Luanda - As passeatas organizadas a semana passada em Luanda pela oposição politica angolana, mais precisamente pela UNITA e FNLA amedrontaram o MPLA que pensava ser o dono de Angola e da sua população.


Fonte: Angolense

 

As passeatas foram apenas um teste, uma entrada e não ainda o prato forte da refeição que se anuncia contundente.


Havia muito cepticismo por parte dos observadores políticos de que estes dois partidos conseguissem reunir cada uma quantidade importante de participantes para as suas marchas, a luz do “desmoronamento” em que se encontram.


Mas com muita surpresa, a UNITA e a FNLA marcharam com cabeças levantadas nas ruas de Luanda, venceram e convenceram.

 

Foi o MPLA que marchou primeiro em condições que o povo sabe. E a oposição deu a devida resposta. “Olho por olho, dente por dente” – diz-se.


Falemos primeiro da mega passeata do maior partido da oposição, a UNITA.


Em principio, ninguém acreditava na capacidade de o Galo negro realizar uma manifestação a altura da sua estatura em Luanda, cidade rotulada como bastião do seu arqui-rival, o MPLA, sobretudo depois do “desaire eleitoral” resultante da encenação das “eleições” legislativas de 2008 em que o partido no poder atribuiu-lhe apenas 10 por cento de votos.


A UNITA era tida pelos detractores internos e externos como acabada, assim como o seu Presidente, Isaías Samakuva.


“A UNITA acabou, só resta a Samakuva demitir-se e ceder o lugar ao outro” – cantava-se frequentemente em Luanda.

 

Na verdade, depois da monumental fraude eleitoral de 2008 perpetrada como sempre pelo MPLA, a UNITA transformou-se num navio em deriva no alto mar com Samakuva ao comando tentando a todo o custo leva-lo  ao porto, quando uns companheiros seus com uma traineira a puxar no sentido contrario e outros a perfurando-o em baixo com brocas. Uns pouquíssimos a bordo a tirarem a agua do navio.

 

Depois desta injuriosa e provocadora distribuição dos votos por parte do MPLA que reduziu os deputados da UNITA no Parlamento de 70 para 16 e a sua subsequente saída do GURN (Governo de Unidade Nacional) – muitos quadros perderam o pao.


Por conseguinte, muitas figuras de proa a que Savimbi e a UNITA deram visibilidade nacional e internacional desapareceram do ambiente partidário.

 

Aparecem esporadicamente e em condições especiais. E quando chegam nem cumprimentam nem se despedem do seu Presidente Samakuva, pelo menos como manda a cultura bantu.

 

Nas viagens ao interior do país, e mesmo nos trabalhos de campo em Luanda, são sempre as mesmas figuras que acompanham Samakuva, outros recusam peremptoriamente os convites para o acompanhar. Alguns que aceitam, interrompem a digressão e regressam a procedência.


São estes detractores que rogaram a Deus Pai e a Santa Efigénia para que a Passeata falhasse, para em seguida acusar outra vez Samakuva, de ser mesmo incompetente, como fizeram depois da monumental fraude eleitoral de 2008.

 

Muitos destes dizem que já fizemos muito para a UNITA e basta, esquecendo que e’ no fim que se conclui uma obra. “O salu otondua kumfoko, kekuyantiku ko” – diz o kikongo.

Foi nestas condições que a UNITA organizou esta mega-passeata de que tanto se fala hoje.

O Galo negro não teve apoio da imprensa publica, nomeadamente da Televisão Publica de Angola (TPA), Rádio Nacional de Angola (RNA), TV-Zimbo, Jornal de Angola (JÁ), Agencia Angola Press (ANGOP) e outros órgãos derivados que silenciaram totalmente a publicidade sobre a convocada passeata.

 

Nem as igrejas o apoiaram a passeata da UNITA como fizeram coma marcha MPLA, em que lideres religiosos marcharam abertamente transformando-se em autênticos comissários políticos do Partido dos camaradas quando abriam os bicos.

 

E caso para dizer que as igrejas em Angola deixaram de ser reservas morais.


Antes, Samakuva rejeitava qualquer proposta de por o povo na rua.


“Ninguém aparece, o povo angolano ainda tem muito medo, ainda ressente os traumas de genocídios de 27 de Maio, da guerra pós-eleitoral de 1992 e da subsequente caça as bruxas assim como de Sexta-feira sangrenta contra a população kikongo” = dizia.


Acrescentava que “A UNITA não se vai ridiculizar em organizar uma marcha com algumas dezenas de pessoas”.


Também, muitos outros dirigentes da UNITA eram ou são alérgicos as palavras passeatas, marchas e pior ainda manifestações.


“Cuidado, o MPLA mata, essa gente eh sanguinária”  e “a UNITA ainda não se recompôs do trauma da ultima guerra que vitimou o líder Jonas Savimbi” - dizem.


Uns jovens intrépidos do Comité Provincial do Partido (UNITA) de Luanda sacudiram o capote e ousaram surpreender os “mais velhos” com a realizacao de uma marcha, para comemorar o dia do Muangai. Por sua própria iniciativa, arquitectaram e organizaram com sucesso uma passeata. Deram uma chapada sem mão ao MPLA.


A iniciativa apanhou a direcção da UNITA com as calcas nas mãos e não lhes deu margem para manobra de recusa-la. Os “mais velhos” estavam diante de um facto consumado


A direcção da UNITA e toda a oposição verdadeira esquecem que o povo está farto das elucubrações políticas, mentiras e de usos e abusos do MPLA.


Pois, “so se pode enganar uma parte do povo durante uma parte do tempo, mas não se pode enganar todo o povo durante todo o tempo” – diz-se.


“Quando um governo viola e sabota os direitos de um povo, a insurreição eh o mais legitimo direito deste povo” – diz Robespierre, assim como a Declaração da Independência dos Estados-Unidos da América, num texto assinado por Thomas Jefferson.


A sabedoria kikongo diz que “Enkutu azowa, lumbu kimosi kaka isiwanga okoko” (só se pode meter uma vez a mão numa bolsa de m burro ou melhor só se poder enganar alguém uma única vez”.


Neste sentido, o povo deu um cartão amarelo, uma advertência ao MPLA, afluindo em massa a passeata da UNITA.


O maior temor do MPLA eh o povo perder o medo.


Quem imaginava que alguns jovens e músicos pudessem abandonar as casas dos seus pais a meia-noite e participarem na marcha de 07 de Marco ultimo no largo “1º de Maio”? E os jornalistas que tiveram a coragem de aparecer ao local na mesma hora para cobrir a referida marcha, sem temer a brutalidade da policia angolana.

 

Voltando a mega-passeata da UNITA, o MPLA tentou em vão diluir os seus efeitos, evitou que seja vista pela população luandense, mudando o seu itinerário.

 

O governo provincial recusou que a passeata partisse do Largo das Escolas muito próximo ao “1º de Maio”, que o MPLA considera ser suas propriedades privadas, substituindo-o por uma praça algures no Prenda, e dai o cortejo seguiu para Samba, Morro Bento, Nova Vida até  ao termino.

 

Só por desprezo que se lhe reconhece que o MPLA pensou que os moradores de Luanda sul por onde passou a marcha do Galo negro não são Angolanos.

 

Que ingenuidade! O MPLA escondeu em vao a passeata da UNITA.

 

Mas, como se trata de um teste, a UNITA aceitou e a passeata seguiu o seu rumo, vencendo e convencendo todos.

 

Um dos raros dirigentes da UNITA presente no acto, Jaka Jamba, comparou o que estava a ver ali com a entrada dos movimentos de libertação nacional (FNLA, MPLA e UNITA) em Angola em 1975, em termo da participação.

 

E uma jornalista estrangeira que cobriu a passeata disse parecer que metade ou um terço da população, de viaturas e de motorizadas de Luanda participam na passeata.

 

O aparato da protecção policial traduz o tamanho da marcha, que foi de cerca de mil  agentes, entre policia de ordem publica, Policia militar (PM), Bombeiros, com Helicópteros e Ambulância.

Um enfermeiro membro do MPLA que duvidava da ressurreição politica do Galo negro, disse em kikongo que “mama tumuene, vitasavo o Luanda luawonso lua UNITA. Enzila zawonso kuaku zakakama kua yau. E Partido yayi yala kaka isinga yala e Ngola” (O que assistimos, parece que todo Luanda era da UNITA. Um dia, este Partido vai governar a Angola).

 

O MPLA ensaiou outra terapia de sabotagem da passeata, organizando jogos de futebol de Gira bairro em diversos cantos da capital, principalmente nos bairros que estavam no itinerário da marcha.

 

Isto aconteceu no antigo mercado do Roque onde havia jogo de futebol entre jovens trajados a MPLA e JMPLA.

 

Subitamente surgiu uma volumosa e barulhenta coluna mista de  motorizadas, viaturas entre turismos e autocarros com as cores da UNITA. As viaturas e autocarros estavam lotados de pessoas, cada motorizada trazendo duas pessoas, e os ocupantes trajavam todos uniformes do Galo negro.

 

As motorizadas circulavam com escapes abertos provocando um barulho ensurdecedor que chamava a atenção das populações que acorreram junto a rua gritando Vivas a UNITA, Vivas a Samakuva.

 

As poucas bandeirinhas da UNITA que os peregrinos lançavam ateriam nas mãos dos assistentes e não chegavam ao chão.


Milhares de pessoas, viaturas, motorizadas e dezenas de autocarros todos lotados participaram nesta passeata histórica da UNITA que amedrontou o MPLA e os detractores internos e externos.

 

A UNITA não teve apoio financeiro e material de ninguém e nem obrigou ninguém a participar na sua Passeata. A participação foi voluntaria e espontânea, e ultrapassou de longe a expectativa.


Samakuva esperou com tranquilidade os resultados no seu modesto gabinete da Maianga.

 

Imagine se o que será quando o líder dos maninhos ordenara que as passeatas ou manifestações ocorram em simultâneo em todo o território nacional!

 

Quanto a FNLA, assistiu-se a uma marcha digna de respeito e consideração. Ninguém acreditava que o Partido libertador de Angola, a UPA, de Holden Roberto, tivesse um potencial humano capaz de marchar e abalar o MPLA e outros detractores internos e externos.

 

Também foi na condição de um Partido bicéfalo que a UPA-FNLA marchou em Luanda.

Quer se queira, quer não, a UPA saiu as ruas de Luanda.


A marcha partiu do bairro Mabor e culminou no mercado de São Paulo, com um discurso do seu líder Ngola Kabangu.

 

Parabéns a UNITA e UPA-FNLA para essas gigantescas realizaçoes.


O MPLA calou-se!


Isto e’ apenas um teste. E se a moda pegar!


“Owandua kua yingi, longua o kambulua” (bater de mais, e’ ensinar outro a defender-se) – diz o Kikongo.


Se as provocações, os abusos, as fraudes, a intolerância politica e as violações de direitos e liberdades fundamentais das populações por parte do MPLA continuarem no pais, as passeatas poderão evoluir para manifestações. E o povo aderira, sem dúvida.


O falacioso argumento de guerra já não pegará.


“Onuni anenena vana koko, inkaki” (um pássaro defeca na mão, por aperto) – diz ainda a sabedoria kikongo.