Joanesburgo - Com pouco menos de 23 anos de idade, Demarte Dachala Pena,já considera-se um homem com muito para contar sobre a sua “pequena” jornada de vida. Tendo isso em conta o jovem estudante, hoje residente na República da África do Sul,decidiu então escrever uma autobiografia intitulada-“MY ROYAL REBEL BLOOD (BEHIND THESE SCARS)- The Autobiography of Demarte Pena”.Que traduzindo para português significa ,”MEU REBELDE SANGUE REAL (POR DETRÁS DESTAS CICATRIZES)-A autobiografia de Demarte Pena”.


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Fonte:Club-k.net


“Esta  para além de ser uma autobiografia relata um pedaço da história de um país que viveu os malefícios de uma guerra civil durante muito tempo. Aborda as suas mudanÇas políticas, sóciais e culturais. Porém, tudo isso sobre o olhar atento de um jovem”.



C.K.-Antes de comeÇar a falar do livro gostaria de saber mais sobre si.Quem é Demarte Pena e o que faz?



D.Pena-De momento sou lutador professional da da EFC África e estudante de comérciona universidade de Pretória(estou no 3º ano).



C.K- Quero desde já lhe felicitar, pois soube que no passado dia 3 de Fevereiro participou do que foi o seu primeiro campeonato como membro oficial da EFC África (modalidade semelhante a luta livre) e venceu. Porém, acho que muitos irão questionar o facto de ter optado por este combate que chamamos de “luta livre” como desporto. Gostaria que nos explicasse a razão por trás desta sua decisão.


D.Pena-Bem - sei que muita gente irá associar isto ao factodo meu avô (PR.Savimbi) ter sido guerrilheiro,como de igual forma, foram os meus tios (dentre estes Salupeto Pena e Marcial Dachala) e também foi o meu pai (General Ben Ben).Realmente têm razão, ser “guerreiro” esta no meu sangue e faz parte da minha genealogia.Mas acho que é importante deixar bastante explícito que a guerra que faÇo hoje é diferente.Esta  é feita dentro de regulamentos e acordos, que são assinados pelas partes envolvidas antes da competiÇão.


Independentemente de ganhar ou perder a disputa,no final é obrigatório trocar um aperto de mão com o meu oponente e seguir em frente.Ao contrário do que muitos pensam, um integrante de luta livre não faz somente o uso do corpo, para vencer o seu adversário mas a mente é do mesmo modo bastante importante e eu gosto disso. Apesar de estar a fazer faculdade de comércio e ter o que considero de espírito empreendedor, não consigo imaginar-me a passar todos os dias sentado atrás de uma mesa de escritório fazendo contas e assinando papéis, sem nenhuma outra ocupaÇão.A vida monótona por acasonão faz parte da minha natureza.


C.K.-Já alguma vez no seu quotidiano sentiu-se obrigado a fazer uso dos golpes que aprendeste na academia?



D.P.- Não! Quem me conhece sabe que não sou um homem violento. Não costumo aplicar os golpes que aprendo na academia na minha vida quotidiana, por mais que tentem tirar-me do meu estado de sanidade normal.


C.K.-Demarte, é estudante de uma das melhores universidades do país e de África, refiro-me a “Universidade de Pretória”. Mas, ao contrário do que muitos pensam, você não faz nem direito nem política.Sendo que lhe vejo bastante inclinado nestas áreas, porque é que optou em seguir comércio?


D.Pena.- Para comeÇar, o facto de ter escrito uma biografia que falasse um pouco sobre política não fazde mim um político. Aliás,so falei de política porque a biografia aborda todos os momentos vitalícios da minha vida e a política tem um grande papel na maioria destes.


Como jovem,tenho os meus objectivos de vida bem traÇados e pretendo cumpri-los não cedendo as dificuldades que provavelmente vou encontrar durante o meu percurso .De igual forma como bem sabe,apesar  da minha árvore familiar ter sido constituída por políticos e idealistas (dos quais eu muito amo e respeito), eu não me sinto obrigado a seguir os mesmos passos que eles.Não creio que é correcto ter de fazer algo  somente por ser o filho do “fulano ou do sicrano”.



C.K- Chegaste a África do Sul,ainda muito pequeno.Quantos anos tinhas,com quem vieste e para com quais objectivos?


D.Pena.-Não consigo lembrar-me da data concreta, mas acredito que foi entre os anos de 1999, e 2000.Tudo comeÇou quando o meu pai (general Ben Ben) veio para aqui, já na altura bastante doente, e a minha minha mãe veio junto como acompanhante.Infelizmente,ele faleceu aqui,em centurion no Unitas hospital e logo após a morte dele a minha mãe achou conveniente que todos nos mudassemos para cá. Não só para comeÇar uma vida nova, mas também porque naquela altura as coisas em Angola jánão estavam favoráveis para o nosso lado.


C.K.-Já falando do livro. Demarte, o título por si só já é bastante polémico.”O meu rebelde sangue real”.O que quer necessáriamente dizer com isso?



D.Pena.-Na realidade, faÇo o usoda palavra ”rebelde”  como uma troca jocosa de palavras(um trocadilho ou contraste), entre mim e o meu passado. Em primeiro lugar,a palavra rebelde representa o período durante a guerra em que os meus país eram conhecidos e tratados por este nome.Em segundo lugar,a palavra “rebelde” demonstra o meu lado mais pessoal.Estaé propícia, para defenir a fase da minha infância em que fui bastante malandro,traquina e indisciplinado.Eu era uma crianÇa muito travessa e buliÇosa,tanto mais que tenho cicatrizes até hoje que podem comprovar isto.Portanto acho justo dizer que a palavra rebelde no título tem dois significados.


C.K.-Ao descrever o livro diz  que “Demarte Pena faz parte de uma família com sangue nobre mas hoje esquecida, cuja  foi parcialmente destruída durante o período da guerra”.Palavras muito amargas sobre o meu ponto de vista.PeÇo que nos fale sobre o porquê das mesmas?



D.Pena.-Apesar de ainda não ter desvendado muito sobre a minha história de origem familiar,sei que somos de origem real.Mas,infelizmente agora neste período pós-guerra, ninguém mais lembra-se disso.As pessoas evitam falar de nós e tratam-nos como se fossemos “monstros”.Não podemos falar quem somossem ser criticados pois ainda existem pessoas que nos discriminam(eu não os julgo ou condeno por isso...têm as suas razões e eu entendo).Sem falar que muitos dos membros da minha família faleceram durante o período da guerra, o que acabou tornando-nos “poucos”.


“A minha família, fazia parte das chefias que governavam  o grupo de  “REBELDES” (partido da UNITA). Estes lutavam contra as forÇas do “bem”,(governo MPLA), durante uma guerra civil que durou 27 anos...Guerra esta que findou em 2002 após a morte do meu avô, PR.Jonas Savimbi”.


C.K.- Foi difícil ter de escrever estas palavras, uma vez que claramente este assunto ainda o traz bastante dor e angústia?Qual é o verdadeiro significado da palavra ”REBELDE” neste contexto?


D.Pena.- Foi duro sim,mas tive de fazê-lo sem pensar muito na dor e na angústia que isto me causaria.Precisava dizer a “verdade” e para muitos é esta aúnica verdade.


Eu faÇo o uso da palavra “rebelde” neste contexto porque,  quando o governo angolano falava de nós para a imprensa do qual eles tinham o total controle. Eles nos identificavam como tal.Então, ser rebelde para mim não é nenhuma ofensa. Ao meu ver, “rebelde” é simplesmente alguém que contrária a opinião de um outro alguém, que tem em suas mãos o poder da forÇa deimposiÇão.Esta pessoa ésomente considerada “rebelde”, porquenão tem a sua disposiÇão a voz que controla a maioria. Refiro-me  ao poder da imprensa, que é o utensílio usado para mostrar ao público quem esta correcto ou errado, e isso é feito pelo modo que a “verdadeira informaÇão” a elesé embutida,através da quantidade de vezes queé repetida nas televisões e nas rádios. O “rebelde” quase nunca se pode explicar ou compartilhar com o povo o sua versão da história.Portanto ser “rebelde” para mim em certos casos,chega até a ser um motivo de orgulho.


C.K.-É evidente através do livro, que tú também te consideras como uma das vítimas da guerra.Neste sentido, acho oportuno perguntar-te sobre um ponto de vista “menos político” e sim mais “humano e pessoal”,como tú definirias a guerra civil que aconteceu no nosso país? Quais foram as consequências que esta teve para si?


D.Pena.- Vou primeiramente falar das consequências.No meu caso,Já tive uma família “grande”, em tamanho, e estatuto social. Hoje porém, a situaÇão em que nos encontramos infelizmente não é tão agradável.O meu  pai foi um grande homeme o meu avô foi um grande homem mas qual é a imagem que eles têm diante dos olhos do povo? Possa ser que eles cometeram imensos erros sim, mas acredito que eles também tiveram inúmeras qualidades e virtudes. Pode não parecer, mas sei que eles tinham sobretudo,grandes planos para obenefício do nosso povo.Planos esses, que no meu ponto de vista, também deveriam ser mencionados.



C.K.-Falando do seu pai Demarte. Ao decorrer do livro descreves vários momentos que tivestes com ele (falecido general Arlindo”Ben-Ben” Pena).Qual é a imagem que tens deste grande homem que gostarias que a nossa juventude tivesse também?



D.Pena.-Um herói...um angolano dedicado e decidido a lutar pelo melhor do seu país.Ele tinha e sempre teve o povo angolano em primeiro lugar.Quis defendê-los contra aquilo que considerou ser um “grande mal” .Considero-lhe um dos melhores líderes militares que o  nosso povo já teve..O dever de um general também incluí obedecer ordens dos seus superiores quer ele concorde com estas ou não, e isso o meu pai  soube fazer muito bem.



C.K.-Ainda na biografia, também descreve o momento em que perdeu os seus progenitores. Achei bastante corajoso mas...porquê será, que decidiu tornar pública uma dor tão íntima?Será que é para que possamos ver o lado humano e familiar que existiu por detrás de um robusto general?



D.Pena.-Sim com certeza.A imagem que o povo angolano tem do meu pai já esta padronizada em suas mentes e eu receio que isto não só persista na nossa geraÇão mas seje também transmitido para as demais geraÇões vindouras.Para eles,o general Ben Ben ”foi um animal”, um  ser humano “sem escrúpulos”.Eu quero mostrar o lado humano dele. Como filho é doloroso ver e ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre o meu pai.


Apesar de tudo, acredito que tanto ele como os meus tios e o meu avô, apenas fizeram o que fizeram porque estavam cientes que aquilo era o mais correcto para o nosso povo.Insisto, se estavam certos ou errados eu não sei.Eles não foram perfeitos e nenhum homem é ou será.
O meu pai faleceu e sobre isso eu já não tenho muito a dizer.A vida é assim,tem um princípioporque existe um fim.Sei que,ele sabia do risco que corria quando decidiu ser o que foi e enfim...Eu pessoalmente não quero isso para os meus filhos. Não quero morrer lutando pelo idealismo. A minha luta pelo meu país será feita de uma outra forma. Através dos meus estudos.



C.K.- Concluiu a biografia com lindas frases inspiradoras. Sobre as quais, também menciona que hoje, infelizmente não sente orgulhoso do partido que um dia foi tão importante para os membros da sua família ao ponto de vários terem sacrificado a própria vida pelo mesmo. O que acha que falta neste momento no partido da UNITA e qual é a razão deste seu descontentamento?



D.Pena.-A realidade é simples.A UNITA do passado já não é a UNITA de hoje em termos de ideias e princípios.Esta muito longe disso.Os que se dizem estar no controle do partido acham que os ideias deles estão correctos e sinceramente só me basta crer que eles estão certos.Não vou argumentar muito acerca das decisões deles, até porquenão tenho as qualificaÇões políticas necessárias para os criticar.Tudo que eu esperoéque eles não se esqueÇam do que já se fez pelo partido e que sinceramente estejam dedicados a fazer melhor.


C.K.-Estarias disposto a voltar a viver em Angola? Caso isso aconteÇa, estarás também disposto a ingressar no partido que tú mesmo descreves como uma”heranÇa familiar”?



D.Pena.-“HeranÇa familiar não!”. Não quero ser mal entendido.Disse que o partido foi muito importante para a minha família mas tal como já havia dito, não me sinto obrigado a seguir os mesmos passos que os meus pais. Agora, sobre o meu futuro dentro do partido: neste momento não sei dizer.O problema da política é que na maior parte das vezes,só aqueles que estão no poder sabem a verdadeira razão da guerra. Desta forma,aqueles que somente cumprem ordens,acabam sempre lutando por uma razão  da qual eles desconhecem.


Não posso decidir nada enquanto não saber qual é a real visão e quais são os reais objectivos do partido, sobre o ponto de vista daqueles que encontram-se na lideranÇa.Não vou lutar por uma guerra da qual desconheÇo a verdadeira origem de sua existência.


C.K- Demarte,é importante lembrar que o futuro político de Angola também encontra-se nas mãos dos jovens. Uma vez que apartir dos 18 anosde idade a nossa constituiÇão já nos permite votar,quero saber o que aconselhas aos jovens que não levam isto tão a serio?




D.Pena.-Desde já não os critico.Às vezes na vida por mais que nos doa uma ferida é necessário meter álcool para que a mesma cure rápido, e para evitar que esta adquira infecÇões.Acho bom salientar que, a escolha de desinfectar a ferida  para ajudar na rápida melhora da mesma,é nossa e de mais ninguém.Devemos ser realistas nestas circunstâncias.Muitos jovens não querem meter álcool na feridapara evitar que está doa em vão,pois isso se calhar nem ajudará na melhoria.Portanto por vezes muitos acham melhor deixar a ferida assim para que o tempo se encarregue de curá-la.



C.K.-Ainda falando dos jovens e a política.Hoje em dia felizmente,acho que fizemos parte de uma sociedade em que a nossa opÇão partidária já não resulta em segregaÇões dentro desta.Acreditas que isso é real ou somente uma farÇa?



D.Pena.-Sinceramente,não te sei dizer.Vou dar-vos um exemplo apartir da minha experiência aquina África do Sul.Aqui,um indivíduo pode sair a rua com uma camisola de qualquer partido que seje e ninguém o irá criticar ou atirar pedras por isso.Quem sabe talvez, não seja esta a mentalidadeque aindanos falta em Angola?Temos que caminhar nesta direÇão...


Apartir do momento que eu poder vestir a camisa do partido que eu quiser e poder andar pelas ruas sem magoar ou ferir ninguém.Aí sim, estarei convencido que esta tudo bem.De momento, não critico as pessoas que ainda não conseguem aceitar isso, porque é evidente que somos idealisados talvez pelo nosso passado,que realmente não ajuda. As pessoas têm em suas mentalidades que se somos do partido da UNITA, somos animais diabólicos e apesar do tempo e das pequenas mudanÇas, actualmente ainda existe muita gente que pensa assim.O que pessoalmente considero como uma lastimá.


C.K- Creio que a maior heranÇa que alguém pode teré o sobrenome, pois este automaticamente relata o histórico vivido por uma família.Tens orgulho de ser um Dachala Pena?Será que já existiram momentos em que tiveste vergonha disso?



D.Pena.-NUNCA! NUNCA! NUNCA! Independentemente das vezes que jáfomos criticados e julgados.Independentemente das vezes que quiseram crucificar-nos.Apesar das pessoas nos chamarem de rebeldes,bárbarose vândalos. Independentemente da dor que o meu sobrenome carrega,jamais me envergonharei de ser quem sou.Não sou quem sou pelo que as pessoas dizem mas sim pelo sangue que carrego nas veias que é vermelho como o de qualquer ser -vivo.Que tipo de ser humano serei se rejeitar o meu passado?A minha história?Se rejeitar os meus?
Jamais terei vergonha dos princípios e dos ideias políticos que os meus familiares tiveram para o povo angolano.Eu não os julgo por isso e nem sequer irei opinar sobre isso.Além de respeitar o meu passado eu amo muito a minha família.Não os condeno por nada.Jamais,jamais o farei.


C.K.-Qual é a mensagem que deixarias para todos os jovens, acercado triste passado de guerra civil vivido no nosso país e o sobre o futuro promissor que nos espera?



D.Pena.-Do fundo meu coraÇão,tudo que peÇo, é que o povo angolano seje mais humilde e solidário.Por enquanto somos um povo muito competitivo, o que seriabom em certas circunstâncias masépéssimo nas circunstâncias em que nos encontramos hoje.Isso porque, somos competitivos entre nósirmãos da mesma terra,em vez de sermos todos competitivos para que juntos possamos melhorar o nosso país, fazendo com que este, se possaigualar aos países de grande potência mundial.Nos outros países os cidadãos apoiam-se entre si.Independentemente da província,bairro ou estado de cada um. ComparaÇões a parte, mas, acredito que em Angola as coisas  também devem ser assim.


C.K.-Para concluir gostaria de saber qual é imagem que gostarias que tivessemos da tua família,não sónós os jovens como toda a sociedade angolana de um modo geral?


D.Pena.-Gostaria que soubessem que nós somos seres humanos.Antes de acreditar em qualquer coisa que seje peÇo que tentem conhecer-nos primeiro.Talvez muitos ficariam surpresos ao saber que o funge que vocês comem é o funge que nós comemos.DanÇamos o mesmo kudúro,damos as mesmas passadas de semba e “curtimos” a mesma tarrachinha.Somos filhos da mesma Angola e O QUE NOS TORNA DIFERENTE É QUASE NADA,comparando com as coisas que nos tornam iguais.Já se passaram muitas águas sim e já foram derramadasmuitas lágrimas iden, mas nós também tivemos percas.Devemos concentrar-nos no futuro brilhante que nos espera e lembrar que tudo que aconteceu, agora é passado e não somos museus para vivermos do passado.


A todos aqueles que ficaram interessados em ler a autobiografia de demarte Pena,por favor enviem um email para Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. garanta a sua cópia.


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