Luanda - A semana passada foi marcada por um pronunciamento histórico de um Papa da Igreja Católica Romana: pela primeira vez um chefe máximo dessa religião notabilizada pela sua posição demasiadamente rígida em relação aos métodos contraceptivos, com ênfase ao preservativo e ao aborto admitiu que «(…) pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer». O mundo inteiro como que explodiu.


Fonte: SA

O pontífice católico admite pela primeira vez o uso do preservativo em relações estra-matrimoniais

A afirmação vem numa longa entrevista concedida ao jornalista alemão Peter Seewald no livro intitulado «Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos» lançado a 23 de Novembro em Roma e cuja edição em língua portuguesa chega às livrarias no dia 30. Aborda temas como a pedofilia, o celibato dos padres, a ordenação das mulheres e a relação com o Islão, entre outros. Ou seja: os temas mais polémicos da actualidade na Igreja Católica.

 

Antes mesmo do seu lançamento (que aconteceu na passada Terça Feira, dia 23 de Novembro como dissemos) o livro já andava na boca de meio Mundo, dividindo quase todos uns a favor, outros contra a começar pela própria hierarquia católica ao mais alto nível. Das Nações Unidas veio Baan Ki-Moon, o seu Secretário Geral dizer que «o Papa foi pragmático». A Directora Geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan disse em Berlin onde apresentava o Relatório Anual da sua Organização «saúdo essa posição. Pela primeira vez, a utilização de preservativos em certas circunstâncias é admitida pelo Vaticano. É uma boa notícia e um bom começo». Por sua vez   o Director Executivo da ONUSIDA, o programa das Nações Unidas de luta contra a propagação do vírus do VIH Michel Sidibé, classificou as declarações de «passo em frente significativo e positivo» como disse em comunicado no sábado passado 20 de Novembro «visto que "reconhece que um comportamento sexual responsável e o uso do preservativo têm um papel importante na prevenção do VIH-Sida», lê-se em comunicado desta Agência das Nações Unidas a que o SA teve acesso.

 

Pelas bandas dos fiéis católicos é que as coisas não estão a ser tão pacíficas assim. Analistas falam mesmo em «agitação nos fiéis». Enquanto uns «saúdam a coragem do Papa», outros manifestam-se receosos que «a Igreja esteja a perder o seu carácter profético e a deixar-se arrastar pelos sinais tempestuosos deste tempo». Ao ponto que o porta-voz do Vaticano, Padre Frederico Lombardi teve que fazer algo pouco comum nele na ressaca destes pronunciamentos do Papa. Primeiro emitiu uma nota de imprensa em que, ressaltava o «caráter excepcional» do uso da camisinha nas declarações feitas pelo Papa e insistia que o uso do preservativo é justificado apenas «em alguns casos» e não foi apresentada como constituindo uma solução ao problema. «O Papa considerou uma situação excepcional, na qual o exercício da sexualidade é um perigo real para a vida do outro», afirma Lombardi num comunicado do Vaticano tido como insólito e que descarta que as declarações do pontífice possam ser definidas como uma «mudança revolucionária» e reitera que para os casos excepcionais «o Papa não justifica o exercício desordenado da sexualidade, e sim considera o uso do preservativo para diminuir o perigo de contágio como “um primeiro ato de responsabilidade”».


Depois teve ainda que realizar uma conferência de imprensa com os jornalistas acreditados no Vaticano para reforçar estas mesmas posições, no que muitos analistas internacionais já consideram «um recuo à cautela» perante a reacção negativa de milhões de católicos espantados e confusos perante tão súbita e drástica reviravolta. Ao mesmo tempo, pessoas ligadas ao pontífice, tentaram minimizar o alcance da afirmação. «A doutrina católica não muda, o uso do preservativo está proibido», escreveu Giovanni Maria Vian, no editorial  do “L'Osservatore Romano” de Domingo passado, 21 de Novembro enquanto um influente escritor católico italiano Vittorio Messori tido como amigo pessoal do Papa diz que «o sumo pontífice se refere a um acto de caridade e não à mudança da doutrina» e  citado pelo mesmo jornal.

 

Mas nem tudo são vozes discordantes. A declaração surpreendente, apesar de não questionar a proibição do preservativo na doutrina da Igreja, foi considerada um passo importante que muda a imagem ultra-conservadora do pontífice alemão, segundo analistas.

 

«O Papa deu o passo em um momento maduro, que já era esperado por muitos teólogos e conferências episcopais», afirmou o vaticanista (especialista nos assuntos da sede da Igreja Católica) Luigi Accatoli do jornal "Corriere della Sera" citado pela Globo. «A inédita abertura do chefe da Igreja Católica ao uso do preservativo, rejeitado de todos os modos até o momento, abre o debate dentro da instituição sobre uma aceitação ou não do uso da camisinha como um «mal menor» para salvar vidas» considera este especialista.


Importantes nomes da Igreja, como os cardeais italiano Carlo Maria Martini e o ganês Peter Kodwo Appiah Tuckson (o cardeal mais influente de África ao ponto que era visto como um dos «candidatos? À sucessão de João Paulo II), já se haviam pronunciado publicamente a favor do uso do preservativo em casos específicos, como quando um dos membros do casal está contaminado.

 

A nova posição de Bento XVI certamente influenciará o debate, já que até agora a Igreja defendia apenas a abstinência nos solteiros e a fidelidade nos casados como método de prevenção do HIV.  Apresenta agora um rosto mais humano e aberto do primeiro papa alemão da era moderna, que ficou conhecido como o ferrenho guardião do dogma durante o pontificado de João Paulo II. Do qual era Prefeito para a Congregação para a Doutrina da Fé, ou se quisermos daquela que já foi a tenebrosa Inquisição dos tempos medievais. Se alguém se desviasse uma vírgula dos dogmas não havia brincadeiras: Era mandar para a fogueira e morrer queimado vivo. Quem diria…


OU OS HOMOSSEXUAIS GANHARAM… OU QUÊ!?


Uma «outra maka mais» também trazida a lume nestas declarações de Bento XVI é a questão da homossexualidade (masculina e feminina) e em relação à qual a Igreja Católica mantinha a mesma postura rígida – ou mais dura ainda – que em relação ao uso do preservativo.


É que, e apesar de o homossexualismo ser tão ou mais antigo ainda que o teoísmo judaico-cristão – a Bíblia menciona-o quase desde o início – e o fenómeno ter estado presente em todas as grandes civilizações que a História regista, desde o Egipto Antigo, passando pela Assíria, Babilónia, Grécia, Roma e, finalmente às Idades Média e Moderna, o que quer dizer que convive com ele há milénios – todos os segmentos desta corrente religiosa combatem-no e o condenam vigorosamente; a Igreja católica mais duramente que as outras. Muitas das vítimas que a então congregação que o Papa Ratzinger dirigiu, a Santa Inquisição mandou vivas para as fogueiras, eram praticantes – ou meras suspeitas isso não importava – de prática de homossexualismo, então conotada com a expressão mais demoníaca do pecado. Dali que o que havia mesmo era uma «guerra santa» contra os homossexuais e transexuais da parte desta vetusta igreja e dos seus venerandos Padres.


Mas eis que de repente, e quando o Papa Bento XVI fala da abertura do uso do preservativo «em certos casos» falou em… prostitutos! Isso mesmo. No masculino, e estalou-se esta «outra maka mais».


É que, se estivesse a falar em italiano, as coisas seriam mais claras: tem «Prostituta» (Mulher); «Prostituto» (Homem) e «Prostitutti» (os dois géneros, Prostitutos em português). Mas o Papa não estava a falar em italiano. Nem em nenhuma outra língua latina. Estava a falar em Alemão, língua natal tanto dele como do entrevistador onde, como no Inglês, masculino é masculino e feminino é feminino mesmo e, os dois juntos devem ser mencionados em conjunto, nada das misturas como em português ou em espanhol.


E foi isso que criou a tal «outra maka mais»: como todos sabemos o género que (ainda) detém mais membros na prática da profissão mais velha do Mundo é o feminino. Os tradutores do texto original alemão para o italiano acharam a mesma coisa, dali que pensaram que o Papa tinha-se enganado ao dizer «prostitutos» no masculino. Se bem o pensaram melhor o fizeram: mudaram o termo para «prostituta».


O bom do Papa é que não esteve pelos ajustes. Deu conta da mudança e mandou dizer que tinha dito isso mesmo… prostituto e não prostituta! No masculino.


Começaram a chover comentários nos blogues: Porquê estava a falar só dos homens se a maioria é constituída de mulheres na prostituição? O que queria isso dizer?


Os jornalistas perguntaram isso mesmo ao Padre Lombardi, porta-voz do Vaticano e de quem os jornalistas angolanos guardam boas recordações de afabilidade e competência durante a última visita de Bento XVI no nosso País. Segundo conta a media sedeada no Vaticano, o Padre foi ter com o Papa para tirar isso a limpo. Voltou com as seguintes palavras: «Fui lá e perguntei-lhe se ele queria mesmo dizer “prostituto”. E ele disse que sim». Pressionado, disse mais que «tinha perguntado se ele (o Papa) fazia alguma diferença entre os preservativos masculinos e femininos. Ele disse que não». E mais não disse o Padre, certamente não muito à vontade com a curiosidade profissional dos colegas de um lado e a clara impaciência do Sumo Pontífice em falar mais deste assunto que não será certamente um dos seus favoritos. Coisas de Assessor de Imprensa, colega Padre…

 

 Os jornalistas, esses é que ficaram a perguntar-se: afinal como fica? As prostitutas podem ou não afinal usar preservativos, tal como os seus colegas masculinos, que até são poucochinhos? E nos «prostitutos» podem-se contar os homossexuais e transexuais?


A ser assim seria caso para dizer que estes «ganharam de esquebra». Pelo contrário se estiver-se a excluir as prostitutas seria uma tremenda discriminação e a emenda seria pior que o soneto, como soe dizer-se.


A verdade verdadeira mesmo é que os jornalistas ingleses da BBC e a CNN quando falam destas declarações do Papa, têm o cuidado de dizer «male prostitutes» (prostitutos masculinos).