A Polícia Nacional angolana avançou durante o dia com a confirmação de sete mortos, mas, de acordo com os vizinhos, familiares e amigos das vítimas com quem a Lusa falou no local, são oito os rapazes com idades a rondar os 20 anos que foram brutalmente assassinados.
São igualmente oito as fotos e os nomes dos jovens assassinados espalhadas em centenas de cartazes pelas ruas e paredes do bairro do Sambizanga: Dadão, Lito, Terenso, Santinho(que era acólito na paróquia do São Paulo), Mano Velho, André, Jonhson e Nandinho.
O massacre, sem paralelo em Angola desde o final da guerra civil, em 2002, teve como cenário o Largo da Frescura, já no interior do bairro de Sambizanga, um dos mais populosos e violentos da capital angolana.
Rui(nome fictício), que estava no local e "só por sorte" escapou com vida, contou à Lusa que, não eram ainda 19:00, noite cerrada no Inverno da África Austral, quando o grupo se encontrava a confraternizar no fim do dia, no único lugar do Largo da Frescura com uma luz que se mantém noite dentro.
"Ao princípio éramos uns 12, depois alguns foram para casa. Eu fui também a casa beber um copo de água e comecei a ouvir tiros. Só saí quando os disparos pararam... encontrei os oito mortos no chão, todos de barriga para baixo", descreveu.
No local onde teve lugar este violento episódio ainda por explicar, as famílias colocaram um altar improvisado, com as fotografias de alguns dos jovens assassinados.
A morte destes oito jovens não é fácil de explicar, visto que, segundo a versão ouvida pela Lusa no local, cerca das 19:00 de quarta-feira, quando o grupo se encontrava "a falar e a beber umas cervejas", surgiu uma carrinha branca do tipo Toyota Hiace, embora em Luanda todas as carrinhas deste género são denominadas de Hiace, de onde saíram alguns homens armados e, depois de mandarem os jovens deitarem-se de barriga para baixo, dispararam e fugiram de seguida no mesmo veículo.
No entanto, a versão da Polícia Nacional é ligeiramente diferente.
O segundo comandante da segunda divisão de polícia, intendente Eduardo Diogo, disse hoje publicamente que a informação que a polícia tem é que "um grupo de indivíduos não identificados que se faziam transportar numa viatura de marca Toyota Hiace, de cor azul, com vidros esfumados disparou mortalmente contra sete jovens que se encontravam na via pública em convívio"
A Polícia Nacional afirmou ainda que foi de imediato montada uma operação de larga escala para proceder á busca dos autores dos disparos que vitimaram os oito jovens no Largo da Frescura, assim designada por nele se encontrar uma mulemba, árvore de grande porte conhecida pela frescura da sua sombra.
Eduardo Diogo considerou o acto "bárbaro" e garantiu que "todos os mecanismos foram já accionados para se investigar e chegar aos verdadeiros culpados".
"Mostramos o nosso repúdio. Trata-se de um facto chocante e bárbaro", afirmou Eduardo Diogo, que lançou ainda um pedido para fazer chegar à polícia todas as informações sobre o crime, garantindo o anonimato das fontes.
Uma outra testemunha recordou que o grupo se reunia "quase todos os dias" à mesma hora debaixo da luz do largo.
"Não estávamos escondidos, estávamos debaixo da luz, ninguém se estava a esquivar a nada. Quem fez isto sabia ao que vinha, fez o que queria e não foi por engano porque nós estávamos debaixo da única luz que dá para a rua", anotou.
"Eles vieram para matar", defendeu este amigo e familiar dos jovens assassinados.
A mesma fonte acrescentou "não haver nenhum dos moços mortos que tivesse ficha na polícia, um era mesmo acólito numa igreja nas proximidades, ou que estivesse envolvido em actos criminais" e "só quem tem muito ódio mata oito pessoas depois de as obrigar a deitar de barriga para baixo" que era como se encontravam os corpos quando esta testemunha parcial chegou junto destes.
A morte dos oito jovens teve lugar a menos de 200 metros onde, há poucos meses, a Polícia Nacional, matou dois jovens actores que filmavam uma cena para um filme caseiro sobre um grupo de criminosos, confundindo-os com verdadeiros assaltantes.
Fonte Lusa