Brasil - Palavras ou discursos do mais alto mandatário são sempre esperados com um grau de expectativa, acima do normal. Afinal, aquele cargo, o de presidente da república, é o que define, direta ou indiretamente, os destinos das vidas de milhões de seres humanos. Depois de mais de trinta anos no poder, ligar o rádio ou o receptor de televisão para escutar o discurso do presidente de Angola, passou a ser um gesto de quem se dedica profissionalmente a fazer política de maneira profissional. Já lá se foram os tempos de Agostinho Neto, onde o discurso do mesmo, cada palavra, transformava-se em lema e teorema. Passaram os tempos, onde por necessidade espiritual, os discursos de  Agostinho Neto constituíam peças fundamentais a serem usadas na construção da alma de uma nação jovem que precisa de inspiração para nascer.


Fonte: WWW.blogdonelodecarvalho.blogspot.com

A  omissão  da corrupção?

JES pode não ser corrupto: Coisa impossível de se provar

Hoje quem faz discurso naquele cargo pode provocar várias sensações e manifestações: primeiro, a ilusão sempre falseada  de que as coisas vão bem; segundo, o cinismo  e a indiferença de quem vê as coisas a distância, onde esta distância não impede que tudo o que se enxergar seja real e bem compreendida, assim o orador é sempre posto em dúvida.   Sou sincero em dizer que está difícil acreditar no nosso presidente, mesmo quando ele parece ser um homem honesto, e com toda a  boa vontade para fazer as coisas.  Ele é e faz! E são os vícios do poder que não permitem que algo deva ser feito com maior grau de transparência. Trinta anos no poder não há simplicidade e humildade que resista a todos os meios de tentação que o mesmo oferece ( o poder). Convenhamos, o homem não é um mentiroso, mesmo quando o que diz para a nação não chega a ser  a maior das verdades. Afinal,  nós estamos aqui embaixo e soubemos que as coisas não funcionam assim: com a suposta melhoria e otimismo que o Presidente da República transmitiu a nação. O presidente depende de relatórios e dados estatísticos, sua visão sobre os fatos é por necessidade de sua posição, abrangente, generalista, ele não lida com fatos localizados que não têm conotação sociopolítica. 


Visto pelo cidadão comum, que não precisa de relatórios ministeriais, quase sempre ilusórios e enganosos,  o Estado da Nação não é aquele do ano de 2002. De lá para cá uma mudança vem afetando a vida de todo angolano: hoje se  trabalha, come-se, bebe-se, viaja-se  e faz- se amor para se fazer política, para se ver quem deve continuar nos dirigindo e traçando os destinos  do país. Antes, depois daquelas ações deveríamos estar preparados para morrermos ( ou matar) numa guerra civil entre compatriotas da mesma nação. E no que diz respeito a viajar, quem não quisesse morrer teria de sair do país. É nesse contexto que surgem alguns dados estatísticos. Temos quase certeza que hoje em Angola se morre menos que em 2002, se estuda mais, e já se sabe que em algumas localidades do país, se contrai menos paludismo e cólera. Mas do que uma obra de quem está no poder é obra de todos aqueles que optaram pela paz.
 

No discurso sobre o estado  da Nação não se pode esperar que a satisfação e o prazer de se ser angolano tenha como instrumento de medição a  visão de quem está na cadeira e cargo de chefe da nação, ou que este saia evocando em seu discurso a dor que aflige a cada um de nós. Este tem como limite, no uso dos seus instrumentos para percepção, o conjunto de valores e cálculos estatísticos, que alguém por dever e responsabilidade deve depositar em suas mãos. E para efeitos governamentais de controle das políticas públicas são esses dados que direta ou indiretamente influem no estado de satisfação de sermos ou não sermos cidadãos de uma determinada  região ou local.


Para todos nós, e até para o Samakuva, que pertence aquele grupo de pessoas que tanto atrapalharam o desenvolvimento do país, os logros alcançados nos últimos oito anos é sempre pouco. Mesmo porque hoje o que preocupa a nação inteira não é mais a guerra, mas a corrupção. Era isso que o presidente devia enfatizar. Omitiu no seu discurso a notícia verídica transformada em boato sempre por aqueles que estão no poder, e o boato como a notícia desarticuladora daquilo que o Estado procura realizar com honestidade e sinceridade,  por aqueles que tentam  desacreditar as instituições públicas. Tudo bem que presidente não é desfazedor de boatos, mas a corrupção não é um boato. E os acusados de corruptos também não constituem um boato até que não se prove o contrário. E uma maneira de provar não é dar o dito pelo não dito. Afinal, quem cala consente. Os acusadores podem ser gente de má fé, mas não estão aí para brincar, ou, simplesmente, para serem desacreditados fazendo-se uso do silêncio como instrumento.


E tem mais, Camarada Presidente   –quem lhe fala é alguém que há quase vinte anos vive numa democracia representativa e eleitoral de verdade-; assim quem decide o voto do cidadão não é só a verdade e a mentira difundida. Infelizmente, os boatos ajudam, e com maior certeza, a decidir o voto do cidadão. Na luta pela informação e desinformação, vindo de todas as partes, é preciso não zombar deles. É preciso destruí-los da menor maneira possível.   

Nossa sinceridade em cheque tem a  ver com este  substantivo: “ a corrupção”. O presidente foi evasivo diante este problema, quando se sabe que ele mesmo foi o impulsionador de uma suposta campanha com o nome de “Tolerância Zero” e  o seu maior objetivo era o combate a corrupção.


Quem quer que esteja no poder deve saber refletir em suas ações ou discursos os problemas fundamentais de sua época. Governar o país, ou ainda, fazer um discurso tão esperado por todos e omitir o problema fundamental do Estado  Angolano nessa fase da nossa história é um desrespeito às pessoas, ao próprio povo ou a juventude, que por inspiração e  força de não sei o quê sairá às ruas apoiar o discurso do camarada Presidente. Isso é uma piada!? Apoiar o quê? A  omissão  da corrupção? O fim do tolerância zero? que nunca começou, e que hoje, com certeza, o próprio presidente sentiria vergonha de mencionar novamente as duas palavras.


Nós os Angolanos nos habituamos tanto com o nosso estilo de vida, de péssimas qualidades morais, que tudo para nós se transforma em festa e bebedeira. Que eu saiba o último angolano que tenha feito um discurso de verdade que mereceu ser aplaudido, e que talvez merecesse apoio no final de tal pronunciamento e até passeata, foi Agostinho Neto,  e que não chegou a tanto assim. Nem ele mereceu tudo isso!


Em minha visão sobre o Estado da Nação, pós discurso presidencial, exagerou o rancoroso Samakuva  ao tratar o mesmo como um Presidente de passagem. De passagem? Ele está aí há mais de trinta anos, e pelo jeito nem daqui a dez anos ele sai daí, se depender dos participantes da passeata ele fica onde está por mais dez anos, não há voz nem grito que o tire de lá. Não há artifício democrático ou civilizado que o faça. Mesmo porque todos esses artifícios, um ou outro, estão a favor de quem está no poder. Ele está lá por consenso e sentimento democrático, sim! Quem diz? São os homens e mulheres (bêbados ou não, buscando uma razão para darem uma festa de fim de semana) da passeata, amigos, simpatizantes e militantes estão na ordem de 80% da população.


O que por outro lado -o oposto de Samakuva-  acho um exagero: uma passeata em apoio ao discursos do Camarada Presidente!? Acho que a JMPLA e os Comitês do Partido no poder em Luanda deveriam apreender a prestar serviços melhores à sociedade Angolana. Passeata?  O que falta em Angola não é apoio ao camarada presidente, é coragem para enfrentar a corrupção, a omissão diante do desmando da coisa pública. Não se sai perdendo se si combater a corrupção; não se destruirá o projeto de nação encabeçado pelo partido no poder se o objetivo é combater a corrupção; é preciso acabar com o preconceito de que quem se atreve a criticar os atos do presidente é inimigo do MPLA ou mesmo da nação; é preciso acabar com o habito de que para serrar fileiras diante do adversário político, ou mesmo o inimigo, precisamos omitir toda nossa podridão política no seio do partido  ou oferecer escudos a dirigentes políticos corruptos.


O presidente pode não ser corrupto. Coisa impossível de se provar. O contrário também se pode dizer. Mas ele já deu provas mais do que suficiente de que é omisso e indiferente diante da mesma. Espero que isso não sirva para motivo de condena, sentença ou algo condenável no Código Penal por quem assim pensa. E não são poucos que pensam assim, mesmo quando muitos deles precisam aparentar o que não são: fiéis servidores de um líder, em detrimento dos interesses de toda  uma Nação.