Luanda - Os acidentes repentinos resolvem-se com dificuldade; os previstos, facilmente. Maquiavel


Fonte: G Verissimo


A guerra da era de Vestefália, que o choque directo entre as tropas, as batalhas campais e o aniquilamento físico do inimigo desapareceu com a Revolução Francesa, em 1763. De aí adiante, como escreveu Karl von Clausewitz1, “a guerra é um fenómeno total, politico e militar, ou, por outras palavras, “a continuação da politica por outros meios, a saber, violentos”.

 

Anterior a Clausewitz, no seu livro , Sun Tzu2, entre outras afirmações disse que “não fazer qualquer reflexão prepara o caminho da derrota”, pelo que3, “a arte da guerra é de importância vital para o Estado. Ela é a província da vida ou da morte, o caminho para a segurança ou para a ruína, o um objecto de investigação que não pode, sob nenhuma circunstância, ser desprezado”.

 

Entretanto, o estudioso das guerras, John Keegan4 sugere que a guerra é muito mais que a continuação da política por outros meios. Segundo ele, “a guerra é sempre uma expressão de cultura, com frequência uma determinante de formas culturais e, em algumas sociedades, é a cultura”.

 

Karl Marx, que através da análise de História concluiu que a guerra aparece com o surgimento do Estado, atribuiu-lhe uma natureza classista, quer dizer, que ela reflecte os interesses das classes dominantes.

 

Aceitando-se ou não o antes dito e, assumindo que, como disse Paul Watzlawik “de todas as ilusões, a mais perigosa consiste em pensar que não existe mais que uma realidade”, o que não se pode desmentir porque é demonstrado pelo estudo da história das guerras, é que as causas estruturais de um conflito bélico estão sempre ligadas com interesses económicos e políticos intrínsecos à relação entre os contendores.

 

Talvez devido a esta realidade a Administração dos EUA tenha desenvolvido a política que denomina “smart power”, segundo a qual, os seus orgãos deverão “modelar o comportamento, a vontade e a capacidade de outras nações, amigas ou adversárias”.


Iluminando esta realidade, já no seu tempo Sun Tzu disse que “o recurso às armas deverá ser parte de um programa mais amplo, através do qual o inimigo deve ser politicamente atingido antes de ser militarmente derrotado”.

 

A consideração da situação geopolítica e geoestratégica mundial actual, que pressupõe a consideração da conturbada situação no Mediterrâneo, no Golfo Pérsico e no estreito de Bósforo, assim como a situação no Mar Caribe, nos quais se jogam interesses económicos e políticos relacionados com o acesso à matérias primas para a manutenção e a melhoria do nível de vida e de desenvolvimento das sociedades mais desenvolvidas, aponta para a acção no sentido do controle não só político, mas também militar e económico, do espaço marítimo que constitui o Atlântico Sul, particularmente a região do Golfo da Guiné.

 

Esta região, possuidora de grandes reservas de recursos minerais estratégicos, ocupa um papel importante na estratégia militar do governo dos Estados Unidos da América, quem criou o Comando Africano (AfriCom) para, entre outras missões “proteger o acesso aos hidrocarbonetos e outros recursos estratégicos que a África tem em abundância (...), uma tarefa que inclui garantir contra a vulnerabilidade de tais recursos naturais e garantir que nenhuma outra terceira parte, já seja a China, a Índia, o Japão ou a Rússia, obtenham monopólio ou atenção preferencial”5.

 

Ante a realidade acima exposta e, particularmente, quando outros se preparam para fazer as suas guerras no nosso Continente, não será justo perguntar se – existe, actualmente, uma condição de segurança que garanta o desenvolvimento sustentável da região do Golfo da Guiné?

 

 

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Karl von Klausewitz (1780-1813), autor do livro “Da Guerra”, que descreve os paradigmas da guerra contemporânea. (2) Sun Tzu, Teórico militar chinês, autor do primeiro Tratado Militar de que se tem registo (3) Nossa interligação; (4) John Keegan, estudioso da história das guerras que, durante muitos anos, foi professor da real Academia Militar da Inglaterra. Autor do livro “Uma História da Guerra”; (5) Dr. Peter Pham, Conselheiro do Departamento de Defesa dos EUA, na discussão do Congresso sobre o tema, no ano 2007.