Mais uma vez se verificou o gosto que o primeiro-ministro português tem em estar de cócoras e de joelhos

Será notável eu ser dono de uma empresa de sucesso e ter os meus empregados a passar fome? Será notável eu andar de Ferrari e ter os meus filhos descalços e subnutridos? Não me parece. A não ser que seja isso que José Sócrates quer para Portugal. E é verdade que já faltou mais.

"Venho aqui dar uma palavra de confiança a Angola no trabalho que o Governo angolano tem feito que é, a todos os títulos, notável. Basta olhar para os indicadores", disse José Sócrates na visita que fez à Feira Internacional de Luanda (FILDA), no âmbito da deslocação oficial a Angola.

Mesmo que em visita oficial, mesmo que o seu interlocutor seja um velho e bom amigo deste Partido Socialista português, não poderia José Sócrates ser mais moderado nos elogios a um ditador que administra um país em que das dez maiores riquezas, sete são de membros do Governo/MPLA?

O primeiro-ministro português disse que era "um prazer poder assistir a um país com dinamismo, vibração, com entusiasmo e com consciência do seu futuro".

Porra! Tanta bajulação até levanta suspeitas. Dinamismo? Vibração? Entusiasmo? Num país em que 250 crianças em cada 1000 morrerem antes dos cinco anos de idade?

"Quero que o Governo de Angola saiba que temos confiança no povo angolano, que temos confiança em Angola, temos confiança no Governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido", sublinhou José Sócrates, só faltando ajoelhar-se e beijar os sapatos de design italiano de Eduardo dos Santos.

De acordo com o primeiro-ministro, esse trabalho tem "permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados".

Este primeiro-ministro não bate bem da mona, como todos nós já desconifávamos. Tanto elogio logo no dia seguinte ao que duas organizações não governamentais apresentaram uma queixa ao ministério público de París, contra vários chefes de Estado africanos, entre os quais o de Angola, acusados de corrupção e desvios de fundos públicos, dos quais uma boa parte “é reciclada” em França.

O chefe do Governo português disse que "cada vez que Angola progride, evolui e melhora, isso enche de orgulho qualquer português". Quem é que tem orgulho numa governação em que mais de metade da população não tem acesso a água potável e em que milhões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia?

Que José Sócrates não sabe o que diz e também não diz o pouco que sabe, já todos sabemos. No entanto, pensavo eu que ele teria capacidade para se manter erecto junto deste tipo de ditadores. Não só me enganei como, mais uma vez, se verificou o gosto que ele ter por estar de cócoras e de joelhos. E houve tempos em que Portugal deu luz ao mundo...

* Orlando Castro
Fonte:www. altohama.blogspot.com