Estamos diante da verdade
Minha decepção pela não existência do Angolagate está em reverter minhas análises, de que foi graças ao Angolagate que a guerra em Angola acabou; foi graças a esse suposto malabarismo de serviços de inteligência e secretos, que a inteligência angolana, em situação difícil e de desespero ultrapassou as normas legais, as regras que o mundo civilizado exige, para infringir o último golpe mortal à guerrilha de Jonas Savimbi. Que pena que não foi o Angolagate; que fulminou e arrasou de maneira definitiva as ambições savimbistas.
Estou, relativamente, decepcionado em saber que o Angolagate não foi o esquema final que tanto se pintou mundo a fora, diga-se, no famigerado mundo Ocidental. Onde qualquer mentira repetida três vezes transforma-se numa verdade incontestável e certeira, herança nazista e fascista da Alemanha Hitleriana. Vamos ver agora se as mesmas mentalidades que andaram acreditando, cegamente, no Angolagate terão a mesma capacidade de regenerarem-se, de recuperarem-se depois de essa mentira colossal que o mundo Ocidental Europeu “civilizado” tem nos habituado. Interessante saber que esse é o principal pilar das suas democracias: a mentira descabida, a falta de respeito e consideração a povos e nações inteiras.
Já que estamos diante da verdade, verdade inquestionável, todos esses canais de informação que andaram difundindo a mentira como meio de destruição massiva de mentalidades. Agora deveriam no mínimo dar-se o trabalho de dizerem ao homem europeu “civilizado”, “culto” e “democrático” que mais uma vez foi enganado. E que as ditas democracias existentes no continente não podem ser vistas como um produto de exportação para as ex-colônias. E que cada um ( povo ou nação) deve saber o que fazer com o lixo que produz.
Possivelmente nunca se saiba a verdadeira estratégia e o esquema que neutralizou e enterrou essa guerrilha tribal encabeçada pelo guerrilheiro de Mwangai. Mas a versão do Angolagate onde se incluía como missão principal o tráfico de armas e a de influências para se romper um bloqueio muito mal intencionado; com o propósito de se tirar um país do holocausto em que se encontrava, justificava a missão mais honrosa e gloriosa que um agente à estilo de James Bond jamais recusaria cumprir a mesma.
A mesma missão ( quer seja o Angolagate ou não), não é para menos, deve dar um bom livro, um bom filme, uma boa peça de teatro glorificando as aventuras de um grupo de homens Mwangolês tarimbados e arrojados com a missão inquestionável de salvar a vida de milhões de seres humanos. Com a missão de chumbar, fulminar, arrasar as aventuras fracassadas do guerrilheiro traficante de diamantes de sangue.
Mas por enquanto deixemos de ironias, brincadeiras e vamos direito ao assunto. A crença no Angolagate e outras mentiras por aí é o outro lado da política angolana caracterizada pela mentalidade infantil e desequilibrada que devemos aprender a lidar com ela. É a prova, ainda, de que aqueles que internamente andaram difundindo e espalhando tal mentira jamais devem alcançar o poder; é a prova de que a chamada democracia representativa não é feita simplesmente de pessoas sérias, democráticas, patrióticas e lutadores pela liberdade; é a prova de que, além de políticos sérios vítimas de toda mentira e falsidade, também, lidamos com bandidos. Isso, também, constitui prova de que alguém de vez enquanto pode entrar num lugar como esse e dar-se o direito de clamar em voz bem alta contra todas essas mentiras, berrando aos quatros ventos: isso não funciona, não pode ser, onde estão as provas , e como conseqüência tudo isso não pode ser verdade.
E, ainda, com certeza, de que jamais devemos sair por aí imitando valores políticos, em particular a democracia que se tem vendido nesse mundo depois da caída do muro de Berlim. É uma vergonha, é a barbárie, saber que se mente tanto a tanta gente, em plena era da informação. Inacreditável saber que se acredita, tanto, em tanta mentira. A pergunta que devemos fazer é: quem é que ganha com esse tipo de democracia, quando se desinforma a milhões de seres humanos? Precisamente aqueles que são antidemocráticos, vândalos, traidores, vende-pátrias e os que vivem fazendo apologia ao passado: ou melhor, ao colonialismo e ao neo-colonialismo.
Mas nisso também existe algo interessante. Tem aqueles que fazem questão de acreditar em mentiras, mesmo quando são pessoas bem informadas e instruídas, porque têm uma missão a cumprir, ou foram incumbidos pelos seus patrões para desempenhar tais funções: difundir a mentira, provocar pânico, desconfiança, desordem, agitação com tendência reacionária e provocar imundice na mentalidade das pessoas que, infelizmente, têm pouco discernimento. Como resultado disso vê-se, mundo a fora, resultados eleitorais catastróficos. A própria nação, nações inteiras, agem de maneira absurda e reacionária com o seu próprio destino, ou com o destino de outros povos. E é nisso que surge, por exemplo, a legitimação das guerras, da pobreza, do racismo, da exploração evidente e assumida do homem pelo homem.
Isso é a prova de que com essas democracias, da desinformação, que existem por aí o processo evolutivo da humanidade está em xeque. E deixa muito a desejar. Assim, evoluirá sem entraves e sem as conseqüências do atraso, aqueles governos e estados que assumirão as responsabilidade não simplesmente de democratizarem suas nações no critério já reconhecido e aceito por todos: a chamada democracia representativa. Mas também se os mesmos, estados ou governos, assumirem a liderança de educar e instruir seus povos e nações. Qual quer país, povo ou nação é composto de gente, e é sobre essa gente, indiscutivelmente, que deve recair toda educação e instrução.
Nós clamamos, por cultura de verdade, conhecimento, informação verídica, pelo que de melhor a civilização humana criou até hoje, porque é disso que depende a nossa sobre-vivência. E não do lixo produzido pelas mentalidades mesquinhas, pobres e reacionárias, não importa onde elas estejam e de onde venham, serão sempre rejeitadas.
* Nelo de Carvalho
Fonte: www.a-patria.net