Holanda - Educar um povo a não reclamar pelos seus direitos, é na minha opinião, um crime, da mesma maneira que considero que educar alguém que está a ser atacado a não defender-se, é crime. Sou da opinião sincera que o direito de protexto, de manifestação ou de reclamação(que no fundo dá no mesmo) deve ser um exercicio legal a ser exercido por qualquer cidadão que sinta que os seus direitos civicos ou constitucionais estão a ser usurpados, ou pelo menos, não estejam a ser garantidos.


Fonte: A-patria.com

"Quem não chora...não mama!"

O que faz diferença é a maneira de se protestar. Existem protestos violentos, e protestos pacificos. Dependendo da capacidade, habilidade ou disposição de um determinado regime dialogar ou não com a parte protestante, as manifestações podem terminar em ações violentas e descontroladas, ou prosseguír pacificamente.


 
Estou ainda a recordar-me da manifestaçao levada a cabo pelos nossos compatriotas angolanos no dia 4 de janeiro de 1961, na baixa de Cassanje em Malange. O mobil da manifestação (também podemos lhe chamar de protexto porque dá tudo no mesmo), era a proibição do cultivo da mandioca(um alimento tipicamente africano) e a obrigatoriedade do cultivo do algodão e o aumento dos impostos deste, pela compania belga colonial, a Cotonang. A reacção das autoridades coloniais portuguesas foi imediata e muito violenta: usando aviões que descarregavam bombas napalm sobre uma população indefesa, causaram a morte de milhares de pessoas. Este acontecimento hediondo causou tanta revolta entre os angolanos que servíu de ignição para o inicio da luta armada iniciada um mês depois, a 4 de fevereiro de 1961.
 


Actualmente comemoramos em Angola todo o dia 4 de Janeiro como um feriado oficial nacional, em memoria das vitimas. Nunca antes na historia de Angola se verificou uma manifestação daquela magnitude, que era, no considerar dos colonos portugueses da altura, uma acçao impossivel ou impensavel da parte dos autoctenes angolanos. Com a independencia nacional entramos numa outra era, em que os angolanos autoctenes finalmente controlaríam os seus propios destinos, e um dos motivos que guiou a luta anti-colonial era luta contra a exploração dos angolanos por outros povos, nesse caso os portugueses. A exploração, a usurpação das riquezas da terra, a usurpação da nossa identidade africana e o resgate da nossa dignidade, dos nossos valores, da nossa cultura e linguas africanas, e principalmente, da nossa liberdade e da nossa terra seríam os frutos da nossa independencia. Pelo menos era assim que os angolanos que lutaram de verdade contra o colonialismo pensaram.


 
Passados 35 anos e olhando para atraz, verificamos que os ganhos da nossa independencia ainda são uma miragem para a maioría dos angolanos, especialmente dos angolanos autoctenes que agora ficaram constitucionalmente sem terra(passou a ser propiedade do estado). Verificamos que as imensas riquezas do nosso país, ainda não servem a maioría dos angolanos, mas também é propiedade privada só de alguns. Com um governo super centralizado como o nosso, as riquezas do país e o seu dividendo se concentram sempre nas mesmas pessoas, num ciclo vicioso que deu lugar a uma corrupção que praticamente já se tornou institucional. A policia angolana reprime tanto ou pior que a PIDE-DGS, ao em vez de ser uma entidade protectora dos cidadãos, torna-se cada vez mais uma entidade apenas ao serviço de uma pequena elite.


 
A maioría dos angolanos sente-se estrangeiro neste país que cada dia que passa enterra a africanidade e desenha uma angolanidade também atípica, tal como a nossa constituição, em que nela o angolano autoctene se revê como estrangeiro dentro da sua própia terra. Nem as nossas linguas nativas foram oficializadas nesta nova constituição, mas apenas o português, que é uma lingua imposta pelo colonialismo.


  
Nos encontramos debaixo de uma governação que administra os recursos de um país mas sem prestar contas aos seus verdadeiros donos: o povo. A maioría dos nossos líderes se tornou arrogante e insencivel demais perante o sofrimento dos angolanos, vivem num mundo só deles enquanto pregam em orgãos como o Jornal de Angola e outros que Angola está a mudar, estamos a crescer, somos os maiores, somos os melhores, etc. De certeza que a analise dos nossos dirigentes é feita de um prisma totalmente egocêntrico, esquecendo-se que o maior indicador do crescimento de um país é a qualidade de vida do povo, o acesso aos serviços de saúde, de educaçao, do emprego. E vivendo num país riquissímo como Angola, em 35 anos de independencia e 9 anos de paz, já era altura de começarmos a falar também de subsídio de desemprego, entre outros beneficios de uma cidadanía plena.


 
Vemos o contrario disso. O acesso aos recursos e beneficios do país para além de serem limitados só para alguns(baseado nos nomes e classe social, e em alguns casos até na cor da pele), em muitos casos, para ter acesso a um beneficio como uma bolsa do Inabe te pedem Cartão de Militante de um partido angolano. Este partido chama-se MPLA. Isto é só para mencionar um exemplo em que, para se ter o beneficio de algumas coisas em Angola o cartão de Militante do MPLA se torna numa obrigatoriedade, mas há mais. E ninguém pode negar esta realidade. Diante desta situação, me questiono como é com aqueles que são militantes assumidos de outros partidos e estão lá mesmo por uma razão ideologica. Será que estes têm de adquirir o cartão da angolanidade plena(Cartão do MPLA) para usufruír de alguns beneficios enquanto militam também clandestina ou abertamente nos seus partidos ou renunciam a actividade politica nos seus partidos? Curiosidade.

 

 
Estas situações todas e muitas outras, considero muito injustas e justificaríam um protesto massivo da populaçao nas ruas da capital angolana e não só. Um protexto contra leis injustas e medidas anti-sociais. E dizer isto não é crime nenhum, porque se fosse crime, a nossa constituição não plasmaría este direito no seu artigo 47(atenção, estou a defender o direito de se manifestar pacificamente). Infelizmente, principalmente nos governos africanos, as manifestações pacificas quase nunca geram frutos nenhuns, já que os dirigentes se mantêm insensiveis, e chegam até a ser reprimidas, muitas vezes com tanta brutalidade que nos traz á memoria a repressão brutal dos regimes coloniais.Os manifestantes passam a ser tidos como inimigos da pátria, anti-patriotas, vandalos, agentes de forças externas, etc.  Este facto é que leva, muitas vezes, ás manifestaçoes violentas como meio de se alcansar um objectivo. No caso de Moçambique a "revolta dos pobres" expôs o fracasso das politicas economicas e sociais do governo. Felizmente o Presidente Armando Guebuza teve o bom senso de recuar nas decisões inicias do governo que deram inicio á revolta dos moçambicanos. É caso para se dizer "quem não chora, não mama".


 
Me pergunto: como sería se tivesse sido em Angola? Como teríam reagido as autoridades? Teríam reagido com a mesma brutalidade(ou pior) que a policia moçambiana? Como teríam reagido os nossos irmãos que se auto-procalamaram a "vanguarda do povo angolano", o MPLA? Nos defenderíam? Estaríam ao lado do povo ou os teríam considerado como inimigos? Porque sería um contra-senso um partido que diz ser representante do povo( o povo é o mpla e o mpla é o povo) considerar o mesmo povo como inimigo apenas porque exteriorizou o seu desagrado perante a governaçao do país atravez de um protexto.


 
Temos de interiorizar que protestar não é um crime, é um direito. Angola é de todos os angolanos e todos merecemos, temos o direito, de usufruír dos beneficios da nossa cidadanía. Todos temos direito de viver bem na nossa terra, e de termos as mesmas oportunidades. Até mesmo o direito de escolher os nossos dirigentes deve ser um direito sagrado e não um crime lesa patria. E nós, os angolanos "comuns", não adianta pensar que este governo que está aí, já a 35 anos, vai satisfazer os nossos anseios apenas pelos nossos lindos olhos.


 
A historia tem demostrado que quanto mais tempo um partido permanece no poder, mais ele se acomoda, porque criam-se vicios que depois são dificeis de combater. Tem de ser nós mesmos, a pressionar e a exigir que os nossos direitos sejam satisfeitos e garantidos, como demonstrou mal ou bem, o povo moçambicano.


* Felizarda Mayomona
Activista Civica