Luanda - Comemorou-se no passado 18 do corrente, o dia internacional dos monumentos históricos e culturais, uma data que entre nós devia servir de reflexão,  sobretudo em relação ao futuro que se pretende dar, no diz respeito à salvaguarda da memoria histórica do país.


Fonte: Club-k.net


 No dizer de A.C. Ferreira de Almeida, o  património tem qualidade para vida cultural e física do homem e para existência, é afirmação das diferentes comunidades, desde a vicinal e paroquial, aconselha, à regional até nacional e internacional, é neste duplo aspecto que o « Património com valor de identidade e de memória» de uma comunidade e sobretudo o de  «património como  qualidade» que ele será a cada vez mais falado e se lhe dará futuramente maior importância. Esta data localmente foi aproveitada para à Associação dos naturais, residentes e amigos de Luanda, (Kalu) quase que de forma isolada realizar  uma conferência no espírito da campanha “Reviver” , cujo mote presidente foi o de dar um passeio pela zona histórica de Luanda, com fito de dar a conhecer a todos os amigos de Luanda parte indelével do seu património histórico classificado e não só.

 

Recordemos que desde a formação dos primeiros Estados entre os séculos XI e XIII, no caso particular do Estado do Kongo, a preocupação dos seus mais directos protagonistas ao procederem a hierarquização espacial e determinando o processo de socialização dos espaços que resultaram nas principais aglomerações populacionais em todos os Estados.  Este processo histórico, implica em nosso entender uma leitura leitura dos diversos complexos sócio – culturais do território de Angola ,  evidenciando um esforço conseguido das suas populações.

 

Dizem as fontes que a partir do século XV, que o impacto deste  processo provocou alterações substanciais no tecido urbano que ai prevalecia, tal como na configuração em si da Cidade de Mbanza Congo, com a introdução de novos materiais e técnicas de construção do casario, e sobretudo com a vinda para Angola dos mestres portugueses (carpinteiros e pedreiros) ajudaram na promoção do panorama diferenciado da urbanização em Angola que então imperava, onde imperava a passagem dominada pelo verde dos materiais locais em uso, vindos da floresta, vão se juntar  até serem substituídos pela pedra. A prova desta urbanidade antiga em parte as Cidades e Vilas eleitas para esta exposição.
 
Foi num ambiente de confronto aberto entre as partes em conflito que no decorrer do século XIX,  se foram erguendo a um ritmo mais acelerado, as estruturas que fizeram as Cidades e Vilas  aqui expostas em breves recortes (Mbanza Kongo, Soyo, Luanda, Muxima Cabinda, Benguela, Pungo Andongo, Noki, Catumbela e Huila) com as suas fortalezas Igrejas, edifícios administrativos, sobrados, Praças Largos, entre outros, até as primeiras décadas do século XX, ponto cronológico                      
 


Actualmente o país tem uma legislação que devia proteger de facto o património, que data de 2005, mas que à eficácia  política-social, tem se mostrado pouco acutilante, ou seja sem à  respeitabilidade que se espera, por haver um grande desprezo por parte da administração. Julgamos ser urgente que haja uma maior e melhor teorização do património nacional, ao nível do ensino no seu todo, porque não se percebe porquê que não temos nas Universidades por exemplo nos cursos de Arquitectura, Engenharia Civil, Engenharia Geográfica, Gestão Ambiental, e outras áreas afins, uma disciplina que fala do património, agravando-se lhe a isto está o facto de pouco se falar e se escrever sobre esta matéria entre nós. Facto que faz com que se reduza à  fundamentação e diversificação dos valores do património classificado ou não, da sua problemática de hoje que em parte devia ser  integrada na vida cívica e cultural das comunidades  e das possibilidades de amanhã.

 

 Dos 1004  monumentos classificados em 2009, como património em Luanda,  ficaram sobraram apenas 84, tudo porque os interesses imediatos e, económicos falam mais altos que as marcas que deviam ser indeléveis da historia para novas gerações, devemos fazer com que a palavra património seja de facto sinonimo de preservar, e se gaste numa desorientada malha, com finto de desmotivar as atitude férteis e imediatistas dos nossos delapida dores que deforma voraz partilham o espírito de bota baixo.   Acrescendo-se a este facto,  registamos  com enorme preocupação o desaparecimento  a velocidade cruzeiro de parte significativa do património histórico da velha e  amada Cidade de Luanda, elementos que deviam servir de referencia  simbólica da nossa urbe têm estado de facto  a ser substituídos por edifícios supostamente e inadequados ao no clima tropical.


Foi divulgado pelos medias nacionais em 2010, que o grande hotel de Luanda será entregue a Embaixada do Brasil, visando transforma-lo na casa de Cultura Angola-Brasil, é uma ideia genial do nosso ponto de vista, porque acreditamos piamente que os brasileiros farão de tudo para preserva-lo, no sentido de manter a imponência centenária e simbólica que aquele equipamento possui,  só não percebemos o porquê da lentidão na entrega do grande Hotel de Luanda. Esperamos que não seja mais um exercício dilatório e especulativo como o que aconteceu com palácio de ferro,  que os franceses o queriam aproveitar para transforma-lo na casa de cultura e os nossos decisores abortaram  o sonho dos compatriotas do Gustave Effel. 

Numa conversa que mantivemos no ano passado, com o nacionalista Godfre Nangoya, dixzia nos que esteve hospedado naquele Hotel em 1953, quando veio para  Luanda como emissário do PANAFRICANISMO, com fito de fazer entrega de uma mensagem ao Cónego Manuel das Neves, recorda-se que o seu quarto dava vista a não menos memorial rua do Mercadores, que em termos simbólicos, deve ser provavelmente à marca mais Português em Luanda.

 

A fortaleza de Miguel que devia ser profundamente preservada está também a perder o seu  condão original, sendo que dificilmente poderá sustentar as virtudes de razão dos apadrinham à ideia da mesma vir a fazer parte do património histórico mundial, porque com as alterações  que a mesma está ser alvo, dificilmente vencerá o grito d'ípiranga dos seus proponentes.

 

A Paróquia da Nossa Senhora do Cabo, local onde desembarcou Paul Dias de Novais com os seus homens, em 11 de Fevereiro de 1575, passando a ser o gérmen da Cidade de São Paulo da Assunção de Loanda, com o primeiro capitão e governador chegaram dois sacerdotes e dois irmãos jesuítas, e ao que parecem também alguns Sacerdotes seculares, em termos de construção de alvenaria, Igreja da Nossa Senhora do Cabo, foi em 1669, mas o ritual cristão e o simbólico que o anima é seguramente anterior a esta data, logo não percebemos o que estará na retina esmiuçadora de quem decide, que ainda não colocaram qualquer lapide que classifique aquela paróquia como    património nacional, será  que tem a ver como facto de não estar no centro da Cidade? E  que à Ilha de Luanda só deve servir para outro tipo de turismo? Atendendo ao facto da paróquia do Cabo ser uma das mais antigas da Cidade, pelo menos foi lá onde segundo algumas fontes começou evangelização católica no nosso solo pátrio, por maioria de razão devemos reverencia-la neste  espaço, que em termos de Antropologia do espaço estaria na esteira das Heterotopias, tão bem e genial mente defendida por Michel Faucault em 1967, nos chamados lugares supra celestiais, em oposição ao celeste, e por sua vez contrários aos lugares terrestres, que tendo sido colocados haviam sido deslocados violentamente, foi nesta hierarquia completa e de oposição de cruzamento e lugares que constituíam o que poderíamos chamar de espaço medieval.   

 

Quando se fala de património, é incontornável recorrer ao trabalho do austríaco Alois Riegel, (O culto Moderno dos monumentos o seu carácter e a sua génese  de 1903, que foi publicado em Viena por solicitação da Comissão dos monumentos históricos da Áustria, ainda hoje é tido como trabalho fundador sobre o património).  Esta palavra hoje é usada por várias sensibilidades sociais, desde agentes culturais,estudantes e técnicos de planeamento e não só, entra no naipe do exercício verbal da salvaguarda dos bens memorizáveis.

 


Em termos de mudança de paradigma, diríamos que a humonização trouxe como consequência uma relação dinâmica entre à cultura (Noosfera) Natureza ( Biosfera ) e Técnica (tecnosfera) ,sendo  o processo de civilizacional  uma metamorfose resultante da interacção entre relações sociais humanas, a sociedade, os complexos tecnológicos e a natureza, onde a metamorfose resultante desse processo foi se desenvolvendo ao longo dos anos por via dos paradigmas rupturais  e ao mesmo tempo interactivos.

 


As pesquisas internacionais, dizem que os  paradigmas culturais e civilizacionais, sempre tiveram incidência na biosfera, onde o homem em sociedade tornou-se num agente de modificação profunda da própria biosfera de que faz parte, esta acção social dizem as fonte, sendo que a partir do século XVI, houve um  agravamento e depois do século XIX, com o aprofundar de fracturas entre potencialidades da biosfera e o desgaste produzido por uma tecnociência baseada em materiais não recicláveis e energias fosseis.          

 


“... Ontem como hoje a delapidação patrimonial é protagonizada por personagens do (tipo de delapida dor) cuja acção obstruí a implementação da lógica de salvaguarda do património histórico e cultural dos povos e das nações, são eles os homens negligentes, os homens destruidores e moderniza dores...” Lacroix

 


Cláudio Ramos Fortuna

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Urbanista