Luanda - Há poucos dias que Lito Vidigal assumiu os destinos da selecção nacional de honras, em substituição de Zeca Amaral, que deverá rumar ao Recreativo do Libolo, Kuanza Sul.


Fonte: O Pais


A contratação de Vidigal era um dado adquirido e a informação da sua vinda a Luanda circulava em quase todos os órgãos lusos. Mas, dois dias antes da apresentação, o secretário-geral da FAF, Augusto Silva “Alvarito”, dizia ao Jornal dos Desportos que “a sua vinda não passava de mera especulação”.

 

A jogada de Alvarito não é nova e muito menos surpreendente, ao ponto de embaraçar os seus adversários internos na actual Federação Angolana de Futebol. Ela enquadra-se num sistema de jogo ainda em evidência no nosso país e que se vai tornando Escola.

 

Muitos responsáveis desportivos, políticos e militares ainda teimam em não fornecer informações aos jornalistas e à própria sociedade.

 

É um culto do silêncio que persiste no seio de muitas organizações públicas e privadas. Os responsáveis esquecemse que, à medida que o Marketing e as Relações Públicas evoluem, o segredo vai perdendo a força histórica de ser a grande alma do negócio, exceptuando nos Serviços de Inteligência e outros conexos, onde o próprio ‘metier’ exige mais o resguardo que outra coisa.

 

Os anos vão passando, apesar da existência de vários cursos de comunicação social nas universidades públicas e privadas existentes no país, o comportamento das instituições e titulares não difere muito do passado. Embora, verdade seja dita, existam aquelas cujos responsáveis já perceberam que, nesta era da gestão moderna, a melhor opção é a partilha da informação e cooperação com os órgãos de comunicação social.

 

Quase uma década depois do fim da guerra, em que alguns temas eram considerados melindrosos porque atentavam contra a segurança do Estado, ainda assistimos à aplicação de métodos ortodoxos e à sua perpetuação a nível dos detentores de cargos públicos, responsáveis de empresas públicas, privadas, tribunais, associações e organizações não governamentais.

 

Muitos nem sequer se dão ao trabalho de procurarem assessoria em muitos dos formandos em Ciências da Comunicação ou Comunicação Social, que, em princípio, estão mais preparados para lidar com a imprensa. É espantoso que o acesso à informação continua a ser o maior ‘Kalkanhar d’Akeles’ cuja missão é informar e dos próprios cidadãos que necessitam de ser informados. Muitos esquecem-se que a informação é um direito consagrado na Constituição da República de Angola.

 

Como entender, por exemplo, que, até hoje, o Tribunal Supremo não tenha reagido a uma informação sobre a não execução de um acórdão aprovado pelo seu plenário há seis anos? O que se estará a passar com o próprio Conselho Superior da Magistratura, que parece ter alinhado no mesmo diapasão, ao não protestar a carta de um cidadão aflito que coloca em causa a actuação dos seus integrantes?

 

Infelizmente, alguns ainda vêem a comunicação social como sendo inimiga, incluindo muitos assessores de imprensa que, só por respeito ao princípio do contraditório, recebem o telefonema de jornalistas que querem apurar determinadas informações. Na realidade, muitos deles nem sequer sabem o que andam a fazer e quando soltam a lábia nem se aproveita uma única oração.

 

Esta propensão para o culto do silêncio remete-me, infelizmente, para o triste episódio em que, numa das fases mais críticas da economia mundial, que atingiu os poderosos Estados Unidos da América e a Europa de um modo geral, os nossos governantes afirmaram que Angola não seria afectada.

 

Foi preciso que o Presidente José Eduardo dos Santos apresentasse um discurso diferente para que toda a orquestra governativa e muitos ditos analistas económicos e políticos virassem completamente o disco e entoassem em uníssono a canção da crise económica, reconhecendo que sofreríamos os efeitos deste problema que nasceu na América.


O mesmo se aplica ao secretário  geral da FAF, que dois dias antes desconhecia Lito Vidigal, como titulou a publicação desportiva das Edições Novembro, mas esteve presente na sua apresentação.


*Dani Costa