Huambo - Uma proposta feita na terça-feira, 03, pelo 1.º secretário do MPLA no Huambo, Fernando Muteka, que visava proceder alterações profundas no tecido partidário local, está a causar sérias divisões na cúpula directiva do partido dos «camaradas» naquela província.

Fonte: SA

Quis trocar tudo e todos

Há indicações que alguns dirigentes visados pela medida estarão mesmo dispostos a abandonar a direcção do partido, por considerarem o gesto do 1.º secretário como uma «retirada de confiança». Consta que os mesmos já endereçaram uma carta às estruturas centrais do partido, mais concretamente ao coordenador do Grupo de Acompanhamento do Secretariado do Bureau Político (BP) à província do Huambo, Jorge Inocêncio Dombolo, na qual condicionam a sua permanência na direcção do partido à saída de Faustino Muteka.

«Das duas uma: «ou sai ele ou abandonamos a direcção do partido», terão dito os militantes, que dizem estar cada vez mais agastados com os métodos de gestão de Faustino Muteka.

A decisão, que terá sido feita à margem dos estatutos do MPLA, tinha como o objectivo o anúncio da substituição do dinâmico 2.º secretário provincial do partido, Paulo Gime, por Agostinho Djaka, um quadro quase a dobrar a casa dos 70.

Numa reunião, que surpreendeu a generalidade dos participantes, o 1.º secretário do «M» anunciou igualmente a substituição, dentre outros, dos secretários dos departamentos de Informação (DIP) Armando Capunda, e da Administração e Finanças, Catarina Oliveira, e para os seus lugares indicou Ernesto Estêvão Pedro e Edite Lisila Vieira Manuel.

Segundo fontes locais, Faustino Muteka terá justificado as mudanças com a necessidade de se evitar a «acumulação de tarefas» por parte dos quadros do partido, já que alguns deles são simultaneamente deputados à Assembleia Nacional pelos círculos provinciais.

Militantes afectos ao partido «maioritário» contactados pelo Semanário Angolense disseram que Faustino Muteka, na sua qualidade de 1.º secretário do MPLA, terá extravasado as suas competências, já que as mudanças que ele se propunha a fazer deviam ser tratadas em foro próprio, ou seja, no âmbito de uma Conferência Extraordinária do Comité do partido local e não numa simples reunião. ■

Mexidas perigosas

Este jornal soube que o coordenador do Grupo de Acompanhamento do secretariado do BP do MPLA à província do Huambo, Jorge Inocêncio Dombolo, terá «vetado» às propostas de mudança.

Um primeiro sinal nesse sentido foi dado na quarta-feira, 04, devido ao facto do Comité Provincial do partido local não ter realizado a reunião que tinha previsto para esse dia, durante a qual Faustino Muteka daria a conhecer às suas pretensões de alterar o elenco directivo do partido dos «camaradas».

A decisão do órgão central do MPLA, diz-se, terá a ver, por um lado, com uma suposta violação dos princípios estatutários do partido por parte do n.º1 do «ÊME», e, por outro, com as consequências que as mudanças poderiam resultar em vésperas das próximas eleições previstas para 2012.

Comenta-se que uma atitude do género resultaria em consequências danosas para o MPLA, visto que muitos dos quadros visados tiveram uma participação activa na retumbante vitória dos «camaradas» sobre a UNITA, num terreno tido como «politicamente adverso».

Em certos círculos locais, o gesto do 1.º secretário está a ser interpretado como uma tentativa de «cortar as pontes» que supostamente ainda uniam os militantes a Paulo Cassoma, que agora ocupa as funções de presidente da Assembleia Nacional. ■