Luanda - Quer saber o que Barack Obama pensa sobre os mais diversos temas? Quer ver fotografias da esposa Michelle ou das filhas Malya e Sasha? Quer contribuir com 1 USD na campanha eleitoral para a sua reeleição? Ou quer ler os xingamentos que recebe daqueles que não gostam dele? Simples: Vá ao Facebook. Pare no espaço pesquisar e escreva Barack Obama e pronto: encontrará o mural do homem mais poderoso do Mundo. Se fizer-lhe perguntas, ele responderá. O mesmo se poderá dizer de Lula da Silva, Dilma Rousseff, David Cameron ou Nicolas Sarkozy. O espaço cibernético, ou o ciber-espaço se preferirem tornou-se no jango planetário em que, derrubadas todas as fronteiras, todos os homens se podem encontrar e interagir.


Fonte: SA

Qual é o vosso problema com a dita cuja, meus Senhores?

Por cá pelas nossas bandas, a situação encaminha-se rapidamente para aí. Depois do surgimento pioneiro de Bornito de Sousa e João Melo (Filomeno Vieira Lopes, esse já lá estava), vemos um número crescente de políticos de todos os matizes entrando para o tal jango global. É um gosto vê-los «chatando» uns com os outros, trocar ideias e experiências e algumas vezes «terçando armas» ou melhor esgrimindo argumentos e contra-argumentos em favor das suas «damas» (entenda-se partidos políticos). E, aparte alguns pequenos exageros de alguns internautas, nenhum dos políticos que «passea-se» pelo ciber-espaço foi lesado na sua integridade física, moral ou psicológica. Não caiu o Carmo ou a Trindade.

 

Numa outra vertente, O facebook transforma-se cada vez mais num extraordinário espaço de debate e partilha de experiências dos mais jovens. Todos os adultos, com destaque para os pais e decisores de políticas juvenis, não podem já, hoje por hoje, dispensar este verdadeiro barómetro do pensamento dos jovens. E, ao fazer precisamente isso, pode-se notar que os jovens beneficiam de uma espaço infinitamente maior de interacção social, que eles usam muito bem, sem qualquer tipo de comportamento anti-social. Antes pelo contrário, vêm-se cruzando ideias futuristas e esboços de sonhos de como querem o Mundo quando forem eles a moldá-lo sem a interferência dos mais velhos de agora.

 

Por isso não se compreende em absoluto porquê o executivo de repente decidiu atirar-se contra as novas tecnologias de informação e comunicação, vulgo TICs. É claro que levou um susto com a coisa das «manifs» (por falar nisso, tanto a «manifestomania»  de alguns sectores como a «manifestofobia» do regime parece estar a diluir-se e ainda bem que assim é) mas ainda assim, a fúria com que sectores do regime encaram as TICs é das mais australopitequianas (sim, do australopiteco mesmo!) que se possa imaginar. Fúria essa que toldou a razão dos proponentes da lei sobre a criminalidade no ciber-espaço ao ponto de torpedear a Constituição que tanto lhes custou fazer passar e o programa que o seu partido propôs aos eleitores em 2008.

 

Se a forma é das mais retrógradas possível, o espírito da lei é uma aberração. Como entender que se puna com penas de prisão alguém que ponha na INTERNET fotografia ou palavras de outrem sem autorização expressa «mesmo que as obtenha licitamente»? Não será isso matar deliberadamente o jornalismo on-line que, hoje por hoje é tão ou mais popular que o jornalismo tradicional? Tanto que, a maior parte dos grandes jornais, incluindo os nossos cá da praça têm uma versão on-line. Então se o Presidente da República fizer um pronunciamento público e o jornalista estampar isso na INTERNET leva uns anitos de cadeia…? Isso cabe na cabeça de alguém?

 

Outro problema – outra prova do desnorte dos proponentes da lei – tem a ver com a questão da intercepção de dados ou à invasão do espaço cibernético privado. A tal privacidade cibernética. Nisso, a Cosntituição é clara: apenas o magistrado judicial competente pode autorizar escutas ou invasão à privacidade do cidadão. Mas o artigo 76 do já famoso pré-projecto da «Lei das TICs» manda tudo isso às urtigas e diz taxativamente que os órgãos de defesa e segurança não precisam de qualquer autorização judicial «ficando entretanto obrigados ao segredo». O que quer dizer que um belo dia alguém da secreta decide vasculhar a vida privada de um cidadão e, sem mais nem aquelas, fá-lo. O que não pode fazer é contar o que viu ou ouviu. Ou chega à nossa casa ou escritório e exige o acesso aos nossos ficheiros privados ou mesmo requisita o computador, há que entregá-lo. E ficamos todos numa espécie de «big-brodismo» em que todos sentem-se espionados pelo regime em nome de uma pseuda preservação da segurança do Estado…

 

Tudo indica que existe um equívoco. As elites que governam o nosso país confundem a salvaguarda dos seus próprios interesses – adquiridos de forma pouco clara – com os interesses do Estado e da Nação (que são eles mais nós). Confundem a sua prosperidade com a prosperidade da Nação e, confundem a sua segurança e a manutenção dos seus privilégios com a segurança e a defesa da soberania do Estado. O grande equívoco é que, como Luís XIV eles acham que «o Estados são eles». Só assim se compreende que reajam com a repressão até à mera crítica e, manifestem um espírito permanente de «eles» o povo e «nós» os dirigentes.


Só assim se compreende esse «controlismo» exacerbado. Na lógica do «nós-privilegiados» e «eles-descamisados», a interacção social perde qualquer hipótese de ser equilibrada. Nem nivelada. E a longo prazo, nem pacífica. Esse acaba por ser o verdadeiro problema destes sectores mais retrógrados com as novas TICs.

 

Mas o verdadeiro problema não é esse. O verdadeiro problema é que, quando as elites dirigentes ou parte dela começa a situar-se atrás do seu tempo, quem paga é o país. Paga de duas formas: ou regride e coloca-se na cauda das outras nações, ou uma outra elite surge para instaurar uma nova ordem social. É a isso que se chama revolução. Portanto avisados seriam os que, ao contrário dos sinais dos tempos insistem num Estado-Polícia, desajustado dos anseios de um mundo sem fronteiras que parece ser o apanágio desta aldeia global. É que, se o Mundo hoje é uma imensa aldeia planetária onde toda a gente interage com toda a gente, as redes sociais – o Facebook – é o jango global onde toda a gente vem sentar-se para falar das coisas da terra. E toda a gente sabe o que acontece com quem tenta destruir… ou adulterar… ou manipular… ou ainda controlar o jango. É sítio de respeito! Cuidem-se pois, os que ainda não perceberam isso.