O estudo (também conhecido internamente como sondagem, embora não o sendo) conclui que a aceitação do MPLA e da UNITA na população/eleitorado é equivalente – o que representa um retrocesso para o MPLA e o ameaça (a implantação somada da UNITA e de outros partidos da oposição é provavelmente superior à do MPLA).  Entre os factores referenciados como estando na origem da quebra de popularidade do MPLA, avultam os seguintes: 
- A consciência política da população alterou-se; esbateu-se a antiga atitude de reverência em relação ao partido por parte da geração mais antiga; a juventude actual é inconformista e/ou contestatária; em geral, o respeito e a confiança antes votados ao MPLA diminuiram. 
- Os sentimentos de saturação em relação ao MPLA aumentaram na proporção da sua longevidade no poder e da má reputação que tem – esta decorrente da corrupção associada ao regime e da ineficácia das suas promessas tendo em vista a reconstrução do país – em especial no que toca à satisfação de condições básicas da população. 
- Extinguiu-se a “ameaça” consubstanciada no antigo líder da UNITA, Jonas Savimbi, que o MPLA sempre identificou como tal e explorou para mobilizar apoios e fomentar coesão interna; os efeitos relaxantes do desaparecimento da “ameaça” provocaram quebras na lealdade da classe média e entre os tecnocratas do MPLA. 
 
2 . No dia 02.Ago o MPLA organizou um comício de abertura da campanha numa zona dos arredores de Luanda, Zango. As expectativas internas iam no sentido de juntar pelo menos 500.000 pessoas – provenientes de Luanda (2.000.000 de eleitores) mas também de prov vizinhas – Bengo, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul. 
Na organização do comício foram previstos atractivos e comodidades considerados suficientes para confirmar a estimativa em termos de assistência: 
- Transporte assegurado (participação na operação de viaturas de empresas de construção, Teixeira Duarte, Odebrecht, chinesas, etc.). 
- Distribuição gratuita de cerveja (Cuca) e alimentos leves no local. 
- Presença de 20 artistas ditos consagrados. 
 
O comício reuniu de facto c de 200.000 pessoas. Foram observados fenómenos como o de os jovens mobilizados para o comício, sobretudo os transportados nas chamadas “Hiaces”, terem abandonado o local com manifestações de exuberância marcadas por diatribes contra o próprio MPLA. 
O principal orador do comício foi Dino Matross, SG do MPLA, um indivíduo simpático, tido por um impoluto, mas desprovido de dotes oratórios. Conjectura-se que esteve prevista a hipótese do aparecimento de uma figura mais importante; tal não aconteceu por que a assistência não atingiu a “grandeza esperada”. 
No dia seguinte, a UNITA, cujos meios de mobilização são insignificantes quando comparados com os do MPLA, juntou no Bairro Palanca cerca de 30.000 pessoas. O regime “sentiu” especialmente a presença no comício do antigo Gen José Fragoso, presidente da Comissão 27 de Maio. Idem, presentemente, em relação ao apoio de Carlos Leitão à campanha da UNITA. 

3 . O MPLA e o regime lidam com a evidência da sua presente impopularidade explorando/tentando ampliar vantagens próprias como as seguintes: 
- O controlo sobre os orgãos eleitorais e as instituições do Estado em geral. 
- O estado de fraqueza da oposição. 
- A utilização da comunicação social, em especial os grandes media. 
- A benevolência internacional. 
 
O orgão eleitoral decisivo é a CNE. Por razões que se deduz serem devidas a um esmorecimento da confiança no seu presidente, Caetano de Sousa (sobretudo se o escrutínio apresentar um resultado menos bom e for necessário revertê-lo), ocorreram discretas nomeações não previstas de quadros do Sinfo, Casa Militar da PR e outros para a sua estrutura administrativa: 
A saber: 
 
- Brig. Rogério Ferreira, director do Dep Informático do EMGFA, para prestar assessoria técnica ao sistema informático da CNE. 
- Engº Cristovão, técnico de comunicações do Sinfo, como consultor do presidente da CNE. 
- Carlos Jorge, ex-director do Sinfo na prov do Bengo, e Noé, também do Sinfo, ambos colocados na administraçãoo da CNE. 
 
Outra nomeação considerada sintomática foi a de Eduardo Octávio, Comissário da Polícia, simultaneamente inspector do Sinfo, para acompanhar in loco as principais acções de campanha do MPLA. Presume-se que tem a função de fazer avaliações do estado da campanha e apresentar sugestões. 
De acordo com informações verificadas, todas as nomeações foram discretamente ordenadas pelo chefe da Casa Militar, Gen M H Vieira Dias “Kopelipa”, ao qual estão, de facto, cometidas responsabilidades especiais no processo eleitoral (coube-lhe a última palavra na escolha da Valeysoft para a logística das eleições). 

4 . O forcing do MPLA destinado a explorar em seu proveito as fraquezas da oposição, em especial a UNITA, é planeado e coordenado por um grupo de trabalho interno, apoiado em juristas, estes com a tarefa de velar para que a lei não seja flagrantemente violada pela natureza e métodos das acções postas em marcha. 
Os percalços por que passou a organização de um comício de Isaías Samakuva, no Namibe, devido a práticas como disseminação de instruções erradas ou contraditórias acerca do local do mesmo, foram “obra” do referido grupo. No tratamento dado pela imprensa ao assunto a ideia transmitida responsabilizava o governador provincial. 
O Zango, no lançamento do projecto, estava destinado a ser uma das principais obras sociais do regime; além da lentidão com que se tem desenvolvido, apresenta insuficiências múltiplas que são objecto de queixas generalizadas dos moradores. 
Na reportagem do comício do MPLA exibida pela TPA, a imagem que transparece é a de um bairro modelar e fervilhando de actividade (muitas gruas de empresas chinesas, parte substancial das quais estão há muito inactivas). 
 
Fonte: Africa Monitor