Brasil - O ditador Hosni Mubarak estaria ultimando os preparativos para deixar o Egito, segundo adiantou, no início da noite desta sexta-feira, o canal norte-americano de TV CNN.
Fonte: AFP/correiodobrasil.com.br
Ditaduras em África em colapso
De acordo com o editor Marco Vicenzino, que escreve sobre análise de risco geopolítico e dirige a organização Global Strategy Project, com sede em Washington, a pressão popular que derrubou o líder do regime na Tunísia, Ben Ali, tem influenciado os egípcios a lutar pela queda da ditadura que se mantém no poder há 30 anos.
“A melhor opção para Mubarak é oferecer ao Egito uma pouso seguro após deixar o país, permitindo que as eleições marcadas para setembro deste ano ocorram de forma livre e justa, sob a supervisão dos organismos internacionais”, escreve o jornalista.
Ainda segundo o editor da emissora norte-americana, “a promessa de deixar o caminho livre para uma transição capaz de manter a estabilidade política do Egito demanda um programa político pragmático, capaz de garantir a segurança de Mubarack, que já completou 82 anos, e seu círculo mais próximo”.
Os EUA apoiaram a instalação das ditaduras tanto no Egito quanto na Tunísia, “mas as mudanças na região são inevitáveis”, conclui Vicenzino.
O ex-presidente norte-americano, Jimmy Carter, disse que a instabilidade política e a revolta da população no Egipto é um “terremoto” e que o presidente egípcio Hosni Mubarak provavelmente terá que deixar o cargo. O arquiteto do acordo que levou a paz entre Egito e Israel falou após criticas do líder da oposição no Egito, ElBaradei, de que os Estados Unidos apoiam um ditador.
Na Igreja Batista Maranata que frequenta, Carter comentou que os acontecimentos são “os mais importantes no Oriente” desde que Mubarak assumiu o cargo em 1981. Em sua opinião, a situação – com milhares em protesto nas ruas, pelo menos cem mortos e uma onda de saques - deve melhorar na próxima semana, mas o presidente terá de partir.
“Os Estados Unidos querem que Mubarak fique no poder, mas o povo é que decide”, declarou. Seu porta voz, Deanna Congileo, disse que o ex-presidente não falará mais sobre o assunto.
Foi Carter quem levou os então presidente egípcio, Anwar Sadat e primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, para um acordo de paz assinado em Washington em 1978, que rendeu a ambos o Prêmio Nobel da Paz. Em seguida, Mubarak se tornou vice-presidente do país e assumiu o cargo máximo no Egito em 1981 quando Sadat foi assassinado por opositores do acordo.
O ex-presidente ainda elogiou o Omar Suleiman nomeado no sábado o primeiro vice-presidente do Egito em 30 anos. "É um homem inteligente de quem gosto muito", afirmou, contando que tem mantido contato com o general egípcio. "Nos últimos quatro ou cinco anos quando eu vou para o Egito, não procuro Mubarak, que fala como um político. Se quero saber o que está acontecendo no Oriente Médio, eu converso com Suleiman que, até onde sei, sempre me diz a verdade.”
Americanos serão evacuados
O Departamento de Estado norte-americano anunciou que que há milhares de cidadãos dos Estados Unidos no Egito, que talvez precisem ser evacuados. O governo está disposto a fretar aviões para isso.
A secretária adjunta de Estado, Janice Jacobs, afirmou que apurará nos próximos dias o número de pessoas interessadas em deixar o país árabe. Eles devem voar para Atenas, na Grécia, Istambul, na Turquia, e Nicósia, em Chipre.
Hillary teme "ideologia radical"
Neste domingo, a chefe da diplomacia americana Hillary Clinton defendeu uma "transição organizada" no Egito. Questionada por um jornalista da rede ABC sobre se considerava que as mudanças ministeriais anunciadas por Mubarak durante o fim de semana eram suficientes, ela respondeu: "É claro que não". "É apenas o começo do que deve acontecer, um processo que leve a medidas concretas e culmine nas reformas democráticas e econômicas que temos pedido, e das quais o próprio presidente Mubarak falou em seu discurso (de sexta-feira)", acrescentou.
Ela admitiu que os Estados Unidos temem que um grupo radical assuma o poder. "O que nós não queremos é que uma ideologia radical tome conta de um país tão grande e importante no Oriente Médio", declarou
Entretanto, o governo do presidente Barack Obama não pretende neste momento suspender a ajuda financeira que dá ao Egito, ou mesmo considerar esta hipótese, segundo Hillary.
"Não há qualquer discussão neste momento sobre o corte de qualquer ajuda", enfatizou a secretária de Estado. "Estudamos e revisamos nossa ajuda constantemente, mas por hora buscamos transmitir uma mensagem muito clara: o que desejamos é que não haja violência ou qualquer provocação que desencadeie a violência", afirmou.
*com AP