Luanda - Uma sa ída em massa de jornalistas do Semanário “A Capital” afigura-se como o cenário mais provável nos próximos tempos, por causa da “contínua interferência "grosseira” na linha editorial do jornal por parte da entidade patronal, admitiram os jornalistas.


*Venâncio Rodrigues
Fonte: Novo Jornal


Os novos donos impuseram a alteração do título de capa da edição da passada semana, “sem qualquer explicação plausível”, uma atitude tomada pela segunda vez em menos de quatro meses, dizem denúncias de profissionais daquela publicação.


Esta terá sido “a gota de água que fez transbordar o copo”, em resultado da qual a redacção pondera abandonar em bloco aquele órgão. O grupo de jornalistas daquele periódico manifestou ao NJ o seu inconformismo em relação à postura dos administradores que consideram como sendo de “arrogância”.


A alteração do título principal, “em cima da hora e com o jornal pronto para descer à gráfica”, forçou a projecção de uma outra capa, diferente da primeira, o que provocou um atraso no fecho da edição de mais de cinco horas, segundo denunciaram.


“Eles são useiros e vezeiros neste tipo de atitudes”, denunciaram as fontes, para as quais a acção da passada semana junta-se a outras formas de censura, aparentemente mais subtis, mas que concorrem para actos de auto-censura, ao mesmo tempo que os jornalistas vêm perdendo toda a capacidade de criar. Por isso, verifica-se uma redução “drástica” na produção de matérias noticiosas, já que, desde que o semanário “A Capital” passou para as mãos dos actuais donos, os cartoons foram proibidos e muitas colunas de opinião foram fechadas. Em Agosto deste ano, uma edição completa tinha sido queimada, alegadamente, porque trazia textos contendo críticas ao Presidente da República.


As fontes precisaram que a maior parte das decisões sobre a alteração dos ângulos de abordagem das matérias noticiosas não são transmitidas aos jornalistas, seus autores, nem por via do director geral. Este é apontado como podendo estar “em sintonia” com a administração, o que, alegadamente, justifica a forma como tem estado a sonegar todo o tipo de informação ou orientação “vinda de cima”. Em consequência, as reuniões de pauta deixaram de ter peso, transformando-se em meros encontros formais, onde se denota uma clara separação entre jornalistas e a direcção.


Aliado a todo este clima, as fontes denunciaram que os novos donos continuam a fazer finca-pé no reajuste salarial prometido para todos trabalhadores, passando o semanário para a condição de órgão que pratica os salários mais baixos do mercado.


Foi também denunciada a aplicação de valores exagerados sobre o Imposto de Rendimento de Trabalho (IRT) e o não cumprimento da promessa de seguro de saúde. As queixas não se ficam por aqui. “Não há viaturas para reportagens porque as três então existentes foram dadas ao director geral e ao director das Finanças”. Os jornalistas vão “à rua” com meios próprios e os subsídios foram cortados.

Não foi possível ao Novo Jornal ouvir os responsáveis da Medivision, empresa detentora do jornal, por dificuldades de contacto telefónico. Aquando do primeiro incidente, os responsáveis desta empresa tinham alegado “erro técnico” como estando na base da não saída do jornal a público, prometendo que o mesmo não se repetiria.


A Medivision, empresa que as fontes afirmam“não ter rosto”, está alegadamente ligada a figuras e instituições do Estado angolano. Marcela da Costa é a directora administrativa e financeira do semanário, sendo a única figura visível do grupo.