamento de Letras, podem participar deste projecto a partir das matérias específicas da literatura que o  plano curricular contem. Nós temos  a disciplina de crítica literária que é pouco exercida no nosso país, e os nossos estudantes podem fazer este exercício para desenvolverem  esta área da ciência literária , para que com o passar do tempo possam então especializar-se e terem mais conhecimentos e experiência para se difundir muito mais a crítica literária e através dela o conhecimento e apreciação da nossa literatura.

 

S.A- Professor nas décadas de 70, 80 e 90, a União dos Escritores Angolanos, jogou um papel preponderante na produção literária em Angola, a com própria Brigada Jovem de Literatura Angolana, também teve o seu espaço, hoje parece que o quadro mudou, apesar do surgimento de outros actores no mercado,  mas a produção literária nem por isso tem a quantidade e qualidade  que havia nas décadas acima citadas, que apreciação faz deste fenómeno?

 P.F- Eu, dificilmente posso fazer  um comentário  convincente sobre esta questão,  porque apesar de conhecer um bocadinho a União dos Escritores Angolanos, não  acompanho  muito de perto as suas actividades. Portanto, o que posso dizer em relação à sua actividade como editora, espero que ela possa crescer cada vez mais,  também é importante que  os próprios escritores produzam mais matéria literária, é preciso que haja mais escritores. E para que eles possam produzir obras de qualidade têm que trabalhar muito,  pois não é  fácil ser -se escritor, para produzir-se obras de qualidade é preciso que se trabalhe muito: por conseguinte, não se deve ter pressa, quando escritores produzirem obras de qualidade. Então haverá mais obras com mais qualidade; a própria União terá mais possibilidades de  publicar algumas dessas obras. Mas a União, enquanto editora e produtora, deve encarar a possibilidade de publicar obras de autores Angolanos que escrevem em línguas nacionais, mas como disse, a União  não pode publicar obras que não existam, é preciso que haja pessoas que conheçam profundamente estas línguas e que tenham talento para escrita para poderem escrever e apresentarem os manuscritos a esta editora.

 

S.A – Mas, professor, mesmo no caso da escrita em línguas nacionais  é preciso que haja também uma crítica para que a gente saiba que a obra tem  qualidade, e não publicar por publicar, e este é sem dúvidas um dos barómetros eficientes para aferir a qualidade literária, que alternativas para amenizarmos o quadro actual?


P.F- É verdade que há pouca crítica literária em Angola, que pode fazer com que os produtores de literatura não aceitem, por exemplo alguma apreciação negativa, que viria por parte de alguns críticos literários. Portanto,é preciso que os escritores aceitem a liberdade do crítico em dizer aquilo que  com razão o autor pensa. Esta pode ser talvez uma forma de haver mas aceitação, mais tolerância e até possibilidade de se corrigir ou de escrever melhor; é preciso que os próprios escritores tenham consciência de que o trabalho de criação é muito exigente, e que eles próprios têm que melhorar o seu trabalho, têm que pensar na qualidade, devem mostrar com humildade os seus textos a pessoas que eles acham que têm capacidade de ler, dar opiniões, sugerir talvez algumas observações no sentido de melhorar os textos. Pode ser uma via para minimizar esta dificuldade. Portanto, o escritor deve aceitar a liberdade de opinião do crítico, porque o trabalho de criação é muito exigente e não se deve ter pressa, é aconselhável partilhar os textos com  outras pessoas de confiança, que estejam em altura de dar uma opinião mais ou menos válida antes da versão final ser  publicada.

 

S.A- Alguns especialistas literários de outras latitudes afirmam muitas vezes que a literatura Angolana é pujante, é cheia de força, e que ocupa um lugar de vanguarda no naipe das literaturas africanas que se expressam em português, que leitura é que faz destes comentários professor?

 P.F- Eu acho que é normal esta posição da nossa literatura, pelo facto de o país ocupar um lugar de destaque entre as ex- colónias ultramarinas, se assim se pode dizer, as então colónias de Portugal, uma posição também que se justifica pelo facto de haver um bom número que escritores, e da qualidade das suas obras, e hoje do ponto de vista extra- linguístico, e extra- literário também, tem um certo prestigio que o país vem adquirindo, ao longo destas décadas, que se seguem no pós- independências,  e esta influência e prestígio fazem com que a literatura também possa ter a sua parte de aproveitamento, do país e dos próprios escritores neste espaço geográfico e cultural.

 

S.A- Em 2005, foi criada uma comissão multi-disciplinar  que se encarregaria em trabalhar na historia da literatura angolana, cuja meta para entrega do primeiro draft, estava apresada para 2009, feitas as contas chegamos em 2009, e até já estamos em 2010, nem sequer de se fala disso, gostaríamos de colocar pelo menos duas questões: a primeira se faz parte desta comissão, e a segunda se pode nos dizer como é que esta comissão ainda e porque que não se editar cumprir com os prazos?

 PF- Bem ! Eu não faço parte da comissão como tal. Mas ouvi falar deste projecto, muito vagamente, só mês de Novembro de 2008: fui abordado pessoalmente pelo  falecido professor Jorge Macedo,  que me convidou a participar do mesmo, para dar uma contribuição neste sentido, e que teria de escrever um texto sobre  a evolução e inspiração da literatura infantil. Em Abril de 2009, haveria uma reunião de avaliação, mas não fui chamado para participar daquela reunião, apesar de eu já  ter  escrito o meu texto.


S.A- Para terminar gostaríamos que enquanto professor, nos deixasse um recado para aquele que pretendem navegar para o ofício da escrita e da crítica literária...

 P.F- Em primeiro lugar e no que diz respeito à literatura propriamente dita, eu gostaria que os estudantes tivessem mesmo gosto pela literatura, e para ter gosto pela literatura, a primeira coisa é mesmo ler: ler muito, ler quase que permanentemente, e ler bons livros, porque existem bons livros, na literatura da imaginação. Em segundo lugar, deve-se incentivar a leitura da literatura crítica, os ensaios críticos da literatura. O resto passa pela vontade do próprio estudante. Assim, conhecendo mais literatura, pode, se tiver talento, produzir ele próprio e nós já temos alguns exemplos de estudantes que estão a produzir, outros já produziram mesmo obras, facto que me deixa muito feliz. Em terceiro lugar, é que se uns fizeram literatura imaginária, outros farão a literatura crítica, que podem ser ensaios críticos, e mais uma vez digo que não há outro remédio se não procurar conhecimentos, ler a literatura apropriada neste sentido, ler muitos  críticos literários: a pessoa pode ter noções, mas  uma coisa é ter noções, e outra é praticar  este exercício que  é difícil, e só se pode fazer depois de ter tido contacto directo com os próprios ensaios dos teóricos e críticos da literatura. É um trabalho que não se faz num dia: é  preciso  ter -se paciência  e perseverança de leitura e anos de experiência e exercícios. Pode-se chegar a um bom nível para se iniciar com a prática da crítica literária, mas também  a prática do exercício puramente literário, ou da criação literária.


*Cláudio Fortuna