Luanda - Esta semana, alguns notáveis periódicos e a imprensa angolana em geral publicaram com tamanha extravagância o facto de Angola possuir neste momento tecnologia para discernir o grau de parentesco e legitimar a paternidade de um indivíduo.


Fonte: Club-k.net


images/stories/Nacional/dna%20angola.jpgDe facto, sermos dotados de tecnologias que nos proporcionam o uso da biologia molecular é um indicador de que estamos num franco progresso, quer científico quer tecnológico. Não obstante a pertinência da tecnologia em questão, a notícia pareceu-me de um todo bizarra pelo facto de se extrapolar demasiado o teste de paternidade, como se este fosse a maior prioridade científica do país.

 

Ora, importa referir que a biologia molecular é uma disciplina com amplas aplicações na actualidade. Entre tais, destaco a sua aplicação na criminologia; na medicina (estudos de replicação do HIV e de oncologia para detectar “mensageiros do cancro”); na paleontologia (para estudar a evolução das espécies, a descoberta de fósseis, etc.); na agricultura (diagnóstico de doenças) e na segurança alimentar, mais precisamente na triagem de micotoxinas (exemplo: aflatoxina no milho).

 

Considerando a notícia e havendo em Angola estruturas, equipamentos (termociclador, reagentes, etc), financiamentos e técnicos especializados, julgo que os primeiros passos estão consolidados para sermos capazes de produzir “in loco” as nossas necessidades. Refiro-me a que, desfrutando a tecnologia do “DNA recombinante”, podemos desenvolver vários produtos que escasseiam em nossos laboratórios. Em vez de importarmos, poderíamos produzir “kits antisera” para o diagnóstico de vírus, bactérias, fungos e para a despistagem de doenças humanas, veterinárias ou vegetais.


Recordo que a mesma tecnologia também deveria ser utilizada na resolução de questões concretas que venham a melhorar a vida das populações, como é o caso da sua aplicação nos serviços sanitários para prevenirmos frequentes intoxicações de alimentos de diversas proveniências e qualidade duvidosa que diariamente chegam à mesa de muitos angolanos.

 

Devo acrescentar que tais laboratórios, que divulgam gratuitamente esta informação, deveriam ser os primeiros a consolidar estes conhecimentos e a usá-los em prol do progresso científico, em vez de um uso banal como supostamente nos ilustra a notícia.

 

Uma questão que coloco aos protagonistas é: Será o teste de paternidade uma forma de angariação de fundos para a investigação, ou apenas uma imagem de charme para criar notícia?.. Pois, não sei,.. porém, havendo dúvidas, julgo que o que supostamente seria uma grande notícia, esbarra na sua própria intenção de ser notícia.