Luanda - “ Luanda, culturalmente, exprime-se, por exemplos, pela “ visibilidade da água”. Água do oceano da colonização que foi exorcizada por muitos dos seus escritores transformando Kalunga na perspectiva positiva da Kianda.  Água dos inúmeros rios que percorrem territórios angolanos, onde água e terra se misturam em profícuas invenções e libertações. Lama para a olaria, água para lavar roupas, fabricar utensílios, arar e irrigar os solos. Crenças na força das águas das chuvas. Na Luanda actual, a água, seu abastecimento para a cidade, o tratamento para torna-la potável e própria para o consumo é de técnicas modernas podem conviver com moringas e talhas, caixas d`água com tampas e embondeiros sagrados que dão sombra”( in Drª. Edna Maria dos Santos, da E.U.R- Brasil, nas ХІІ jornadas técnico-cientificas da FESA)           


Fonte: Club-k.net



O bairro do Rocha Pinto, é claramente um bairro da periferia e se encontra perto dos empregos, dos chamados (empregos urbanos), dos mercados e dos serviços sociais, o facto de ter estado cada vez mais à aumentar o valor pecuniário e simbólico das suas terras, cuja justificação presidente são as especulações imobiliárias que vão tomando conta dos terrenos mais apetecíveis que lhes são os ribeirinhos.



Com a nova via estabelecida, foi ainda mais valorizada com a instalação da chamada nova “ Marginal”, mais mesmo com estas mudanças o bairo não deixa de ser um exemplo de “Musseque em transição”, que com níveis elevados de pobreza, mais se  compararmos com os outros bairros peri-urbanos, de Luanda, ainda  chega a ter melhores acessos, as suas infra- estruturas e serviços, a densidade de ocupação das casas são altas e com proporções com  pessoas cuja proveniência, são aquelas províncias que viveram na plenitude as agruras do violento conflito que devastou o nosso mosaico sócio-cultural Angolano.


Esta parcela do território da maianga, apesar de hoje ser um dos bairros da cidade de Luanda, qualificado como peri-urbano, já foi considerado, como dos mais emblemáticos, pelo facto de ter sido um local onde se concentravam um dos maiores níveis de pobreza da Luanda, hoje já não tem este condão, porque outros bairros ainda se apresentam um maior índice de pobreza.



O facto de a cidade ir se estendendo significativamente para o Sul, fez com que alguns investimentos individuais, fossem surgindo, por esta via, o bairro foi tendo  a configuração de hoje, que ainda vai evoluir, ou seja hoje se apresenta menos precário comparativamente aos outros bairros cuja formação têm muita similitude na sua genese.



Não podemos deixar de assinalar que o Rocha Pinto, é um bairro de contrariedades, onde onde o processo de auto-construção “selvagem” que se observa tal noutras parte de Luanda, por incúria da Administração, não impediu houvesse iniciativas peregrinas que despertaram à atenção de alguns estudiosos da Arquitectura e do Urbanismo, como foi caso duma construção feita por um antigo funcionário da refinaria de Luanda que construiu, a sua própria casa através de tubos de perfuração que já não eram úteis na Indústria petrolífera, o homem reciclou com um piso superior a fachada que simbolizava um gorila sentado, não fosse ele um homem originário de Cabinda, pretendeu enaltecer uma das marcas mais conceituadas da floresta do Maiombe, no território Rocha Pinto.



Nós consideramos o Rocha Pinto, como um bairro com a característica de Musseque em transição,  porque possui uma mistura de Musseque em  transição e outra de Musseque periférico, pelo seu  elevado nível de pobreza, em determinadas áreas do bairro,  existem algumas facilidades de acesso, nomeadamente na denominada área dos “ Langas” de resto uma expressão pejorativa que tem sido usada na periferia,  para qualificar os nossos irmãos provenientes da Republica Democrática do Congo, é uma área como dizíamos,   onde podemos encontrar os acessos basicamente facilitados, quanto ao facto de ser periférico, deve-se as circunstâncias criadas da sua própria génese, agudizada em parte pela   evolução da guerra civil depois da independência, e até após os resultados eleitorais de 1992, onde as áreas rurais e não só tornaram-se instáveis e perigosas, provocando vagas sucessivas de imigração para Luanda.



Inicialmente as famílias deslocadas procuravam refúgios perto dos seus familiares, que migraram mais cedo para Luanda, e o Rocha Pinto pela sua localização geográfica se transformou seguramente  numa “rota obvia”.



O Rocha Pinto hoje faz parte da urbe, em virtude do crescimento acelerado do inevitável do fenómeno da urbanização, que graça à nossa capital, que segundo alguns estudos feitos apontavam que Luanda, sofreu uma quadruplicação da “sua” população e como prova disso, é que passou de 948.000 habitantes no censo de1983, para cerca de 3.200.000. (Segundo estimativas do INE, de 2000).



Segundo alguns estudos avulsos, dão conta, que a população que constitui hoje o território do Rocha Pinto é estimada em 1.500.000 habitantes, esta massa populacional hoje é constituída por uma amalgama de diversas origens e sensibilidades sócio-culturais, é um bairro com falta de saneamento básico, sem uma traça urbana definida, sem arruamentos, onde abunda as construções precárias, é visível a ausência de condições de habitabilidade, é notaria a auto-construção anárquica, que em termos práticos se traduz em dinheiro mal gasto, por parte dos sacrificados cidadãos, que procuram com toda justiça realizar um dos postulados da constituição que é o direito habitação, que é seguramente um Direito Humano fundamental, não foi por acaso que na cimeira de Estrasburgo de 1996, cujo o Lema feliz foi o da habitação. Ficou patente naquela cimeira que a auto-construção ainda é a melhor via para acudir o direito habitação, porque os governos dificilmente conseguem por si sós, cobrir todas as lacunas sociais neste domínio.



Do nosso ponto, de vista, a melhor via para se debelar este problema  ainda é a auto – construção dirigida, isto é o cidadão constrói, e Administração faz o acompanhamento técnico e orientador, no sentido de se evitar as construções brawnianas, infelizmente ainda assistidas nos nossos dias, casas feitas com muros de “ inveja” onde os caminhões entram para o interior destas casas e ninguém consegue ver sequer espreitar para o interior do quintal.



Falar da requalificação urbana do Rocha Pinto, implica falar, de um Ordenamento daquele Território do Município da Maianga, pressentimos que hoje a tendência das imobiliárias é a de tomar conta daqueles apetecíveis terrenos, pois se apresentam como ribeirinhos para nova via que estabelecida.


Ainda pelo facto deste bairro ter a particularidade de poder casar com outros bairros que os circundam, faz com goze de um estatuto diferente do havia tido, acabando por se tornar importante não só para o próprio bairro, como para a própria estruturação de urbanização dos bairros que lhes são vizinhos, quer dizer que começa a ser estruturante pela traça da cidade, os investimentos pessoas que foram feitos resultou no actual figurino do bairro, mesmo que ainda seja precário,  mas já é diferente daquele do quadro que se verificava no inicio dos anos de 1980.


Cláudio Ramos Fortuna
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Urbanista