Luanda - Cartas na mesa. O comissário Joaquim Ribeiro deslocou-se, pessoalmente, ao comando de divisão de Viana, por volta das três horas da madrugada, para levar consigo os três milhões de dólares apreendidos em posse de um cidadão, denunciou o seu antigo subordinado, o superintendente Augusto Viana, no decurso de uma acareação, entre ambos, decorridos no passado dia 10 de Maio, terça-feira. E mais disse: recebeu ordens, do seu superior, para matar o superintendente chefe Francisco João, que denunciou o desvio, ao que ele recusou”fugindo” para Cuba. São, pois, estes os novos contornos de um caso á beira de ser julgado pelo Tribunal Supremo.
 

*Mariano Brás,
Fonte: Semanário A Capital

O ex-responsável  foi pessoalmente buscar os milhões

Os magistrados encarregues da investigação do chamado caso “Quim Ribeiro”, têm, por esta altura, poucas dúvidas sobre o destino conferido aos três milhões e setecentos mil dólares desaparecidos depois de apreendidos numa operação de busca e captura em casa de um cidadão então perseguido por manter conexão com o não menos conhecido “caso BNA”. As informações cruciais a respeito foram obtidas no passado dia 10 de Maio, terça-feira, no decurso de um interrogatório que colocou frente a frente duas testemunhas chave do processo, nomeadamente, o comissário Joaquim Ribeiro e o então seu homem de confiança, o superintendente Augusto Viana, antigo comandante de divisão do município de Viana. 
 


A acareação decorreu no Tribunal Supremo, em Luanda, onde Augusto Viana que também já foi director do gabinete de Joaquim Ribeiro, quando este dirigia o comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, foi o primeiro a chegar. Fontes do semanário A Capital revelam que, o comissário chegou imediatamente a seguir, mas foi sobre o mesmo que recaio a primazia da prestação sobre se conhecia Augusto Viana, assim como fez rasgados elogios á pessoa do oficial, qualificando-o como alguém exemplar, dedicado e sempre disponível para servir a nação.
 


A seguir, relatam as fontes surgiram as questões relacionadas com o caso. Joaquim Ribeiro disse não saber do paradeiro dos três milhões dólares de cujo desvio é acusado, no que foi, prontamente, contrariado pelo seu antigo subordinado. Contam as fontes que, depois de respirar fundo, Augusto Viana agradeceu do seu antigo chefe, ressaltando, no no entanto, que não estava disposto a continuar a viver com mentira.


 
Entre desabafo, como “a situação já foi longe de mais”, e “é hora de falarmos toda a verdade”, o oficial superior revelou que foi o próprio comissário Joaquim Ribeiro, enquanto comandante provincial da polícia, a deslocar-se ao comando de divisão de Viana, para levar, consigo, o dinheiro apreendido na sequência da operação de busca à residência de um cidadão envolvido no caso BNA. Segundo Viana, e tal como testemunharam as fontes, Joaquim Ribeiro deslocou-se à divisão policial, por volta das 03 horas da madrugada, do dia em que a operação foi realizada, e levou consigo o dinheiro.
 

 

Dois dias depois, segundo Viana, recebeu uma chamada de “um oficial” do gabinete de Joaquim Ribeiro, a dar conta de uma encomenda, a si direccionada, que tinha sido deixada pelo comandante provincial.


A encomenda era, na verdade, a quantia de cem mil dólares norte-americanos que, entretanto, já não a encontrara intacta. O tal oficial, que para ele tinha ligado, subtrairá trinta mil dólares, sem qualquer explicação, pelo que, coube, somente 70 mil dólares.


 
 “Comprei um terreno no Benfica”, contou Augusto Viana, conforme foi citado pelas fontes deste semanário. Terreno este que, entretanto, já foi devolvido à Procuradoria-geral da República, no âmbito das instigações que se vêm efectuando sobre a interconexão entre os processos Quim Ribeiro.


 
O desvio deste dinheiro tal como é público, foi denunciado Francisco Joao, superintendente chefe da Polícia, que foi, em seguida, constituído testemunha chave do processo, mas acabou assassinado pouco tempo depois.

 
Joaquim Ribeiro e colaboradores directores, alguns deles já detidos pelas autoridades são suspeitos do crime. Augusto Viana não estava em Angola, quando se deu o assassinato. Mas, sabe muito bem o que se passou.


 
Ao longo da audiência da última terça-feira, Viana disse que se deslocou para o exterior do país, caso, para Cuba, justamente com o objectivo fugir da pressão sobre ele criasse as condições para o assassinato do superintendente chefe, Francisco João.
 


“Viajei para Cuba, para não aceitar esse pedido”, segundo citam, as nossas fontes as palavras de Augusto Viana. E mais disse: “tinha dito, a mim mesmo, que jamais mataria um colega”. Daí, confrontado com esses factos, a recusa inicial e viagem do seu subalterno, foi que o comandante Joaquim Ribeiro orientou outros oficiais a realizarem a missão.
 
Ao que consta, a sala ficou momentaneamente em silencio, face á gravidade das declarações acabadas de pronunciar por Augusto Viana. Foi então, devolvido a palavra à Joaquim Ribeiro que mostrou, imediatamente, indisponibilidade de continuar a falar, pelo menos sem a presença do seu advogado, Sergio Raimundo, algo que levou à interrupção imediata da audiência.
 


A fonte insistiu que, está para breve o julgamento do caso, numa das salas do Tribunal Supremo, em Luanda, sendo que o comissário deverá adoptar a postura do silêncio, face aos últimos desenvolvimentos do caso.
 


Advogado em off


 
Na manhã de quinta-feira, 19, bem ao fecho da presente edição, este jornal na tentativa de obter uma versão contraditória dos factos aqui narrados, tentou contactar telefonicamente com Sérgio Raimundo, advogado de defesa do comissário Joaquim Vieira Ribeiro, mas este tinha os telefones desligados.


 
Mesmo assim, encetou contactos junto de figuras que lhe são próximas que prometeram, inclusive, um pronunciamento do causídico, para o nosso semanário, até ao meio dia de quinta-feira o que, também, não aconteceu.


 
Mas fomos, entretanto, melhor sucedidos ao contactar o advogado José Ventura, que defende os arguidos Paulo Rodrigues e Gaspar António. Este disse não poder falar sobre a situação de Joaquim Ribeiro, por não ser seu constituinte, salientando que tal é, apenas, competência do seu colega Sérgio Raimundo. Mas estranhou ausência de Raimundo na acareação aludida no texto. Por lei segundo explicou, ela deve ser realizada na presença do advogado do arguido.


 
Apesar de lembrar que, num dos interrogatórios dos seus dois arguidos também não foi tido nem achado, ele fez, no entanto, questão de sublinhar que depois reclamar junto da Procuradoria-geral da Republica, passou a ser notificado nos interrogatórios subsequentes. Segundo disse “particularmente ainda não fui notificado sobre a remessa do processo em tribunal”, embora saliente que, “tenho ouvido que existem colegas que já foram notificados a respeito”.