Lisboa - O seu tempo de jornalista  se confunde com os anos de independência do país. Ingressou numa primeira fase, na RNA em Outubro/Novembro de 1975 tendo ai ficado por um período de poucos meses, até ter-se mudado para o   extinto “Diário de Luanda” que foi a sua maior escola em termos de pratica de jornalismo. Foi como quadro deste órgão que em Agosto de 1976 foi despachado para um curso  intensivo, de quatro meses,  na Escola de solidariedade em Berlim Ost. Era considerado como um aluno “aplicado que estava a fazer o curso do seu sonho”.

Fonte: Club-k.net

Reconhecido como analista coerente

Uma das fases  que mais marcou-lhe pela negativa  enquanto jornalista  foi a sua detenção no seguimento do “27 de Maio”.   Costa Andrade  “Ndumduma”,  então director do Jornal de Angola,  fez-lhe  por escrito um teste   de “fidelidade ideológica” cujo teor deveria ser  publicado numa coluna “Fio do Prumo” existente na altura, naquele diário. O texto não foi publicado ao que representava a sua  “não aptidão”.  Na manhã do dia 28 de Maio de 1977 quando foi trabalhar, acabou por ser detido nas  instalações do Jornal de Angola. Levaram-lhe  para a direcção da Divisão de Segurança de Angola (DISA) para no período da tarde ser colocado na cadeia do São Paulo, Cela F. Partilhou a mesma cela com o irmão de Sita Valles,  Ademar  Valles (que fora assassinado) e com Ambrosio de Lemos Freire, que fora transferido para o campo da Quibala.

 

Reginaldo Silva  teve a sorte de não ser levado para um campo, mas porem foi alvo de maus tratos e ameaças de morte. Quando  regressava dos interrogatórios na cadeia, o mesmo era visto com o seu papel escrevendo uma espécie de diário. Trajava um calção azul jeans que aparentava ser a sua única testemunha quanto aos seus apontamentos. “Tinha  uma caligrafia feia mas uma cabeça onde guardava muita sabedoria e coisas que nunca pintou”, conforme recorda uma fonte habilitada, a descrevê-lo.


Embora nunca foi  levado a julgamento, o regime apresentou  como  prova do seu crime anotações que  fez enquanto jornalista,  a cerca das “manifestações golpistas” que tencionava  escrever para um artigo no jornal. Consta que numa das passagens do texto, ao invés de escrever “terminou a manifestação dos Nitistas”, o mesmo optou por uma forma poética escrevendo mais ou menos assim: “terminou a manha de liberdade”. Reginaldo Silva,  acabaria por decretar a sua própria sentença. A época, teriam também  insinuado de  que    tivera feito  fotografias dos  seus colegas no Jornal, para fins desconhecidos.

 

Foi posto em liberdade  a 2 de Fevereiro de 1979.  Voltou a ser chamado pela DISA, pouco depois, na seqüência de uma crônica que escreveu  sobre a problemática de abastecimento de alimentos no país. A DISA fez lhe  saber que num contexto de guerra, o seu  artigo  dava argumento ao “inimigo”.

 

Em vida, Costa Andrade  “Ndunduma”,   rejeitava  a tese de ter sido o seu conspirador. (As acções de “Ndunduma” que na altura reunia todas as noites no Palacio com Agostinho Neto, nunca eram postas em marcha sem antes contar a  um então  sub-chefe de redação,  Moutinho Pereira). Por ironia quando, “Ndunduma” veio a falecer em Portugal, em Setembro de  2009,  Reginaldo Silva  encontrava-se  também em terras lusas, na cidade do Porto.

 

Em finais do ano em que lhe foi devolvida a liberdade, ingressou para os quadros da RNA,  onde chegou a ser chefe do departamento de informação.  Antes da admissão, o seu processo foi objecto de analise  pela DISA que entendia  que o mesmo não podia mais  trabalhar em informação. Foi ordenado que saísse de  Luanda tendo lhe sido passado uma guia para se apresentar na delegação do Ministério dos Transportes na província da Lunda-Norte. Uma corrente da DISA aparentemente oposta a sua “expulsão”  da capital do país  terá persuadido a outra parte a  não despachá-lo para o interior .

 

Em 1988 tornou-se correspondente da BBC, em Luanda para dois anos depois entrar  em ruptura com o regime registrando o seu abandono da RNA. É daí que se ressalva  que a sua vida enquanto profissional de comunicação social esta dividida em  quatro fases. 1 -  A fase de “trabalhador da informação” no jornalismo escrito;  2 – A fase da ruptura  das convicções de  partido único ou fase da  prisão  3- A fase da reabilitação em que aderiu  ao jornalismo de radio, e a ultima é a fase da ruptura “total” com o regime  rumo  a sua independência ideológica/ profissional.

 

Foi na  quarta fase da sua vida profissional que como “independente”  esteve envolvido na primeira etapa do surgimento da imprensa privada, em Angola,  neste caso o Semanário  Folha8 de que é  co-fundador. Fez intervenção do extinto correio da Semana/Comercio Actualidade. Como correspondente da BBC em Luanda, foi um dos jornalistas que testemunhou e informou  em primeira mão  quanto ao cadáver de Jonas Savimbi em Kassamba. Noticiou em primeira mão que António Dembo, sucessor de Savimbi, era dado como morto. Nesta altura,  conduzia o programa semanal de entrevista, “fórum” da  RTP- África e um ano após ao acordos de paz, entrevistou uma das esposas de Savimbi, Valentina Seke. Esteve também no Jornal Angolense que largara   em finais de 2009.


Tem afinidades  com  a Igreja Metodista.  Goza de  respeito nas lides da Conferencia Episcopal de Angola e São Tome (CEAST) e por via disso, é o convidado especial em todos  fóruns dos correspondentes da Radio Ecclésia de que foi colaborador no passado. Em 2009, teria feito um comentário quanto a  nulidade da intervenção da Igreja Católica na questão de “caracter nacional”  ao que desagradaria o clero. Em fóruns  privados, o arcebispo de Luanda, Dom Franklin  teria se lamentado das suas posições.

 

A sua respeitabilidade é extensiva em meios da  sociedade civil (Fernando Macedo, Jorge Eurico etc)  e política.  É  reconsiderado em meios da UNITA que o consideraram como  “coerente nas suas opiniões”. No tempo do conflito, foi o único jornalista que o político  Abel Chivukuvuku se sentia confortado em conceder entrevista  sem ser alvo das manipulações que caracterizam os órgãos de comunicação do regime.


A mesma consideração é sentida em meios do MPLA. É estimado pelo nacionalista Luis Kiambata “Lolo”, Luzia Sebastião,  Brito Morais Junior,  etc. Outra figura do MPLA  que é descrita como tendo estima do seu trabalho  é o Vice-Presidente da Assembléia Nacional, João Lourenço.  Ao tempo em que J Lourenço  era SG do partido no poder teria avançado ou pensado no seu nome para um projecto jornalístico. Quando JL caiu em desgraça surgiram rumores, no regime, de que “também”  pretendia  o jornalista Reginaldo Silva para o seu projecto de “ambição presidencial”.

 

A  nível do jornalismo angolano é muito ligado a Ismael Mateus,  Mario Paiva e Gustavo Costa. Reconhece pragmatismo na nova geração porém reprova o “Kambanbismo” que é a nova moda jornalística  de dar manchete ao nome do político Bento Kambamba,  em troca de dinheiro.


Quanto a sua posição sobre o rumo do país, reprova  o excesso de partidarismo na comunicação  social de estado.  Não aplaude a nova lei que permite que a cor da bandeira do “partido” já se pode confundir com as cores da bandeira da Republica.  Deixou de ter confiança nos órgãos de justiça no país. Esta perca de confiança  acentuou-se desde finais de 2007, quando assassinaram  um   empresário António Jaime, ligado a si,  cujo desfecho judicial as autoridades judiciais não  esclarecem. Ambos teriam  estado juntos horas antes  na discoteca. De regresso a casa,  o amigo teve  destino trágico.  Semanas antes da morte de António Jaime, o jornalista   estivera numa conferencia internacional que abordava a parceria estratégica entre a União Européia e a África.


Face  a  este  lado  de reprovar injustiças, passou a ser um “líder de orientação”  quanto ao dossiê “27 de Maio”. É ele quem da o rosto nas promoções dos anuais almoços das vitimas deste incidente e é a eles a quem personalidades indicam quando alguém deseja re-encontrar,  este ou aquela figura com ligações ao  “27”. O político Luis dos Passos é citado como uma das figuras que lhe  reconhece idoneidade.


Enquanto profissional da comunicação social, foi vencedor por duas vezes do premio “Maboque” de jornalismo. É membro do sindicato de Jornalistas angolanos desde o seu surgimento. Em 1982 viu-se forçado a alistar-se na União dos Jornalistas de Angola. (Era obrigatório ao tempo do partido único). É presentemente membro do Conselho Nacional de comunicação Social. Participa nas analises semanais no programa “Semana em  Actualidade”  da TPA. No mês passado, os técnicos da  TPA cortaram  o programa quando o mesmo  lamentava o facto de a 11 de Novembro terem sido apenas homenageadas figuras ligadas ao MPLA, em cerimônia em alusão a data. O Boicote deixou-lhe desiludido.  Intervém on-line por intermédio do seu blog (morrodamaianga.blogspot.com).