Lisboa - Sob titulo “Há quem queira repetir o mundo árabe em Angola a 7 de Março”, o jornal português ioline.pt tras uma reportagem dando conta que no país “Foi convocada anonimamente pela internet mas há quem lhe dê credibilidade e estude participar”. Retomamos o texto que segue na integra.
Fonte: ioline.pt
Ninguém sabe quem convocou a manifestação para 7 de Março em Luanda. Ou ninguém quer dizer quem convocou uma manifestação para 7 de Março em Luanda. E ninguém sabe se haverá mesmo manifestação em Luanda a 7 de Março. O certo é que toda a gente com acesso à internet em Angola parece ter conhecimento da sua existência e há até mesmo quem esteja a analisar a possibilidade de aderir. Há inquietação entre os portugueses que vivem na cidade e o facto de o serviço de internet estar interrompido há dois dias por causa de uma avaria serviu para aumentar os rumores e dar maior credibilidade à convocatória.
"Não temos nenhuma ligação à sua organização mas estamos dispostos a apoiá-la", disse ao i José Patrocínio, da associação OMUNGA, ONG de defesa dos direitos das crianças sediada em Benguela e com ligações à britânica Christian Aid. "Não temos ainda dados suficientes sobre a manifestação, depende muito da organização e dos objectivos, mas vamos agora discutir o assunto internamente", disse ainda.
"Esta é a segunda tentativa de convocar anonimamente uma manifestação mas o ambiente não é favorável, a não ser que haja articulação entre organizações", explicou por telefone, desde Luanda, Filomeno Vieira Lopes, secretário- -geral do Bloco Democrático.
"Há condições para se fazer uma manifestação. Vamos ver os sinais", acrescentou o político e economista.
Rafael Marques, o conhecido jornalista independente angolano, chama à convocatória da manifestação, de que toda a gente fala à boca pequena, "rumores inconsequentes".
"A situação de Angola não se resolve pela internet. É preciso organização e debate e um outro tipo de consciência. A manifestação por imitação não resolve os problemas angolanos", explicou o jornalista.
Uma outra fonte diplomática, contactada desde Lisboa, confirmou que anda uma "coisa a cirandar" na internet sobre uma manifestação, embora não lhe tenha sido dada muita credibilidade nos meios diplomáticos.
Só que Luanda é uma cidade onde os rumores têm campo fértil para vicejar e desde o passado dia 4 (que marcou o cinquentenário do início da luta armada em Angola) que há "muita informação a circular", adiantou outra fonte diplomática.
Um membro do governo angolano, que preferiu não ser identificado, foi taxatório na sua resposta: "Isso é mentira, não há nenhuma manifestação pública convocada". Este alto dirigente angolano negou igualmente que haja tropas especiais (os vulgares ninjas) na rua. E também "não há militares nas ruas de Cabinda", como chegou a ser referido ao i.
"Houve uma tentativa de manifestação no fim-de-semana em Cabinda que não se chegou a concretizar porque a cidade foi colocada sob forte policiamento", afirmou Filomeno Vieira Lopes. Até ao fecho desta edição tentámos contactar vários dirigentes de associações de defesa dos direitos humanos em Cabinda, mas todos eles tinham os telefones fora de serviço.
Na sexta-feira passada, no Huambo, no centro de Angola, centenas de polícias cercaram edifícios da UNITA e ocuparam zonas da cidade por causa de uma manifestação convocada para protestar contra o julgamento de um militante do Galo Negro por agressão a um soba, adiantou a rádio Voz da América. Segundo Rafael Marques, o governo foi rápido a reagir "porque havia rumores de que a UNITA pretendia retomar a guerra", mas quando os militares viram que se tratava de um assunto político retiraram-se".
*Com Joana Azevedo Viana e Kátia Catulo