Luanda - Ilídio Amaral uma das mais respeitadas figuras da geografia em  Portugal nascido em Angola , onde frequentou o liceu Salvador Correia, é Membro da Associação dos ex- alunos do Salvador Correia, recorda neste entrevista o seu colégio de sempre, trabalhou num dos últimos planos Directores de Luanda no Tempo do Arquitecto Simões de Carvalho,  tem uma vasta produção cientifica sobre a geografia em África, Europa e como não podia deixar de ser Angola.


Fonte: SA


SA- Como é que avalia da gestão dos espaços em Angola?


IA- Olha! Angola é um país muito grande, que tem muitos espaços diferentes, caracterizados por factores naturais e humanos. Vou lhe dar um exemplo, eu como geógrafo fiz trabalhos de campo aqui em  Angola,  percorri regiões, desde às florestas de Cabinda, as áreas e dunas do Namibe. Desde as terras atlânticas semi -áridas, até as terras interiores de grande humidade e chuva. Logo, Angola tem não só uma grande variedade regional, como tem a possibilidade de escolher as regiões para tirar delas o melhor partido para a produção agrícola, animal e como não podia deixar de ser da produção mineral. Porque Angola é um país extremamente rico em produtos do subsolo, tem metais de vários tipos, como os diamantes não é? Bom! Angola não de pode falar num único espaço natural, mas Angola tal como as suas populações   é um mosaico de espaços naturais.

 

SA- Atendo o facto de hoje o mundo estar a ser cada vez mais urbanizado, professor que perigos é que esta voraz urbanização pode causar a nossa memoria colectiva?

IA- Por toda parte, nesta digamos que urbanização explosiva, isto é  está a efectuar o êxodo rural  intensivo, o que quer dizer,  como as Cidades importantes e aqui em  Angola também estão situadas no litoral,  o interior  começa à ficar sem centros importantes , e hoje para a organização Administrativa dos espaços, era necessário conseguir fixar a população do interior à volta de centros importantes da Administração e do desenvolvimento sustentável.

 

SA- Professor o facto de Luanda ter a particularidade de ter cerca de seis milhões de habitantes, e por  conseguinte, as restantes províncias terem um número muito insignificativo de habitantes,  que perigo é que esta presença acentuada de população pode causar no desequilíbrios ou assimetria  nas outras regiões do país?

 IA- A concentração em Luanda de praticamente,  grosso modo de ¼ da população de Angola, aumenta o desequilíbrio das densidades de distribuição da população. Por outro lado, uma Cidade como Luanda que pelo seu tamanho e pela sua massa populacional adquirida de uma maneira brusca , por motivos da guerra,  o êxodo rural, que  foi motivado pela guerra, as pessoas fugiram do  campo para virem para Cidade, é aquilo que eu chamo de  uma Cidade macrócefala, isto é com tendência para concentrar cada vez mais os poderes, seja o poder politico, económico, cultural ou do desenvolvimento cientifico em Luanda. Quase não deixando espaços para a Cidade longe da província, poderem ter um desenvolvimento equilibrado.

 

SA- Falando sobre a questão das cinturas verdes, este tem sido um dos grandes deficits de Luanda, que perigos é que esta pouca presença de cinturas verdes pode afectar o equilíbrio do ecossistema da província?  

IA- É importante, porque a existência de cinturas verdes, são aconselháveis para equilibrar os factores de poluição, não havendo verde, é claro que mais depressa se fazem sentir os efeitos da poluição, a poluição de várias maneiras, das indústrias, dos automóveis, da utilização de aparelhos domésticos etc. E é uma Cidade que se arrisca, a ter elevadas intensidades ou índices de poluição.

 

SA- Que diferenças encontra da Cidade de Luanda do seu tempo e a de hoje professor?

IA- Imensas, é uma Cidade que contando a parte urbanizada e a outra que não é, que é muito maior, exactamente uma a Cidade que cresceu desmesuradamente por falta de plano de urbanização que possa ter concretização no tempo real. Portanto, na minha opinião, é um  desafio  e porque acompanhar o crescimento desta população, deve-se justamente à falta de um plano de  urbanização, facto que faz com a  Cidade se torne  ingovernável.

 

SA- Uma das grandes reclamações dos urbanistas e técnicos de outras sensibilidades cientificas, é a falta de planos directores para Luanda, como é que se faria hoje os planos directores para uma Cidade como Luanda?

IA- Bom! Está ma pôr uma questão extremamente difícil, que só as autoridades competentes lhe poderão responder.

 

SA- Mais professor hoje na academia quando se analisam estas questões, fala-se da componente multidisciplinar...

IA- Exactamente! Exactamente, hoje é muito difícil que no caso de um plano director, que não inclua especialistas de vários domínios, não é apenas os Arquitectos e os Urbanistas,mas  repare que há problemas sociais da Cidade, ai são os Sociólogos, há problemas de economia da Cidade, a distribuição de diferenças económicas, os economistas, há problemas de conservação do património histórico,  é necessário que sejam pessoas entendidas nesta matéria. Portanto, efectivamente isto hoje  a tendência e  suponho que sempre foi útil, praticar a interdisplinariedade, neste caso concreto que me está a pôr, para um projecto de plano director.

 

SA- Falando em património de Luanda, à Cidade ainda continua a ter o simbolismo  do seu tempo professor,por outra, quais são os elementos simbólicos de Luanda que ainda tem guardado na sua memoria?

IA- Infelizmente dos meus tempos, e já lá vão praticamente 70 ou 80 anos, é evidente que haviam muitos elementos do património histórico que se tem perdido, Luanda hoje está coberta de construções modernas, de edifícios de muitos andares, até colocado numa planta de ruas estreitas, por altura dos edifícios, que significa congestionamento de pessoas que trabalham, porque o centro continua a ser o sinónimo de grande atracção de pessoas que vão para as suas actividades, sobretudo este problema que tenho notado de ano para ano, e não estou a dizer nada que não seja real, este terrível congestionamento de transito automóvel. A parte central da Cidade não foi preparada para receber tantos automóveis, e a parte de acessos a Luanda, está longe em condições de uma circulação relativamente rápida. Portanto, é o que se vê em todas as entradas de Luanda, são  congestionamentos de automóveis e dos transportes. Luanda continua a não ter transportes públicos, porque efectivamente os transportes não são públicos, são feitos pelas “com bis” azuis risos....! Bom...! Não são propriamente aquilo que seria necessário para uma Cidade grande como Luanda. Olhe! Desde os grandes autocarros talvez se pudesse circular mais livremente, inclusivamente, porque não as ligações ferroviárias? No meu tempo havia uma ligação por exemplo, entre o Bungo e a Cidade Alta, uma circulação ferroviária noutros sentidos, porque enfim! Luanda terá dificuldades em instalar, pelo menos não tão cedo poderá instalar um meio de transporte rápido que é o meio metropolitano, a questão da topografia, dos solos, a questão do preço elevado que custa um metropolitano, que permitiria escoar muito mais gente não é? Porque como sabe,   o metropolitano, é uma coisa subterrânea  não está submetida aos congestionamentos, é um problema que também na feitura de um Plano Director tem um papel importante.

 

SA- Já havia no tempo colonial, a tentativa de se fazer um Plano Director para Luanda,  o arquitecto  Vasco Viera da Costa, esteve a frente de um Plano Director, que informações é que o professor tem sobre as várias tentativas dos Planos Directores para Luanda?

IA- Informações actuais não tenho, agora do tempo colonial sim, fizeram-se vários planos directores, inclusivamente no último, de certo modo também participei como geógrafo.

 

SA- O plano em que o professor participou com geógrafo, foi em ano e quem foi o coordenador?

IA- Foi em finais dos anos 60, e foi coordenado pelo Arquitecto Simões de Carvalho, que era o Arquitecto Urbanista, da cidade de Luanda, e tinha um gabinete de Urbanismo, na Avenida Marginal,  onde se elaborou, a meu conhecimento, um plano de urbanização aplicável. Agora, antes deste  há sim, houve vários planos, e já que está a falar nisto, e porque falou-me em cinturas verdes nos anos talvez de 40, havia um plano muito bom de um senhor  chamado De Croer, que exactamente  pretendia que se criasse uma espécie de cidade jardim, isto é uma cintura verde, e zonas verdes no meio  da Cidade, justamente já naquela altura havia a preocupação do saneamento ambiental da Cidade.

 

SA- Professor, do Plano Director que participou, quais eram naquela época as grandes dificuldades que se debatiam?

IA Seria por ventura,  a de arrumação dos Musseques, isto é os Musseques já constituíam uma massa densa de habitações, muitas vezes de materiais não definitivos, não rígidos, uma construção  caótica , de ruelas sem asfaltos, sem tratamento, sem fornecimento de água, e de energia eléctrica etc. quer dizer, os Musseques já constituíam uma orla envolvente naquela altura, a Cidade do  asfalto. Portanto, quanto a mim já naquela altura, por exemplo quando eu escrevi o meu livro sobre Luanda, que já tem praticamente 50 anos, mas que continua a ser muito utilizado  e muito citado, e até tenho muitos colegas estrangeiros que me escrevem a pedir um exemplar do livro que está esgotadissimo a muito tempo. Este livro até foi premiado pela Câmara Municipal de Luanda,  onde eu já chamava atenção naquela altura, que talvez o grande problema seria como dar tratamento aos Musseques.

 

SA- Era preciso acautelar os outros interesses também...

IA- Há bom! Isto não sei, é claro que quando digo, arrumar outros Musseques,  não é apenas construir habitações, era instalar por exemplo escolas, melhor distribuição de postos de trabalhos , das indústrias, era,  abrir arruamentos, conhecer a população que já naquela altura não se conhecia muito bem, quer dizer que o êxodo rural era uma realidade, e já não se conhecia muito bem,  hoje ainda é pior, com esta acumulação explosiva por motivos que já indiquei, sobretudo da população  que fugiu dos campos por causa da guerra, porque sentiu mais segura na cidade, como é evidente. A  bocado quando falava do crescimento de Luanda que não tem equiparação com outras Cidade. Bom ! O problema que se põe, exactamente é este, é que acumula-se tudo em Luanda, e as outras províncias ficam um pouco desprotegidas, um pouco “desmonidas” de infraestruturas básicas de saúde.

 

SA- Quais são as recordações que o professor tem de Luanda de Ontem?

 IA- Era uma Cidade relativamente pequena, pacata, de uma sociedade que vivia perfeitamente, não digo que hoje não viva em paz. Mas diria que havia uma maior inclusão da população, as diferenças não eram tão grandes, hoje é evidente que há uma grande diferença entre aqueles que são ricos e aqueles que não são ricos.

 

SA- Em que zona da Cidade de Luanda vivia professor?

IA- Vivi nos Coqueiros, mesmo junto do campo de futebol, e na Ilha de Luanda.

 

SA- Os Coqueiros que no tempo colonial foi uma zona de convívio entre os escravos e os seus patrões ,que a posterior houve uma separação, dando azo ao crescimento da Cidade, não é professor?

IA- Sim! Isto no meu tempo já tinha desaparecido, não digo bem os coqueiros, mas a parte junto da Ilha, porque era ai que embarcava os Escravos. Portanto, era ai onde estariam os armazéns, mas no meu tempo não, era uma Cidade, onde viviam tanto a classe dita alta como a classe média, e até baixa, porque não se pode falar em Luanda, de segregação racial como a que se praticavam em algumas Cidades de certos países, não que não se pudesse pagar uma renda, quem pudesse comprar uma casa, fosse ele de escalão alto, fosse de escalão baixo, se fosse branco, mulato ou preto, vivia  na Cidade, era uma Cidade quanto a mim, comparada com a de hoje de um certo equilíbrio, eu diria até que Luanda na minha opinião, tem perdido exactamente o núcleo monumental. Ora bem! Como à Cidade nasceu da construção europeia, não podemos pensar no núcleo monumental pré- europeu, que existia, agora efectivamente a colonização europeia construiu Igrejas, construiu sobrados, construiu palácios, edificou uma serei de construções que em muitas cidades é o seu património histórico,  é bonito ir a muitos países que foram colónias, como  por exemplo, o Brasil,  foram colónias , os Estados do Rio de Janeiro, da Baía, do Recife, e ver que os núcleos históricos estão lá e  procura-se conservar os edifícios antigos, as Igrejas, os sobrados, os Palácios, as Fortalezas. Porque esta é a História da Cidade, a Cidade  de Luanda nasceu nesta altura, em 1575. Portanto, não é uma Cidade pré- século XVI, não havia, logo é uma pena porque os núcleos históricos têm uma importância extraordinária, até do ponto de vista turístico, o que atrai o turista, hoje ele gosta de conhecer a História de uma Cidade, não por aquilo que ouve, mas por aquilo que andando pelas ruas pode ver, aqui um edifício de tal tipo de arquitectura, ali um Museu etc. Bom! Quanto a mim, infelizmente acompanhei e tenho acompanhado durante estes anos mesmo não vivendo cá, mais venho frequentemente à Angola, passeio  por Luanda e não podia deixar de ser, porque é a minha terra não é? E ela desde a muitos anos e não é de agora! Diria Já nos anos 1940/50, começou a perder aquele património, os sobrados foram  deitados a baixo. Logo, muitos palácios que Luanda teve, foram deitados a baixo, e fica uma Cidade enfim, como está que existe hoje.
 


SA- Professor hoje quando olha para os Liceu Salvador Correia, que imagem lhe vem a memória do  Liceu do seu Tempo?

IA- O Liceu? Olha boa porque como fiz referência na minha Conferência de abertura,   eu tenho um pouco mais de 84 anos, e portanto entrei para o Salvador Correia, quando ainda não havia este edifício, entrei para o Salvador Correia que era um edifício que era uma espécie de  vivenda grande  que estava no terreno onde hoje construíram o grande palácio da justiça, onde fui aluno,  isto em 1931, e já no ano seguinte da minha entrada, aquele edifício estava super-lotado, e uma parte das turmas foi exactamente para um palácio que estava a seguir o palácio do Governo, que entretanto, já estava em decadência, e passamos para um pequeno edifício isto é algumas turmas como a minha, passamos para um pequeno edifício próximo do Hospital Central, hoje Josina Machel. E então, construiu-se este Liceu, que devo dizer que foi construído com as melhores  técnicas da época,  com os melhores materiais da época, exemplar porque tinha bons laboratórios,  boa Biblioteca, bom refeitório, e foi efectivamente uma surpresa porque este edifício, de acordo com que eu ouvi e conheci, porque eu fui para Portugal levado pela família, estava na passagem do sexto para o sétimo ano, e fui para Lisboa para um Liceu lá que se considerava novo, mas que este lhe ultrapassava, o Salvador Correia, em termos de instalações, de beleza, de ambiente, posso lhe garantir que era  superior, fui  acabar o meu curso liceal em Lisboa , só para lhe dar alguma ideia de este liceu  foi uma construção excepcional, se que dizer ler isto, como sabe a Associação dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia, não falo daqui, mais vou falar de Portugal, dos residentes em Portugal,  todos anos fazemos uns almoços, uns encontros etc. No ano passado, o grupo responsável por esta Associação, e bem, decidiu publicar um livro volumoso, muito bonito que tem este titulo “ VIVA  A MALTA DO LICEU”  e nele não só dá uma descrição da planta do Liceu, de como foi edificado , dos materiais que se importou, as telhas foram especiais importadas de Itália, tendo em conta as variações climáticas, sobretudo o calor, todo um sistema de conduta de ar que não se dá por isso, mas para haver circulação de ar. Neste livro há uma discrição minuciosa com as plantas etc. Varias imagens da construção do Liceu, neste livro é até interessante porque há pequenas monografias de antigos alunos do Liceu, e um dos antigo alunos é o senhor presidente José Eduardo dos Santos, que lá está neste livro a fotografia e uma pequenina nota, e depois muitos outros incluindo eu próprio que lá estou, cada um de nós esta com uma pequena nota a dizer quando nasceu, quando frequentou o Liceu, ou impressões como aluno do Liceu, aquilo que mais o marcou, depois vem as coisas estudantis, as excursões, os bailes, as praxes nos caloiros, é um livro extremamente interessante. Apresentação deste livro foi feita em Fevereiro do ano passado portanto em 2009, quando se comemorou os 90 anos da criação do Liceu, não deste mas do Liceu em Angola. Portanto, fez-se este livro para comemorar, e como eu sou por ventura se não sou o mais idoso sou um dos poucos mais idosos residente em Portugal, porque não faço ideia se existirá aqui em Angola, antigos alunos do Salvador Correia com mais de 84 anos. Portanto, fui eu que fiz apresentação, fez-se uma sessão de lançamento do livro, eu fiz o discurso de apresentação do do livro, e uma notícia histórica sobre o Liceu, o Liceu Salvador Correia teve uma grande importância, porque formou uma parte importante dos quadro angolanos, nos vários sectores, desde escritores, poetas, e acabou por dar até o senhor presidenta da República, que foi como que um ilustre aluno do Liceu, onde há umas fotografias e umas notas extremamente interessantes, porque o senhor presidente da Republica, enquanto rapaz novo até teve um conjunto musical.

 

SA- Professor do seu conhecimento, sabe se haverá muitas teses de Mestrado e Doutoramento sobre a Cidade de Luanda, a sua História, a sua arquitectura, o seu desenvolvimento  urbano?

IA- Sim! Sim, tem havido em varias escolas, nas Faculdades de Arquitectura, particularmente tenho teses de mestrados quer da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, quer da Faculdade de Arquitectura do Porto, pessoalmente nunca deixei de publicar artigos, não livro, mas artigos sobre Luanda, publiquei uma Bibliografia da Cidade de Luanda, quer dizer uma listagem de publicações que foram feitas sobre Luanda, que vai até 1990 ou 1993. é uma lista longa e há muita gente no estrangeiro que tem estado a estudar e  a publicar teses de Mestrado e de Doutoramento sobre a Cidade de Luanda, lembro- me agora de um Mestrado extremamente interessante sobre o sector informal da Cidade de Luanda, como sabre Luanda ainda do ponto de vista genérico se pode distinguir, entre o sector formal e o sector informal, e há uma tese muito minuciosa e desenvolvida que está publicada num livro,  sobre o sector informal na Cidade de Luanda.

 

SA- Este sector no seu tempo já constituía uma categoria dominante professor?

IA- Não! No meu tempo ainda não se falava em sector formal e sector informal, a diferença no meu tempo que se fazia era o da Cidade asfaltada e os  Musseques, devo-lhe dizer que no meu tempo quando vim para o Salvador Correia, à Avenida Brito Godins, era o limite entre a Cidade asfaltada e a Cidade dos Musseques, os Musseques começavam logo depois da avenida Brito Godins. Ora hoje, avenida Brito Godins, passa em frente ao Liceu, como você sabe, depois da avenida Brito Godins, a Cidade cresceu muito no planalto, no meu tempo ainda não se falava, tinha-se a noção mas não  existia porque esta terminologia é relativamente, não se falava em sector forma e sector informal , hoje sim, esta é uma terminologia vulgar e o estudo está feito até porque o sector informal não só  em Luanda como em muitas Cidades acaba por ser digamos que o sector  que ocupa mais gente, e há até quem diga. Ainda bem porque esta gente que vive de pequenas tarefas, de biscates, do pequeno comércio sobrevivem. Portanto não há taxas de mortalidades elevadas porque esta gente se defende,e sobrevive, e até há ligações entre o sector formal e o sector informal não é? É evidente porque o sector informal, como o Roque Santeiro não poderia viver com aquele desenvolvimento se não tivesse ligações com o sector formal, porque no fornecimento das mercadorias, o Roque Santeiro não os fabricava.

 

SA- Enquanto jovem morador dos Coqueiros frequentava a Biblioteca Municipal de Luanda e a Igreja do Carmo? Quais são as impressões que tem destes dois locais das Ingombotas professor?

IA- Sim! Sim, as impressões são excelentes, na Igreja do Carmo fui baptizado, também fui escuteiro, e até no meu tempo se fazia  acampamentos mesmo na cerca da Igreja do Carmo, pelo menos um ou  dois acampamentos se fazia ali mesmo na cerca, ao fim de semana, para aprendermos a montar as barracas, para aprendermos a disciplina de escuteiro e o  depois aos Domingos a tarde vinham as famílias ver com é que montávamos o acampamento.


 Na Biblioteca Municipal até tarde eu a consultei, estive aqui com frequência em trabalhos de investigação até 1973, e era uma boa Biblioteca, com muito material, muita documentação sobre a Cidade, hoje não sei, mas nesta altura posso lhe garantir que era uma boa Biblioteca  e com documentação e livros de Actas de reuniões da Câmara e do senado antigos e modernos etc. e devo- lhe dizer que estive cá em certa altura, porque fui um dos que veio abrir o Banco Comercial de Angola, que hoje perdeu o nome, estiva aqui por dois anos como um dos responsável da abertura do Banco Comercial de Angola, e sabe onde onde é que eu passava as minhas noite? Era justamente na Biblioteca Municipal de Luanda, porque as noites a Biblioteca ficava aberta, mal saia do Banco corria logo para a Biblioteca Municipal de Luanda, porque era uma boa Biblioteca, havia muitos livro, revistas e documentos antigos e modernos, era uma boa Biblioteca    

 


Algumas Notas  curriculares.


Nasceu em Luanda no mês de Setembro de 1926, fez os estudos primários e secundários em Luanda, fez os seus estudos universitários em Portugal, onde reside foi quadro do Banco português do Atlântico e do Banco comercial de Angola.   
O Doutor Ilídio do Amaral  é professor catedrático Jubilado, da Universidade de Lisboa, foi Vice Reitor e Reitor (1975-1980), também foi reitor da Universidade Internacional, foi docente em várias universidades Europeias  e Africanas, foi presidente da comissão nacional  de geografia de Portugal.


Em termos de publicação académica;
1956. publica o seu trabalho de dissertação sobre a Cidade de São Paulo de Assumpção de Luanda;
1957-Aspectos económicos da Cidade de Luanda “ Luanda Boletim do Instituto de Angola;
1958- Originalidade da Cidade de Luanda”;
1959- Subsidio sobre à evolução da população de Luanda;
1960- Descrição de Luanda setecentista vista através de uma planta;
1961- Ensaio de um estudo geográfico da Rede Urbana de Angola;
na vastíssima trajectória pesquisadora do professor, constam igualmente centenas de artigos sobre Angola, África, Europa e América.