Co-fundador da UNITA em Autobiografia
quer repor certos factos históricos

No que diz ter sido a maior escola africana em Angola, o Instituto Currie do Dôndi, engendrou ainda da adolescente uma greve da fome, com outros alunos, em protesto pela má qualidade da comida. Foi expulso. Mas fez a 4ª classe e de regresso à missão do Bailundo, tirou o curso bíblico para poder entrar no secundário, que ali era exigido. Na sua juventude fugia das rusgas da administração colonial, que obrigavam os jovens a irem trabalhar compulsivamente "para o contrato". Ainda chegou a ser levado. Revoltado, liderou um grupo de apedrejamento dos camiões que transportavam gente para o contrato.

Histórias de uma vida que se cruzam com o nascimento da UNITA

Nesta sua obra, que percorre todo o século XX, o autor pretende  esclarecer os primórdios da UNITA para que a História de Angola, sublinha, “mão se confunda, como tem acontecido, com a história do MPLA.

SAVIMBI ERA SEGUNDO PAI

Ex-guerrilheiro afirma que antigo líder da UNITA pressentiu o seu assassínio

Samuel Chiwale recorda o início da luta armada do movimento de Savimbi, os exílios e e prisões do líder, os congressos na mata, as denúncias. Relata os bombardeamentos portugueses com napalm e fósforo e confessa que "sem o povo do Leste não sobreviveríamos nem mais um mês". Acusa a então OUA que, em 1975, "não levantou um dedo sequer para exigir a retirada dos cu¬banos". E aborda a morte de Jonas Savimbi "o meu segundo pai que terá pressentido o seu assassínio, recusando ofertas de exílio em África

Relembra o que a sua memória reteve dos acontecimentos de 1961,  em Luanda e nas plantações do Norte, e da prisão do seu pai, então regedor da área da Caála, “acusado” de ser colaborador de Lumumba”, a detenção de professores e assassínios. Mas foi quando viu o estado do seu pai, espancado na prisão, que quis vingar-se do regime colonial.

Tencionava aderir à UPA, mas o destino quis que ficasse no então Sudoeste Africano (Namíbia) onde tinha contactos, chegando a pertencer à SWAPO e a combater em seu nome. Conheceu Jonas Savimbi, “um intelectual de mente clara e pensamento profundo”, em 1965, tendo aderido às suas ideias, que o marcaram até hoje. Samuel Shiwale fez parte do primeiro grupo da UNITA a receber treino na China, mascarado como recruta da SWAPO. ”A forma como os chineses nos tratavam levantava a nossa auto estima”, diz. Na Academia Militar de Nanquin, chegou ajuntar-se gente da FRELIMO, PAIGC, MPLA, Lumumbistas e outros”.

Regressado a Angola, sensibilizou as populações contra "o imposto". A UNITA que de início possuía apenas "navalhas e cajados", tinha um sistema de mensageiros estafetas que os informavam das movimentações quer da tropa portuguesa quer do MPLA, que queria "desalojar a UNITA das suas áreas libertadas". Da PIDE, que causou baixas entre os seus colegas de luta, o autor refere uma actuação "muito eficiente e bem informada" e desmente que o movi¬mento tenha colaborado com esta polícia política de Salazar.

* Leonor Figueredo
Fonte: Diário de Notícias