Joanesburgo - Determinadas previsões sobre a evolução do conflito em Cabinda apontavam já que Maurício Lubota «Sabata», comandante da FLEC recentemente eliminado em Ponta Negra, teria um final trágico, à semelhança do seu Chefe de Estado Maior Geral, Gabriel Luis Augusto Luemba «Pirilampo», que perdeu a vida, em circunstancias idênticas, no início do corrente mês. Já no dia 3 de Outubro de 2010, “Sabata” foi preso em Ponta Negra e solto dois dias depois pelas autoridades congolesas que lhe confiscaram a arma.

 

Fonte: Semanario Angolense

Era o guerrilheiro que mais estragos fazia

Na tarde do dia 19 de Março, sábado último, Maurício «Sabata » foi emboscado por elementos não identificados quando se deslocava  para  casa de familiares, em Ponta Negra, para assistir ao óbito de um sobrinho. Foi raptado e no dia seguinte os populares encontraram o seu corpo baleado com sinais de esfaqueamento, no troço fronteiriço entre Nganda Mbinda e Mukonzi, a poucos kilomentros do distrito congolês de Kimongo.

«Sabata» tinha por habito andar escoltado com a sua unidade militar móvel de cerca de quarenta guerrilheiros, o que não aconteceu no dia em que foi emboscado.  Antes de ir ver os familiares, esteve num campo de refugiados, em Ponta Negra, com dois elementos, Muana Popi e Tsondé, que se teriam tornado seus amigos, podendo ser considerados como «municiadores» de informações em relação ao seu paradeiro.


Mauricio “Sabata” tinha a fama de ser um dos mais destemidos guerrilheiros da FLEC. Há quem também dizia que não tinha nada mais na cabeça, além do gosto de lutar pela sua causa. Era o comandante operacional na zona de Miconje.  Porém, após as desavenças entre o líder histórico da FLEC, Nzita Tiago, e o seu vice-presidente, Alexandre Tati, «Sabata» mostrou-se solidário com o «velho». Em consequência, o grupo de Tati afastou-lhe do comando em que estava, pondo no seu lugar Gabriel Mário Cócolo. Por sua vez, Nzita Tiago reestruturou a sua «ala», nomeando um novo Chefe de Estado Maior (CEM), Gabriel Nhemba «Pirilampo», em substituição de Estanislau Boma, e fez de Mauricio Lubota «Sabata» o seu comandante da zona-norte do enclave.


Na prática, Mauricio Lubota «Sabata» continuava, no terreno, como  chefe operacional de Miconje. Não tinha condições para exercer as novas funções atribuídas por Nzita, visto que os elementos que faziam parte da sua unidade militar estavam ligados a Estanislau Boma. Dos comandantes militares da FLEC, «Sabata» era o guerrilheiro que mais estragos fazia nos corredores do Buco Zau, em Cabinda. Numa demonstração de revitalização da facção de Nzita, «Sabata» emboscou, a 8 de Novembro de 2010, na estrada que liga Ihnhuca a Mboma Lubinda, na área de Komba-Nsseguele, uma caravana das FAA provocando a morte de 12 elementos. A caravana militar escoltava trabalhadores chineses ao serviço da petrolífera estatal, a Sonangol.


Também lhe era notada uma faceta imprecisa.  No ano passado, mostrava-se simpático a Rodrigues Mingas, figura que o apoiava em algumas despesas familiares.  Estaria também em aproximação com as autoridades provinciais de Cabinda para uma agenda de rendição que partilhava com Muana Popi e Tsondé, que nos últimos tempos se tornaram mais chegados. Já no passado o seu nome fora citado como parte de um plano de aproximação das autoridades angolanas, que seriam feitos por intermédio de um familiar seu, Zenga Mambo, muito chegado ao ex-Presidente do Fórum Cabindes para o Diálogo, Bento Bembe. Fazia parte do plano a proposta para a sua integração nas FAA com a patente de general. Antes de morrer, preparava-se para largar Nzita Tiago e juntar-se à facção de Alexandre Taty e Estanislau Boma.


As mortes quase seguidas daquelas duas «altas patentes» da FLEC, este mês, acontece semanas depois de o governo angolano ter tornado publico um comunicado de guerra em que ressalva ter orientado as forças armadas angolanas e a Polícia Nacional para, no quadro da sua missão constitucional, darem respostas operacionais adequadas às ameaças da FLEC-FAC na província de Cabinda.

 

As autoridades responsabilizaram a FLEC por ter abandonado das negociações que estavam em curso. Há também informação aludindo que os seus guerrilheiros terão afrouxado as suas acções por terem tido conhecimento de um suposto plano que se destinava à sua neutralização, ao invés de negociações. Daí que, logo após o endurecimento da posição do governo angolano, reagiram para esclarecer que pretendiam conversações com a presença da comunidade internacional, da comunicação social, libertação de prisioneiros e envolvimento de mais rostos da sociedade de Cabinda, entre outros, ao invés de «negociações secretas». ■


José Gama,  Especial para o SA

 

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