Benguela - Muitas são as preocupações que assolam os meus irmãos, parece que o sofrimento está na medula. Não há como expulsá-lo. Os pessimistas não depositam confiança em nada. Para eles o fogo e o enxofre resolverão os problemas dos angolanos. Como disse o meu professor ” gostaria ver um dilúvio somente para Angola. Enquanto os optimistas sempre dizem que tudo está bem e mantêm fé que o vindouro será melhor. “ Por isso quando se abriu a campanha tolerância zero.


Fonte: Club-k.net

 

Várias reacções apareceram “é mais uma música”,”devia começar no top”,”é mais uma mentira”, outras” agora vai acabar a exibição dos bens alheios”,”nas cadeias irão ricos”, “não haverá tréguas”, “saberão que a dor é dor”. Embora nunca estivéssemos na “casa da mãe Joana” uma voz autorizada, admitir a existência de abuso e anarquia da coisa pública parecia uma luz no fundo do túnel. É discutível, não é?


O cidadão …, (cena fictícia) que brincava connosco “bicabidou”, “não te irrites”, batota de cartas, quino …andava descalço e usava calções rasgados e remendado. Seus pais eram os mais humildes da banda. O alimento (melhor é dizer o pitéu) arroz branco sem óleo, ou arroz de vidro entenda-se com açúcar, o chá com pão burro, não havia o luxo de ir a padaria, pão com peixe frito… Quem nunca o comeu? Já era um jovem muito falador e sempre “não me toques.” Este seu jeito de “grande diplomata” conseguiu entrar na política, estudar, grau á grau ganhou várias pasta de governação. Administrador, director, e no partido secretário da célula, do Cap , do município e … de repente a vida melhorou, carros, mansões e dinheiro nos bancos, exibição total. Toda a família acolheu. Tinha pouca idade e passou a ser o chefe da família, quem não o respeitava? Num óbito, numa sentada com os mais velhos ele disse:


-”Quando comprei o meu Hiace”.  João seu irmão mais velho interrompei-lhe,  “ Isto não é p´ra falar no óbito”.Os cotas que estavam habituados a serem ajudados disseram em coro- “Deixa o miúdo falar”.
O respeito pelo seu património era tanto que todos “kizombavam” as suas palavras.

 
Quando soou a trombeta e a marcha de apoio a tolerância zero, a maioria dos mortais angolanos desacreditou, pois escutou-se que a “lei é para os pobres”, mas como a sociedade esperava ansiosa por vitimas “infelizmente e felizmente”, o “cidadão ”, foi então a vitima para mostrar “trabalho jurídico” porque só agora depois do chefe abrir a boca? Será que ele mandava arquivar os processos? Feriam o princípio da separação de poderes? Ou simplesmente mera coincidência…

 

Os investigadores (diga-se que muitos já estavam frustrados tantos indícios e nenhuma palha andava), fizeram uma auditoria, e descobriram a fonte ilícita de receita, e o mano, que não fazia despesas de capital, azar! Prenderam-no acusado no crime de peculato. 


Ligou inúmeras vezes aos seus amigos da Dnic, Procuradoria, Tribunal e aos camaradas do Partido e nada. Posto no calabouço assustou encontrou muitos colegas do executivo alguns acusados e outros condenados de peculato…
Notou que as condições de estadia não eram as melhores, salas sem conforto e abarrotadas. Os mais antigos disseram-no:


-“Esta é a 1ª parte do nosso inferno, o chamado inferno humano, o próximo que estaremos será o inferno diabólico!”.
No tribunal foi condenado alguns anitos e a restituir todos os bens que se locupletou. Ele voltou nas condições antigas.


A História humana está repleta de situações boas e más. O Tribunal de Nuremberg, em 9 de Dezembro de 1946, julgou vinte e três pessoas, vinte das quais médicos, que foram consideradas como criminosos de guerra, devido aos brutais experimentos realizados em seres humanos. Foi criado pelos aliados (Inglaterra, França, Rússia e os Estados Unidos, sendo por isso um julgamento bastante tendencioso) extraído do artigo “o Tribunal de Nuremberg”Dijosete de Veríssimo da Costa Júnior, publicada na revista Jus navigandi . Cuja finalidade era condenar todos os alemães que contribuíram para a máquina assassina de Hitler. Hoje por hoje analisa-se que os meios empregues não eram os mais adequadas pois o Tribunal era meramente politico do que Ius. Como disse o Dr Inglês Pinto, na conferência sobre a Constituição na III República em Benguela “os factos deve ser analisados tendo em conta as circunstâncias e o momento histórico de cada situação”. Porém uma lição ficou nas mentes dos mortais a condenação dos alguns infractores.


Os nossos tribunais e outros órgãos que contribuem na administração da justiça nunca estiveram estagnados sempre cumpriram o seu papel. Não ponho em causa a sua rica actividade. No entanto me questiono, só “as grandes crianças” são malfeitores? E os cotas? Foram sempre imparciais, isentos, bons governantes sempre serviram o povo e jamais se serviram? Ou então a “politica, está a dar carga ao Direito”?Chaim Perelman numas das suas acepções de Justiça escreveu” a justiça é que o lei atribui a cada um”.É mesmo assim? Filhos e enteados? Ou apenas para mostrar trabalho politico? Servirá na campanha eleitoral?


Não pretendo criar um clima de suspeição que ser governante é sinónimo de enriquecer, a custa do povo. Longe disso. Hoje tudo mundo tem medo de governar? A consagração legal diz que todos são inocentes a até transitar em julgado. Quem sou para julgá-los?


Parece aceitável que no aparelho administrativo angolano tirando os” miúdos” os outros são espelhos para o mundo. “Os factos falam por si”. Há ainda quem duvida?
 
 
Domingos Chipilica Eduardo, em Benguela