Benguela - A Independência Nacional e o Estado Democrático de Direito são conquistas do povo angolano. Desde os conhecidos aos anónimos cidadãos. Por isso preserva-los é uma obrigação de todos de forma positiva e respeitando o mais elementar dos direitos a “Santíssima liberdade de expressão e o sagrado contraditório”.


Fonte: Club-k.net


Quando frequentava a 7ªclasse, turma Q, na escola Juventude em Luta em Luanda, Adérito (já não sei o que é feito de ti), meu antigo colega contou-nos uma anedota, que sobre a qual me inspirei…Eis a diga.

 

Um cidadão que com o seu punho e suor ajudou a construção do Estado angolano, faleceu. Passando certo tempo ressurgiu e a sua curiosidade era enorme em saber o que teria acontecido depois da sua viagem ao além…


Passeava pela cidade deparou-se com crianças cheia de alegria, bem nutridas e muito felizes, perguntou ao jovem que estava ao lado de si: o que é isto? É um colégio privado. Então, estamos preocupados com a formação do homem novo. Privado? quem é o dono. É do camarada…

 

Passou pelo hospital público e observou muita gente agitada, choros e gritos, pessoas dormindo no chão, uma grande confusão e desordem como numa “praça qualquer” e seguia o seu” passo quando passou “, por uma clínica particular, carros luxuosos á porta. Atendimento personalizado, conseguiu espreitar, viu camas vazias e “amor-próprio” entre os pacientes e a equipa medica em serviço. Interrogou-se, porque essa diferença, se o direito a vida é igual? Quem é o dono? Responderam-no: Aqui a primeira condição é o dinheiro, “o paciente é cliente”, o dono desta clínica é o camarada…viu ao lado um prédio rústico (terreno) aparentemente abandonado e pensou aqui daria fazer um complexo escolar. Alguém ouviu e disse: mais velho, isto também é do camarada….
 

 
Continuava amavelmente a sua viagem ao interrogatório, admirado vê muitos autocarros de transportes públicos, questionou? No meu tempo só havia TCUL? De quem são esses autocarros? Ó tio, quando o governo decidiu “oferecer”, o Camarada… criou uma empresa de transporte e recebeu os meios. (só que muitos dos carros já pararam não se fazem manutenção e não aparecem acessórios no mercado. É engraçado…


 
De repente chegou á praia e observava muitas embarcações, muitas paradas e poucas a exercerem a” sua missão”, essas embarcações são também todas do camarada? …, Sim claro.
 


Já cansado, sentou-se sobre uma pedra e ao lado um jovem alegre. Sem que o “morto” o perguntasse começou por dizer:

 

Nós fomos a mundial de futebol na Alemanha em 2006,realizamos várias campeonatos africanos de futebol (temos um “Girabola Nacional”,), andebol (as manas não têm adversárias em África (temos um campeonato “luandense”) basquetebol (também não temos que nos aguenta neste continente (o campeonato só na “capital”). Projectos desportivos só na boca … Quem pensam nisso? Cota, temos estádios, pavilhões novos… tudo indica que o camarada é que vai gerir.

 

O canal 2 e a TPA internacional “doaram” aos jovens empreendedores e deram uma “ nova onda”, e tudo está tão bom! Ó Tio, o Estado Democrático e Direito que alcançamos têm sido “uma maravilha”, só que infelizmente ainda existem angolanos que não compreenderam, o pluralismo de expressão e a convivência na diferença. Pensam que todos nós gostamos e comemos” arroz com feijão”, eu prefiro” funji com peixe seco e rama”. Se no vosso tempo o medo era do colono, hoje o medo é do outro irmão que por um kwanza vende-se…Separaram-se…
As noites ouviam-se muito barulho no bairro e ele não percebia o que se passava, as lâmpadas acesas, música bem alta “a bela companheira” enquanto poucos dançavam, as meninas, jovens e senhoras assistiam novelas que depois das vitorias do desporto são as alegrias do povo. Descobriu que eram os geradores domésticos que davam o seu espectáculo. As barragens “guardam” a energia e a água…


 O antigo combatente ficou sem palavras e apanhou um AVC que o levou de novo ao descanso eterno e antes de partir segredou-me: “Não direi nada aos outros”.

 

A reflexão que aqui trago não causam dúvidas a todos que tem olhos e analisam os factos sem fanatismo nem pessimismo exorbitante. Todavia a minha “esperança do bom para o melhor”, jamais morrerá. Nem que tudo seja do camarada…


*D.S.Chipilica Eduardo em Benguela.