Transformou a Fesa num superministério
Fontes que o Semanário Angolense consultou no processo de investigação à volta do estranho sumiço de uma das figuras mais propensas ao exercício e exibição de poder disseram que o patrono da Fesa não tinha alternativa. Ismael Diogo da Silva , vulgo «Matateu», tinha pisado na bola e se não fosse travado a tempo arrastaria a Fesa para uma goleada. O antigo cônsul-geral de Angola no Rio de Janeiro é apontado como sendo o responsável pelos elevados encargos financeiros em que caiu a fundação, criada a 26 de Março de 1996 por José Eduardo dos Santos.
O desconforto financeiro teria partido do processo de concepção de uma série de actividades em que a Fundação se engajou, algumas das quais extravasavam o rigoroso orçamento defendido por correntes que sempre se opuseram à gestão musculada e destravada de Ismael Diogo. Embora ninguém conteste o mérito das jornadas científicas anuais da Fesa, a verdade é que elas acabaram por se traduzir num tremendo endividamento junto de hotéis, locadoras de automóveis e companhias aéreas, em Angola e no estrangeiro.
A maior parte das despesas teriam sido sancionadas exclusivamente por Ismael Diogo da Silva. Fontes geralmente bem informadas disseram ao Semanário Angolense que durante algum tempo Ismael Diogo da Silva transformou a Fesa num superministério. Possuído por alguma arrogância, o antigo estudante de medicina na antiga Jugoslávia viu cair-lhe em cima também a ira de membros do governo, a quem, apesar da natureza do seu mandato no Rio de Janeiro, onde era cônsul, não passava cartão quando estes passassem pela cidade maravilhosa e solicitassem assistência do consulado que lhe tinha sido confiado. «Nem o próprio João Miranda, ministro das Relações Exteriores, tinha esta honra».
Entre os que mais de uma ocasião se queixaram junto do Presidente da República constam vários funcionários do consulado que o acusam de ser rude. Ismael Diogo a quem o Semanário Angolense tentou contactar, sem sucesso para confrontar com estas alegações, apenas em uma ocasião, nos últimos 12 meses, foi recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Na altura recebeu a instrução para que passasse a tratar das questões inerentes à Fesa com Manuel Vicente, o vice-presidente da instituição.
O corte então imposto nasceu da constatação de que o título honoris causa entregue no palácio da Cidade Alta pela Universidade de Nova Iguaçu, do Brasil, prestigiava a universidade, mas em nada ajudava a figura do Presidente. «Trata-se de uma universidade michuruca», o mesmo que é dizer que é de quinta categoria no ranking das universidades brasileiras. Esta foi a segunda tentativa do género. Em Maio de 2004, José Eduardo dos Santos esteve à beira de receber um título honoris causa pelo Drew College da Califórnia, Eua, outra instituição de créditos baixos.
A morte de um irmão na altura forçou o Presidente a cancelar a viagem, com o que evitou o que viria a ser um embaraço igual ao que se registou o ano passado com a Universidade de Nova Iguaçu.
Com o afastamento, de facto, de Ismael Diogo, e com a reestruturação agora em curso, as celebrações este ano do aniversário do patrono da Fesa serão mais modestas no aparato. Para já foi cancelado, pela segunda vez consecutiva, o habitual torneio de sub-23 em futebol e as jornadas científicas parecem seguir o mesmo caminho. «O próximo grande evento deverá ser a assembleia-geral, que se tudo correr bem terá lugar em Outubro, e na qual ao que tudo indica Ismael Diogo da Silva será destituído», disseram as nossas fontes.
Fonte: Semanário Angolense