Luanda - Armindo Ngunga, é  professor catedrático da Universidade Eduardo Mondlane e director do Centro de Estudos Africanos  desta Universidade, o Semanário manteve esta conversa a margem do terceiro Atelier de pesquisa para ciências sociais,  realizado em Maputo, numa iniciativa do CORDESRIA e do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlaie, aquele académico abordou a questão do desenvolvimento da investigação cientifica em Moçambique, do facto da UEM, mais uma vez constar no raking das cem melhores Universidades de África, da valorização dos quadros Moçambicanos, e do desenvolvimento da linguística. 


Fonte: SA

 

SA- Professor enquanto linguista, como é que avalia a metodologia do ensino das línguas Bantu, nos países africanos de expressão portuguesa?

AN- Bem ! Pessoalmente tenho as minhas opiniões que por vezes não vão de encontro à muitas opiniões, mas eu acho que nós os países africanos, devíamos ser muito mais fies as línguas, porque elas são o garante da identidade da nossa cultura, elas são a razão e o recurso que os mais velhos usam para nos passar a experiência do passado, e seria importante que nós as preservássemos, que as desenvolvêssemos e as modernizássemos, e isto requer algum esforço de todas as partes, tantos dos investigadores por um lado como dos políticos por outro, e ainda dos cidadãos em comum de um modo geral.

 

 SA- Há uma outra componente professor que tem haver com, com a investigação cientifica em África e esta iniciativa que nos junta aqui em Maputo, por via deste Atelier de Metodologia de investigação cientifica, sob alçada do CORDESRIA , e do próprio CEA, da UEM, que avaliação faz estas iniciativas professor?

AN- Eu acho, que estas iniciativas são muito boas  e que deviam continuar para continuar também a crescer o número de académicos africanos falantes de língua portuguesa, e que possam desenvolver uma investigação relevante, respeitante a este países. Porque, o que acontece é que muitas vezes nós temos estado a margem do que acontece no mundo por falta de enquadramento, ou de trabalhos científicos que possam competir com outros trabalhos que se fazem nos outros países que falam as outras línguas, e acho que uma iniciativa como esta, e porque já vamos no terceiro seminário que  por coincidência é realizado aqui no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, ajuda a colocar os jovens  investigadores de língua portuguesa, a estarem em pé de igualdade com os outros, que possam competir e vencer.

 

SA- Mas esta componente da investigação cientifica tem sido, como que o ponto sensível do desenvolvimento africano, por este motivo é que temos que permanentemente contar com o suporte  de investigadores de outras latitudes, esta pode ser de facto uma porta de saída para se debelar esta nossa fragilidade?

AN- É assim, à questão da investigação em  África em geral e nos nossos países em particular, é uma questão que melindrosa, porque é  difícil, nós os africanos em termos gerais não valorizamos a investigação, não temos à investigação como um meio a desenvolver, não entendemos a sua importância. Entretanto, lutamos para o desenvolvimento e esquecemos – nos, que não se pode falar de desenvolvimento sem investir seriamente na investigação, e investir na investigação significa colocar recursos, e muitas vezes são avultados, mas é um investimento que os países deviam aproveitar fazer, porque sem isto nunca se vão libertar da dominação estrangeira ou  colonial seja o que for, de modos que este é o grande desafio, e quando falo de investigação e de investir  na investigação, também quero dizer que apesar de em algumas circunstâncias haver investigação em alguns países, há falta de publicitação desta investigação , há falta de troca,  de divulgação desta investigação e de intercâmbio, e como nós estamos fechados,  precisamos de nos abrir um pouco mais para sabermos o que acontece em Angola, em Moçambique, na Guine, em Cabo Verde, para que circule cada vez mais informação entre os académicos, para que haja uma maior circulação entre nós, e,  este seminário na minha opinião permite que nós saibamos quem está onde e afazer o quê, a partir daqui podemos então alargar os espaços que vão  além das fronteiras territoriais de cada pais e percebemos que o espaço pode ser aplicado, pode ser  útil num determinado país, e por ai em diante. Mas mais do que esta troca, mais do que à disseminação, para mim o grande calcanhar de Aquiles, é o investimento a nível da investigação, tanto na formação, tanto na formação como na realização da investigação aplicada, que visa a responder as necessidades concretas dos países e dos povos, é,  esta componente que penso que devia ser importante, e que os políticos compreendessem, que é que o investimento nesta área é muito importante, e onde está o segredo do desenvolvimento.

 

 SA- A Universidade Eduardo Mondlane, este ano aprece, mais uma vez no raking das cem melhores Universidades Africanas,  gostaríamos de perceber qual é o segredo para esta presença permanente neste raking?

AN- Bom! Moçambique hoje tem muitas Universidades, isto é Universidades e Institutos Superiores, hoje fala-se em trinta e oito Universidades e Instituições de Ensino Superior em Moçambique, e nem todas podem estar no mesmo nível em termos de raking internacional, a UEM, é natural que apreça neste raking entre as cem melhores de África, porque é a mais antiga, é aquela que acumula, hoje não é a maior necessariamente, porque consta-me que a Universidade Pedagógica é a maior das Universidades e está espalhada por todo país, a UEM, apesar disto continua a ser a mais antiga e aquela que tem o maior legue de quadros formados e também é aqui onde se o maior número de académicos altamente formados em termos de categorias profissionais, professores Titulares e  Associados, e que tem um trabalho regular de investigação, dai o facto de a UEM, aparecer como Universidade de referência quando se fala de Universidade em Moçambique.

SA- Este motivo é forte para que o Universidade Eduardo Mondlane ainda possua o maior valor simbólico aqui em Moçambique professor?

 

AN- Pessoalmente acho que sim, durante muitos anos, a UEM, vai fazer cinquenta anos dentro de dois anos, a Universidade Eduardo Mondlane que começou em 1976, é continuadora dos estudos gerais universitários de Moçambique, depois também da Universidade Loureço Marques. Portanto, há muita experiência de investigação acumulada aqui na Universidade, em termos e formação e investigação. Por outro lado, hoje a Universidade Eduardo Mondlane, é a única que oferece doutoramento em Moçambique, e aqui oferece mestrados em grande quantidades em termos de diversidade de áreas , este é um capital que temos vindo acumular ao longo dos anos.

 SA- Quantas Faculdade tem à Universidade Eduardo Mondlane professor?

AN- Nós geralmente falamos de doze Faculdades e Escolas Superiores, a Universidade Eduardo Mondlane, tem Faculdade por um lado, mas também tem escolas superiores, as escolas superiores  são mais ou menos autónomas, e muitas delas estão fora da Capital de Maputo.

 

 SA- Quem são os professores que ministram os cursos de pós graduação?

AN- São todos professores Moçambicanos, muitos são Moçambicanos, pode haver um ou outro estrangeiro aqui ou ali, mas na sua maioria são todos Moçambicanos, que eu saiba no doutoramento não há nenhum estrangeiro a dar aulas.

 

  SA- E este professores são os que foram à busca de conhecimentos noutras partes do mundo...

AN- Há sim, alias, foi a maior sabedoria digamos assim, da Universidade Eduardo Mondlane, desde os primeiros anos da independência quando investiu na formação do seu pessoal, apostou e venceu, acho que foi uma boa aposta, de modos que hoje por exemplo  na área de linguística, não devemos nada a ninguém, nós ensinamos a nível do mestrado e doutoramento, sem nenhum apoio externo, nós fazemos tudo entre nós com doutorados moçambicanos catedráticos formados no exterior, em muitos países fora de Moçambique, uns na Europa outros na América, mas cá estamos nós todos Moçambicanos e a trabalhar para o nosso país.

 

SA- Na vertente da pós graduação quais são as áreas que de formação que vocês oferecem aos interessados?

AN- Em termos gerais o que sei é que são em Medicina, temos Mestrado, em Direito temos mestrado e doutoramento, nas engenharias temos mestrados, Educação temos mestrado, Linguística temos mestrado e doutoramento, Administração Pública, temos mestrado, temos mestrado em Física, grande parte das Faculdade têm mestrados.

 

SA- Uma das grandes questões que se colocam como sensíveis, a nível da pós graduação,  tem haver  com a falta de laboratórios nos cursos tecnológicos, como as físicas, as matemáticas as engenharias  Químicas etc.  Estas componentes acabam por se tornar em verdadeiros calcanhar de Aquiles, como é que a UEM, está servida neste domínio professor?

AN- Bom! Penso que os problemas do ensino superior devem ser colocados  em termos globais, eu não colocaria só  de Engenharia, física Química etc, esta é a forma como muitas pessoas pensam, estou a lembrar-me que alguém me dizia uma vez quando lançamos um projecto nosso  lexicografia  baseado totalmente em tecnologia de informação e comunicação modernos, alguém questionava. Há afinal de contas vocês também usam as tecnologias? E de facto em todas as áreas são necessárias as tecnologias, se tivermos que fazer investimento no ensino superior, temos que fazemos na sua plenitude em todas as áreas, hoje em todas as áreas há laboratórios, mesmo na linguística há laboratórios, hoje para se fazer investigação linguística de fundo em fonética requer equipamentos altamente sofisticado, e muitas vezes e como a nossa mentalidade em termos de tecnologia se limita apenas nas engenharias, a Física e a Química, nunca pensamos também nas outras ciências, mas o desafio é o mesmo, é claro que a sensibilidade dos que decidem e que têm dinheiro o pensamento é diferente, porque normalmente quando se fala de tecnologia, quando se fala de laboratório nunca se imagina um laboratório de linguística, mas há sempre um laboratório de Biologia, de Química ou Tisica, mais sei que a Universidade Eduardo Mondlane não parou por falta de laboratórios, e tem estado a formar o pessoal com todos os problemas mas acho que se consegue sempre garantir a qualidade necessária para o País e até para competir a nível internacional.

 

SA- Uma das grandes questões colocadas em Angola nos meios Universitários, no que aos cursos de tecnologia é a questão dos laboratórios, as pessoas se questionam será que vale a pena ministrar um curso de tecnologia sem a componente laboratorial que é fundamental, para o vosso caso concreto gostaríamos de saber, até que ponto é que estes estudantes que estão a ser formados nas áreas das ciências tecnológica a nível da pós graduação correspondem as expectativas do mercado interno?

AN- Bom! Pelo que sei em termos oficiais pelo menos ainda não ouvi qualquer tipo de reclamação em relação a baixa qualidade do ensino a nível da pós graduação pelo menos não é? Agora em termos gerais, a crise que existe da qualidade do ensino superior em Moçambique e nas outras partes, acho que é uma crise universal, porque existe em Moçambique tal como existe na Europa, e não sei se será mesmo uma crise, acho que será um problema de mudança de paradigma dos que pensam que no passado tudo era melhor do que no presente, isto acontece em todas gerações, mas a verdade é uma é que os médicos que são formados hoje em Moçambique fazem o que qualquer outro médico podia fazer em qualquer outro sitio deste país, isto acontece em Angola, na China em qualquer parte do mundo. Agora, é natural que os pais continuem a pensar que a educação de ontem é melhor que a de hoje, isto sustenta aquelas conversas antigas em termos comparativos, no meu tempo era assim! Nós ouvimos estas conversas sempre desde que eu nasci até hoje ouço sempre e hoje também digo isto nas minhas filhas. Isto é normal, agora que hoje temos maiores desafios temos, porque a velocidade com que se desenvolvem os fenómenos no mundo, hoje é maior do que no passado, então, é preciso que a ciência esteja em condições de corresponder a esta necessidade da velocidade do desenvolvimento, e a Universidade qualquer que seja ela hoje no mundo tem que estar preparada para responder estas exigências que estão no mundo de hoje, de maneira que nós não podemos nos aventurar em criar uma pós graduação quando pensamos que não temos condições para poder leccionar e cobrir as expectativas da sociedade. Portanto, o que se faz e que muitas vezes as pessoas fazem comparações e ai é que não podemos nos enganar, porque a realidade de hoje é diferente da de ontem, porque por exemplo quando eu andava na escola à ênfase era ensinar a criança a escrever uma carta, hoje para quê que serve uma carta? Hoje à criança precisa de dominar o computador, a questão é existe ou não o computador, se não existir vamos ficar atrás, hoje o que se usa é o correio electrónico, neste sentido acho que a Universidade Eduardo Mondlane tem conseguido corresponder as necessidade e muitas vezes a crise que nós falamos da baixa de qualidade do ensino tem haver sobretudo com esta diferença que existe, o que é que o mais velho sabe e que aprendeu numa época anterior e aquilo que o jovem de hoje sabe,  e o  que não sabe, ele não sabe do passado mais sabe de hoje, por isso é que nós podemos hoje encontrar um médico de 70 anos que pode ser um bom praticante mas não sabe usar o computador, mas o jovem de hoje sabe usar o computador, e pode  usar o computador na medicina, e as pessoas fazem sempre este tipo de  comparações, hoje as coisas são diferentes, o mais importante é que a gente saiba colocar-se no tempo e no espaço, para falar das coisas tal como elas são.

 

SA- Dizia que os quadros formados em Moçambique não ficam a dever aos formados nas outras partes do mundo, assim sendo, gostaríamos de saber se o mercado está aberto à concorrência dos  técnicos das outras latitudes?  

AN- O mercado Moçambicano está aberto, é claro que este mercado tal os outros mercados têm as suas regras e normas de protecção dos seus cidadãos nacionais, isto acontece em Angola como acontece nos Estados Unidos, é preciso que os estrangeiro prove que de facto sabe o suficiente para competir com o Moçambicano e para poder ganhar o lugar que o Moçambicanos tem que ganhar, também abertura não é total, acho que nenhum país tem abertura total, todos países  têm abertura relativa, isto acontece no mercado do emprego, acontece na economia acontece em todos sítios, alias, por isso é que os exportadores de petróleo também impõem algumas condições de venda de petróleo não é? Para não haver esta corrida desenfreada para tudo aquilo que existe, mas se estrangeiro tiver condições para competir com o Moçambicano aqui e poder criar o seu espaço, nós temos muitos estrangeiro aqui em Moçambique, os bons conseguem sobreviver, mas quando a gente descobre que também não são tão bons quanto deviam, a gente não precisa de ficar aqui com um estrangeiro que não seja melhor do que o Moçambicano não é? O estrangeiro tem que justificar.
      

SA- Qual é a fatia do Orçamento geral do Estado destinado a Investigação cientifica?

 

AN- Não posso dizer em temos de números, há alguma, nem sequer posso falar da percentagem, sei que há algum dinheiro destinado a investigação, não é grande coisa, fazemos investigação sobretudo com base em dinheiros de projectos que elaboramos e que têm financiamentos externos sobretudo. Portanto, a nossa investigação é feita na base dos apoios dos doadores e das parcerias, o que o país dá para investigação é muito pouco dinheiro para esta actividade.


 SA- Quais são os principais investidores neste domínio professor? 

 

AN- Pela Universidade Eduardo Mondlane, sei que até agora está ASDI, a SAREC, que é Sueca, sei de projectos que são financiados pela NONFU, que é Norueguesa e por muitas outras organizações
internacionais.

SA- Quantos estudantes tema Universidade Eduardo Mondlane?

 

AN- Hoje fala-se em mais de vinte mil estudantes.

 

SA- Quantos estudantes têm a nível da graduação e da pós graduação professor?

 

AN- Eu agora estou aqui na investigação e não sei o que está acontecer nas Faculdades em termos concretos, mas sei que os números têm estado a crescer de ano para ano, não posso fornecer-lhe números concretos, porque teria de consultar as estatísticas actuais.        


 SA- A nível da linguística quais são as produções a Faculdade de Letras da UEM, tem oferecido a sociedade professor?


AN- Bom! É assim, não posso falar em nome da Faculdade de Letras hoje, porque já não estou bem ligado a Faculdade de Letras, em termos de politicas de gestão, fui director da Faculdade de Letras durante sete anos, podia naquela altura dizer o que estávamos a fazer, é claro que agora com a nova direcção às coisas mudaram em função daquilo que a actual gestão definiu como sendo prioridade.


Mais eu diria que nós no Centro de Estudos Africanos, continuamos a fazer investigação linguística e de fundo, estamos aqui a fazer investigação de ponta digamos assim, na área da linguística, estamos a trabalhar agora com projectos visando à elaboração de gramáticas em línguas moçambicanas, línguas africanas, isto é línguas Bantu, estamos  trabalhar em projectos de dicionários monolingues, dicionários de língua africana para própria língua africana, sem recurso ao português, queremos com estes materiais, facultar  instrumentos aos professores de línguas, aos investigadores para que possam encontrar formas de desenvolver esta área de formação específica, quando nós falamos de modernização das línguas, queremos dizer que estas línguas moçambicanas  tal como as outras línguas europeias, têm de estar hoje em condições de competir em pé de igualdade comas outras línguas. Fazer um dicionário de uma língua africana e só nesta língua africana é um grande desafio e pensamos que é fundamental para o desenvolvimento deste país, porque as pessoas pensam nas suas línguas, e é preciso encontrar termos, terminologia correcta para dar uma definição de um objecto. Este é um grande desafio, e as gramáticas são livros de referência, para o estudo e desenvolvimento da língua e  são instrumentos importantes para quem precisa de ensinar a língua na escola como hoje estamos a fazer, já são usadas as línguas nacionais nas escolas que são dezasseis, e o professor precisa destes instrumentos tal como os alunos precisam destes instrumentos. Portanto a produção cientifica que nós fazemos, tem em vista o uso imediato à nível dos consumidores que são os cidadãos moçambicanos.

 

SA- Acredita que este projecto poderá vincar, em função do número de falantes das mesmas?

 

AN- Há! mais não tenho duvidas quanto a isto, acho que o desenvolvimento da educação em Moçambique, só pode ser feito através das  suas línguas, o português não está excluído, porque faz parte do leque de línguas que são usadas e é a língua oficial do nosso pais, mas o desenvolvimento do português não pode e nem deve ser feito em detrimento do desenvolvimento dos Moçambicanos , estes grupos de línguas como o português, por um lado e as línguas moçambicanos  por outro, complementam-se em termos da sua promoção e de politica e de outras coisas que têm que ser feitas com as línguas.

 

SA- A língua é um ferramenta indispensável para comunicação social, e a media é um veiculo fundamental da linguística, enquanto linguista como é que vê o uso da linguagem na comunicação social professor?

 

AN- Não! É assim, acho que não podemos em África, falar de comunicação para o desenvolvimento sem o recurso as línguas, pós para as pessoas são  objecto de desenvolvimento, no caso de Moçambique , a comunicação social tem um grande desafio, temos estado incentivar a comunicação social, a irem lá onde as pessoas falam, a nível dos distritos, das localidades, e eles  tem estado a recorrer cada vez mais ao uso das línguas nacionais, porque há pessoas que não falam português que não podem ser excluídas devemos fazer com que elas estejam a disposição do desenvolvimento, quer dizer que temos pessoas que estão fora dos grandes centros urbanos devem participar no processo de desenvolvimento, sem isso não pode haver participação, e língua é uma factor fundamental para comunicação social sim senhor, a língua é um meio que dá acesso ao conhecimento, a participação democrática, hoje não podemos falar de participação democrática sem as pessoas usarem os instrumentos de comunicação que é a língua e muita gente em Moçambique não fala português, embora sejamos um país de língua oficial portuguesa, mas muita gente uma boa percentagem não fala português, é um pormenor muito importante que não pode ser ignorado quando falamos de comunicação por exemplo de comunicação para democracia, de comunicação para promoção da pessoal humana, temos que pensar sobretudo na comunicação nestas línguas, dai a necessidade de os próprios linguista devem conhecer estas línguas para poderem ser o veiculo de transmissão em termos de conceitos que hoje se consideram como fundamentais.

 

SA- Enquanto linguista de certeza que acompanha a produção literária em Moçambique, como é avalia esta produção dos nossos dias professor?

 

AN- Penso que está num bom caminho, o único problema quanto a mim e no caso de Moçambique, é que a produção literária só é feita em língua portuguesa e na minha opinião não reflecte aquilo que é a riqueza da cultura moçambicana que é muito diversificada, e nem tudo que sai em língua portuguesa consegue cobrir o mínimo do que devia ser a este Moçambique que é muito diverso, se a produção literária fosse feita na língua que as pessoas falam acho que teríamos uma maior diversidade e que reflectiria melhor a cultura Moçambicana.

 

Por Cláudio Fortuna