Londres - Em conversa com um amigo meu em Londres, a propósito das convulsões políticas, que na Tunísia depuseram o regime do Presidente Zine al – Ben Ali e agora derrubar o derrube do regime Faraónico de Hosni Mubarak, comentei que as mesmas não se restringiam somente a região do Magreb e do médio Oriente, como alguns comentadores disseram até aqui.

 

Fonte: Club-k.net

Tarde ou mais cedo, num horizonte de tempo, entre cinco a dez anos, os seus efeitos contagiantes poderiam mesmo alastrar-se para a chamada “África Subsariana”.


_Não! No meu país isto não seria possível. Disse o meu amigo.


_Mas porque não? Perguntei. Ao que ele respondeu simplesmente: O modus operandi das forças de segurança do meu país é diferente das forças de segurança da Tunísia.


Isto levou-me a uma profunda reflexão: Será mesmo verdade que isto não pode acontecer num dos países da África Subsariana?


A ocorrência de manifestações políticas contra os regimes ditatoriais e corruptos da África subsahariana, a semelhança dos países, como Tunisia e Egipto não dependem primariamente do “modus operandi” das forças de defesa e segurança, mas sim de factores, como a formação académica e profissional da maioria populacional destes mesmos países, assim como do acesso aos meios de comunicação social, entre outros.


Obviamente, existem também diferenças fundamentais na composição das foras de defesa e segurança entre os países da África do norte e dos seus contemporâneos subsarianos.


Como ficou latente nas manifestações da Tunísia e Egipto, as forças de segurança e o exército tem demonstrado um alto grau de profissionalismo e civismo, fruto da formação académica e profissional dos seus membros. Daí que o exército e a polícia não saíram a disparar contra os manifestantes.


O mesmo porém, não se pode antever num país da África subsariana. Porque nestes países, por causa do baixo nível de escolaridade e da baixa formação profissional dos elementos que compõe as forças de segurança e o exército talvez se assistisse a actos de massacres e derramamento de sangue, perpetrados por forças de seguranças destes regimes e não por causa do suposto “modus operandi”, que o meu amigo aludia.


Portanto, independentemente destes factores subjectivos, é quase um ponto assente que as implicações políticas dos protestos contra os regimes ditatoriais, primeiro na Tunísia e agora no Egipto, certamente poderão chegar aos seus irmãos da África Subsariana. Não importe quanto tardem em chegarem.


As minhas crenças não se baseiam em convicções messiânicas, não. Mas sim, nos factos que a seguir descrevo:


Vivemos numa era de globalização, em que os agentes reguladores do Estado, são incapazes de controlar os fluxos de informação, dentro e fora das suas fronteiras. O advento da internet e a dimensão extra – territorial dos órgãos de informação, tornou possível que os eventos localizados num determinado país ou região, sejam transmitidos simultaneamente para os diferentes pontos do globo.


Portanto, o mundo não poderia ficar passivo e indiferente a observar o desenvolvimento dos tumultos políticos nestas regiões do globo.


Ultimo e mais importante, a universalidade dos valores humanos, que são inerentes a todos seres humanos, independentemente da raça, classe social, cultura, crença filosófica e religião, que são: a liberdade, justiça e igualdade.


Partindo destes pressupostos, posso afirmar inequivocamente que aqueles que pensam que os africanos da África subsaariana não podem emular os seus irmãos do norte, podem estar enganados.


Os protestos na Tunísia tiveram como origem, a morte de um jovem graduado e desempregado, que se incendiou, em sinal de protesto por causa da repressão e mal tratos a que foi sujeito por elementos da policia tunisina, quando o mesmo pretendia simplesmente vender os seus legumes e vegetais nas ruas da cidade. 


A falta de liberdades fundamentais, praticas ditatoriais, corrupção, unido aos problemas económicos e sócias graves com que se debatem as populações, em particular os jovens da África do Norte estão muito bem presentes e em maior escala nos países da África subsahariana.


Os níveis de pobreza, desemprego e a falta de condições básicas, como saneamento, a água potável, energia, saúde e educação são bastante superiores nos países da África subsahariana que nos países do Magrebe.


Premissas estas, que por si só seriam suficientes para desencadearem manifestações públicas nestes países.


Assim como na maioria dos países do Magrebe e do Médio Oriente, na África Subsahariana a maioria dos actuais presidentes estão no poder há mais de duas décadas e os jovens que nasceram pos independências não conhecem um outro chefe de Estado.


É importante destacar que, os líderes africanos não devem esperarem que os ventos que sopram na região do Magrebe, cheguem primeiro na região subsariana para encetarem as reformas políticas, que ha muito já deviam ser feitas.


Antes pelo contrario, os eventos que assolam actualmente os países do Magrebe abrem uma oportunidade histórica para os líderes políticos da África em geral, assim como outras regiões do mundo para empreenderem reformas políticas credíveis e abrangentes, e que levem de facto a melhoria das condições de vida e o bem-estar social das suas populações.


Porque os ventos da mudança que hoje sopram na Tunisia e Egipto não se restringem a uma região, povo, cultura e raça. Eles sopram para toda a humanidade.