Luanda - O perito brasileiro em crimes digitais Wanderson Castilho considera Angola como um país seguro para se navegar na internet’, a par de outros países africanos. A Rússia, por sua vez, é tida como a nação mais perigosa para se utilizar este meio de comunicação.


Fonte: O Pais

Angola é um país seguro para se navegar na internet

Wanderson Castilho salienta que a segurança existente no país não está associada aos equipamentos existentes ou às políticas existentes para o efeito, mas sim porque a estrutura na área da internet ainda é muito fraca.

 

“Com a demanda de se dobrar o número de usuários, consequentemente o mercado vai melhorar esta infra-estrutura para o país. E aí vai começar o problema”, disse o brasileiro, acrescentando que “hoje vocês estão relativamente seguros porque a infraestrutura ainda não está muito bem preparada. Mas uma coisa interessante é haver 4,6 por cento de internautas em Angola, mas quase toda a população possui um celular. Há cada vez mais meios de tecnologia próximos”.


O especialista apurou que o país possui actualmente 607 mil internautas, uma cifra que poderá ser duplicada nos próximos tempos, a julgar pelo crescimento que se observou no sector em épocas anteriores.


“O interessante é que no ano passado havia metade disso, o que quer dizer que hoje é o dobro. Provavelmente Angola deve ter um dos maiores crescimentos em todo o mundo. Agora há necessidade de segurança, porque cada vez mais há empresas que estão a chegar ao país”, defendeu o nosso interlocutor.


Castilho salienta ainda que a segurança electrónica existente no país pode ser encarada como relativa, um cenário que poderá mudar drasticamente assim que as pessoas tiverem uma internet mais rápida e o Estado e as empresas investirem mais nas infraestruturas.


Contratado por uma instituição privada, cujo nome não aceitou revelar, para resolver um ‘crime electrónico’, o brasileiro considera que ao longo das investigações deparou-se com uma série de situações que também podem ser consideradas graves, mas não sabe como estão enquadradas no ordenamento jurídico angolano.


Notou, por exemplo, uma linha de crimes que no seu país podiam ser enquadrados no âmbito da difamação contra empresas e particulares, assim como de filhos de pessoas conhecidas cujas imagens foram expostas na internet.


Em relação ao Brasil, o seu país de origem, e aos Estados Unidos, onde se tem deslocado regularmente, frisou que estes dois países não possuem leis específicas para os crimes de internet.


Na sua terra natal ainda não foi aprovada nenhuma lei específica. Em casos de crimes electrónicos fazem-se comparações, como por exemplo nos casos de difamação.
 

“Você recebe entre três e seis meses de detenção que não é cadeia e vai pagar uma multa irrisória. Essa é hoje a realidade que vigora no Brasil. Só que quando faço uma divulgação em volta da sua pessoa, te difamo, é uma coisa completamente diferente. Uma coisa é falar para 10 pessoas que você é isso e outra é colocar na internet para milhões. Ali o documento, a veracidade de quem recebe e não o conhece, vão acreditar. Então, a pena tinha que ser maior”, defende o especialista informático.


Ainda sobre a difamação, a nossa fonte salienta que é possível chegarse ao primeiro e-mail, donde normalmente partem as matérias difamatórias. Para ele, é necessário que haja ferramentas e infra-estruturas que possibilitem isso, porque é mais fácil identificar o criminoso e o crime na internet do que no mundo físico.
 

Exemplificando, Wanderson garante que no mundo físico é possível a pessoa entrar numa casa e sair sem deixar vestígios, ao passo que quando se entra num computador e se acede à a internet deixa-se uma prova contra ou a favor do utilizador.


“As ferramentas são de análise forense, porque uma coisa é você receber um e-mail ou atentado por esta via, eu faço o rastreamento até chegar à origem. Lá preciso fazer a materialização, que se faz através de uma busca e apreensão. Porque mesmo que a pessoa tenha apagado tudo, consigo recuperar este material”, explicou o director da E-Net Security Solutions, bacharel em física pela Universidade Federal do Paraná e com especialização em análise forense digital.


No Brasil existe internet há cerca de 20 anos mas ainda não existe uma legislação apropriada para prevenir crimes electrónicos, por esta razão Wanderson Castilho aconselha o Estado angolano a precaver-se em relação a futuras violações. Por exemplo no estado brasileiro de São Paulo ocorrem diariamente cerca de 400 crimes electrónicos, mas a ausência de mecanismos legais dificulta, algumas vezes, a actuação da polícia local, apesar de actualmente registar-se uma migração da criminalidade física para o mundo virtual.


Crimes à vista Não existem muitas diferenças entre os crimes digitais que possam ocorrer nos países mais desenvolvidos como os Estados Unidos da América ou nos menos desenvolvidos como Angola.
 

Wanderson Castilho salienta que as fronteiras são muito “ténues”, tendo em conta que “em poucas semanas os hackers e criminosos cibernéticos identificam que um país tem estrutura para eles usarem e assim o fazem”.


Segundo ele, os crimes começaram com difamação, quando a população tem acesso a internet e algumas pessoas aproveitam-se dos casos passionais, muitas das vezes quando estão chateados com os maridos, namoradas ou os chefes.


Em Angola, de acordo com o investigador forense, está a acontecer o mesmo que houve no Brasil com o aparecimento de crimes de difamação, porque as pessoas despejam toda a raiva e angústia naquelas pessoas que não gostam ou estão em permanente conflito.


“Mas tudo o que você coloca na internet se torna documento, mas pena é que muitos não sabem disso”, salientou.


Quando começou a internet até mesmo os bancos estavam despreocupados em relação a adesão que fizeram a este novo meio de comunicação.


Muitos deles aperfeiçoaram-se à medida que os próprios criminosos virtuais foram se desenvolvendo.


Os bancos hoje já têm condições de procurarem informações sobre o que aconteceu nos países mais desenvolvido que Angola. O Brasil, segundo a fonte, é um dos países que oferece ao mundo um grande número de experiências, porque já foi comprovado entre os anos 2004-2005 que albergava 19 das 21 maiores gangues de hackers do mundo, que atacava e desconfigurava as páginas dos governos, bancos e outras instituições privadas.


“No Brasil, hoje, se eu furtar a sua senha, você não pode me processar por nada. Se pedir a tua senha no banco e entrar nele para fazer a transferência, aí sim é crime de estelionato, me apropriei de um bem que não era meu”, ilustrou Castilho.


O nosso interlocutor garante que o crescimento económico que o país apresenta nos últimos tempos torna-o também como território propício para os crimes digitais, porque as industrias e organizações económicas estão mais preocupadas em abastecer o mercado do que a própria segurança.


Diariamente, os hackers brasileiros aperfeiçoam técnicas para terem acesso às senhas dos clientes e fazer a transferência. “Participei da prisão de um rapaz, de 17 anos, que num único dia conseguiu 90 mil dólares. Ele mostrou como conseguiu: comprou um carro e tinha várias prestações para pagar, cerca de 60. Tinha as contas e pagava o carro. Mas só que o fez em um dia, quando devia ter demorado cinco anos”, contou o investigador.      Para se prevenir dos hackers, os bancos devem desenvolver uma política para o sector, divulgando-a aos clientes, que é o elo mais fraco. Alguns criaram talkings, certificados de segurança e uns só faziam transferência a partir de um registo no seu computador. Mesmo que a pessoa tenha a senha e o nome do usuário, o processo só era permitido no próprio portátil ou de mesa.


O banco deve aconselhar os seus clientes a não utilizarem os cyberscafés ou hotéis para fazem pagamentos aos bancos, porque em São Paulo apareceu um grupo de hackers que instalou um programa num hotel e teve acesso aos dados dos usuários.