Luanda - A China emprestou a Angola cerca de 15 mil milhões de dólares ou 15 bilhões de dólares desde o fim da guerra civil, mas receia que os esforços de reconstrução não sejam atingidos por falta de pessoal angolano qualificado, disse o embaixador chinês em Luanda.


Fonte: AFP

Embaixador chinês diz:

"Há falta de mão-de-obra de qualidade em Angola"

 

"O montante total das linhas de crédito concedidas a Angola por três instituições atinge 14,5 mil milhões de dólares (cerca de 10,5 mil milhões de euros)”, indicou Zhang Bolun, em declarações à AFP.


Em contrapartida, a China tem acesso ao petróleo de Angola, que se tornou no segundo fornecedor de crude logo a seguir à Arábia Saudita.
Por outro lado, as linhas de crédito são condicionadas pelo recurso a empresas chinesas de construção. Cerca de 50 empresas públicas chinesas e 400 sociedades privadas trabalham em Angola e entre 60 a 70 mil chineses vivem no país, segundo o embaixador.


O seu trabalho tem permitido a reabilitação da rede viária, das linhas de caminho-de-ferro, a construção de hospitais e centros de saúde, escolas e habitações, destruídas durante a guerra civil que se seguiu à independência da antiga colónia portuguesa (1975-2002).


Os acordos bilaterais preveem a contratação de pelo menos 30 por cento de angolanos e o recurso massivo a mão-de-obra chinesa é criticado no país, onde a taxa de desemprego é muito elevada.


"As empresas chinesas não podem empregar 30 por cento de angolanos, não é realista", sustenta Zhang Bolun.
"Nos contratos, temos prazos muito curtos e uma exigência de qualidade. A maior parte dos trabalhadores angolanos não satisfazem estes critérios", acrescentou.


A China é ainda criticada pela rápida deterioração de alguns edifícios. Em julho, 150 doentes do novo hospital de Luanda tiveram que ser retirados do edifício quando foram descobertas fissuras nas paredes.


O embaixador chinês rejeita as críticas e responsabiliza a falta de mão-de-obra de qualidade em Angola.


"As empresas chinesas constroem e entregam. A distribuição e administração são feitas pelos angolanos", lembrou. No entanto, para o embaixador, determinadas infraestruturas comportam "aspetos técnicos essenciais que não podem ser geridos pela parte angolana, mas somente pelos chineses. É um problema", disse.


Por exemplo, acrescentou, não se pode dizer que foram entregues aos angolanos os estádios construídos para a Copa Africana das Nações de futebol(CAN) 2010, referiu o embaixador.


"O [estádio] de Luanda é pouco utilizado e abriga um equipamento enorme. Sem vigilância, seria pilhado. Por isso, técnicos chineses estão a tomar conta", adiantou.


Para o embaixador, o mais grave é que os esforços despendidos para reconstruir o país são muitas vezes em vão devido à falta de pessoal.
"Em Angola, há escolas sem professores, hospitais, mas não médicos", disse, questionando "se não há quadros, médicos e professores, para quê construir escolas e hospitais?