Lisboa - 1 . O cenário de uma retirada de José Eduardo dos Santos (JES), “em breve” e/ou “por iniciativa própria”, admitido em conjecturas políticas e comentários de imprensa sobre a situação em Angola, é considerado “inverosímil” numa avaliação de intelligence sobre o assunto.


Fonte: africamonitor.net


Factores considerados:

 

- JES não tem vontade pessoal e política de se retirar; a elite do regime, pelo menos parcialmente, pretende que se mantenha.


- É duvidoso o surgimento de circunstâncias extremas capazes de o constranger a encarar uma retirada contrária à sua vontade.

 

A questão da retirada de JES coincide com um aumento flagrante da contestação à sua pessoa e liderança, provinda de meios diversos da sociedade. É atribuída a JES a noção de que é contestado por ser o rosto de um regime cuja marca principal é a corrupção (também considera que é hoje menos defendido pelos seus pares do que foi antes).

 

2 . A posição política de JES está “abalada”, conforme é reconhecido. É apontado, como exemplo, um discurso público recente (CC do MPLA), considerado “despropositado” e “revelador de mal estar”. O discurso deu azo a críticas consideradas sintomáticas – pela sua amplidão e virulência.

 

Julga-se, porém, que JES continuará a dispor de condições suficientes para planear e controlar a sua retirada política – nomeadamente fazendo-o de motu proprio e escolhendo a oportunidade. A saber:


- A natureza autocrática do seu poder, incluindo a habilidade para gerir vicissitudes.


- O sistema de governo patrimonialista que fomentou, criando um espírito de grupo entre si e as elites em que se apoia.


- A falta de organização e acutilância da sociedade civil organizada, incluindo os partidos de oposição, para o pressionar.

 

A oportunidade que JES supostamente considera propícia para se retirar implica a existência de um quadro político que lhe seja vantajoso por efeito de atributos como aquisição de legitimidade política pela via eleitoral e estado mais satisfatório de desenvolvimento económico e social do país.

 

3 . A causa principal do actual enfraquecimento de JES é decorrência de efeitos das convulsões político-sociais no N de África e noutras partes do mundo, acrescidas de riscos do seu alastramento à África Subsariana; incomoda-o especialmente a similitude da sua longevidade no poder com a de estadistas postos em causa ou já afastados.

 

O insucesso da política de Angola em relação à crise interna na Costa do Marfim, alinhada com Laurent Gbagbo, e com a qual JES ostensivamente se comprometeu, também o abalou e expôs a embaraços internos e externos que de momento está aplicado em fazer esbater.

 

4 . Está referenciada a existência de diferentes sensibilidades internas acerca da conduta a seguir face à situação criada por impactos internos das mudanças políticas em curso no mundo, inspiradas em reclamações de liberdade, e pelos métodos de contestação popular empregados para as precipitar.

 


Um factor de diferenciação das respectivas sensibilidades (ou correntes) é a forma como JES é visto no plano da actual conjuntura; coexistem sentimentos antagónicos como o de que JES está, pela sua impopularidade, a afectar o regime, com outros como o de que sem ele o regime declinará.

 

A política a seguir para prevenir convulsões sociais também é objecto de pontos de vista diversos. Uma ala, identificada como “ilustrada e pragmática”, defende que a via a seguir é a das reformas e aberturas que atendam a anseios justos da sociedade; mas também há inclinações para a repressão, justificadas com argumentos do passado.

 

A corrente que propugna por aberturas apoia-se especialmente no argumento de que a repressão entraria em choque com uma realidade – a da exigência de direitos civis e políticos – que está em expansão irreversível pelo facto de ser impelido por camadas jovens, mais esclarecidas e com mais consciência política.


A contestação ao regime é animada por jovens, entre os quais são constantemente identificados filhos de dirigentes. Danilo, filho mais novo do próprio JES, c 20, tem sido referenciado em manifestações de cariz contestatário (sessão no cinema Atlântico de mobilização para a manifestação de 07.Mar).