Luanda - Escrever sobre Agostinho Neto, é seguramente um trabalho difícil de se fazer, mas neste pequeno artigo quero prestar o meu contributo e, fazer vénia à este incontornável Estadista e uns dos lutadores incasável da liberdade do povo angolano e uma das vozes defensoras da independência total para África.


Fonte: Club-k.net


images/stories/Diaspora/agostinho%20neto%20belgica%20angola1.jpgEste é o meu contributo para o conhecimento de um fragmento da vida do kilamba Kyaxi, as proezas deste grande poeta, pensador, intelectual, revolucionário e estadista, que nos deixou um legado, de que vale a pena, sempre lutar pela liberdade e a verdade e, por aquilo em que se acredita. Mesmo que tenhamos de enfrentar o desdém, a ingratidão, o oportunismo, a arrogância e o poder fátuo de alguns senhores bajuladores por vendilhões do templo que não sabem, coitados, que todo o poder é efémero e que, por muito que transpirem nos gabinetes de controlo de imagem, publicidade e serviços correligionários serão sempre aguardeiros sem direito a um lugar na História do nosso País, eles e os seus tutores de ocasião (Manuel António in Libero p.3).



Há anos questionei-me, como se faz para arquitectar em palavras os anos maduros de um homem do tamanho de Agostinho Neto? Que negou viver na intimidação do sistema salazarista de colonização, como escreveu o jornalista Moutinho Pereira, há quem não tenha percebido que a herança de Neto não cabe só em Angola, pertence a todo mundo. Kilamba Kyaxi, era a voz dos explorados, dos oprimidos, dos humildes e dos ofendidos e, graças aos valores éticos que defendia, tornou-se numa voz universal, humanista total, sem complexos ou preconceitos, descolonizado antes mesmo de (a) descolonização acontecer, livre mesmo quando encarcerado, e vivo, mesmo morto, deixou-nos um legado imenso que o imortaliza e serve de ensinamento para as novas gerações, que é a sua vida e a sua obra, a sua Sagrada Esperança, presa inseparavelmente a sua Renúncia Impossível.



Agostinho Neto, representou a contemplação de Présence Africaine nas suas poesias, impressionou o mundo com seu grito de griot, buscou a voz forte de quem ofereceu o entender da luta de um povo engajada na trilha da Libertação. Os seus pronunciamentos tinham em mente as preocupações sociais e o transformismo em que se processou em Angola. Estes imperativos afirmavam, nem se podia desconhecer o contexto africano em que o homem era encarado de modo diferente, daquele a que nos habituaram os séculos de Esclavagismo e de colonialismo. Hoje o homem africano é um ser livre, ou a libertar-se do colonialismo e do imperialismo (Henriques L. Alves p.37). O Neto cantou na cadeia de Aljube-Lisboa em 1960, convidando os seus compatriotas aderirem aos ideais de libertação e de independência, gritando; “Impaciento-me nesta mornez histórica das esperas e de lentidão/Quando apressadamente são assassinados os justos/Quando as cadeias abarrotam de jovens/ espremidos até à morte contra o muro da violência. /Acabemos com essa mornez de palavras e de gestos e sorrisos escondidos atrás de capas de livros e o resignado gesto bíblico de oferecer a outra face.”


João Carneiro, citado por Henriques L. Alves in Voz Igual p.38, determinou a presença do Agostinho Neto, como africano e angolano, negro, (que) se ergueu em clamores de denúncia, poeta de combate e guerrilheiro libertador. Conhecedor profundo das teorias político-culturais de Franck Fanon e Leopold Senghor, como de Aime Césaire e Karl Marx ou Jean-Paul Sartre e Mao Tse-Tsung, configurando na originalidade uma postura determinante, que trouxe uma conciliação política na ideologia de uma trajectória bem consciente, onde Ele marca o anti-mito, do homem africano e negro em sua essencialidade.
É importante sublinhamos invergalmente a posição, de que, não se trata de “Endeusarmos” ou “Divinizarmos” a figura ou a imagem de Agostinho Neto, como o único salvador da Pátria, mas sim de reconhecer humildemente as qualidades deste (um dos) grande (s) protagonista da história-política d’Angola que formou em si mesmo e no meio dos estudantes ultramarinos, independentemente da cor da pele, arquitectou um bloco democrático, cimentado por suas esperanças, o qual funcionou quer, em termos académicos, quer em termos de convívio.



Agostinho Neto, veio para a política pela história, pelo coração e pela profissão. Por isso, naturalmente o fio condutor da sua vida foi a paixão pela liberdade, pelo homem, pelo sentimento. Era um poeta, mesmo quando não fazia poemas, nesta senda, era um homem de determinação inquebrantável, uma determinação que raiava a sua teimosia contra qualquer tipo de opressão e a sua voz, adepto acendrado da liberdade (Joaquim Chissano p.6 a 7).



O nacionalismo professado por este estadista, é um nacionalismo sem raça nem fronteiras. O nacionalismo abraçado por Eduardo Mondlane, Amílcar Cabral e Samora Machel inaugurou uma nova era política de libertação na África Austral, afirmando esta posição na sua obra renúncia impossível in “Com os olhos secos”. P.92 “Nós, voltamos a África/ estrelas de brilho irresistível/ com a palavra escrita nos olhos secos – LIBERDADE.”



Ainda o poeta e político grita, efervescentemente no seu poema “Depressa p.128” na probabilidade que determina a seta termodinâmica da razão humana, onde encontrou o seu conforto no velho testamento bíblico (A lei de Moisés); “Inicie-se a acção vigorosa máscula inteligente/ que responda dente por dente, olho por olho, homem por homem/ venham a acção vigorosa/ do exército popular pela libertação dos homens/ venham os furações romper esta passividade.”



O Agostinho Neto, representa um universo de homens. Falar de Neto é equivocamente falar de milhões de homens e mulheres que marcaram este País e, cabearam as suas vidas em pró de uma Angola independente, forte, unida na sua única razão de ser e despactuada de todo tipo de descriminação. Um dos exemplos concreto é a sua posição assumida, a que defendeu até o dia em que transcendeu para outra vida, “de Cabinda ao Cunene um só Povo uma só Nação.”



As conceituações levaram-me para caminhos de observações e, analisar este poeta, que tivera sempre diante de si o dilema entre o poder poético e o poder político. Kilamba Kyaxi sempre postulou esse binómio, focando aspirações de que “ todos nós, creio que concordamos em que o escritor se deve situar na sua época e exercer a sua função de formador de consciência, que seja agente activo de um aperfeiçoamento da humanidade” (Henriques L. Alves p.37).



Sem memória não há futuro, daí que antes da sua partida para Coimbra, em 1947, tenha já colaborado no Jornal Farolim, com os seus textos poéticos reivindicativos, pela condição desumana em que viviam os angolanos, com um pensamento revoltoso, nutrida com uma dose de nativismo, na faceta humanitária. Em Portugal, a sua perspectiva política, musculou-se à sua formação humanitária, religiosa colada numa concepção materialista dialéctica e histórica da humanidade, por via da versão Marxista contida no Pan-africanismo e no Marxismo-Leninismo absorvida na militância Anti-Fascista, o que lhe forneceu a teoria para compreender os fundamentos da dominação colonial-fascista.



No neo-realismo Neto, buscou, resgatando para a modernidade a herança do património ancestral das populações que constituem o mosaico sociocultural de Angola, pelo que o encontro com as posições teóricas e as práticas culturais negritudinistas ou indigenistas professado pelo Césaire e Guillén, constituiu em assunção o manifesto nos primórdios da década de 50. A sua vida, demonstra inequivocamente a sua posição anti-racista, anti-imperialista, nacionalista até a espinha dorsal e multiculturalista, empreendendo um processo de reafirmação da cultura angolana. Na militância cívica e política, em Portugal e, depois, em Luanda ou no desterro em Cabo-Verde, tornou-se num agente político e cultural consciente da urgência de viver com o povo angolano, manifestando a convicção de que este detinha uma riqueza cultural inspiradora de apropriação pelos intelectuais, de molde a enquadrá-la em aspirações modernas de uma nova ordem social e cultural (Pires Laranjeira p.75).



Agostinho Neto, percorreu, incansavelmente, o País de lés-a-lés, juntando sempre multidões que nele buscavam apoio para os seus destemidos problemas, orientações para a nova realidade que brotava, na demonstração de que ali estavam para dar de si o seu melhor (Maria do Carmo Medina p.94). O Agostinho Neto, era, é e, sempre será o camarada Presidente, amigo, compatriota e combatente, próximo do povo humilde, que apelava à luta e união de todos os angolanos, sem distinção de raças e de etnias, combatendo o regionalismo, o tribalismo e o racismo.



Na sua perspectiva visionária, Neto afirmava, a solidariedade de Angola com os povos oprimidos do mundo, em especial com os povos da Namíbia, Zimbabwe e da África do Sul. Esta posição que foi fortalecido com a presença de um povo militante (angolano), que desdobrou-se em mil e uma iniciativas.



O Agostinho Neto representa (a) gama daqueles políticos de punhos cerrados, determinados, convictos que foram obrigados a pegar em armas para lutarem pela liberdade, pela independência e pela dignidade de sermos chamados de novo homens. Mas também não podemos negar que o “Caso Fraccionismo 27 de Maio de 1977” sempre vai acompanhar a memória deste Gigante da política angolana, Dias sombrios com um abalo interno sofrido em 77, culminou com uma sangrenta e lamentável processo de “autofagia,” que o seu fim abrupto em 1979, pôs fim a uma vida única em que convergiram descargas múltiplas que transcendia a capacidade de resistência física e espiritual de um ser humano, a resistência de um guerrilheiro que lutou firmemente para um ideal, este ideal que se chama ANGOLA.