Lisboa - A polícia libertou todas as pessoas detidas terça-feira e hoje em Luanda, relacionadas com uma manifestação contra a pobreza em Angola, que apesar de proibida pelas autoridades se realizou mesmo, disse à Lusa fonte da organização.


Fonte: Lusa



Segundo Carbono Casimiro, porta-voz da organização, o Movimento Revolucionário de Intervenção Social, contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa, a polícia deteve terça-feira à noite, em casa, o presidente deste movimento, Luís Bernardo "Matéria Orgânica", e Quarta-feira, no Largo da Independência "pelo menos mais 12 pessoas".


"Estivemos detidos algumas horas. Fomos detidos em vários grupos e distribuídos por várias esquadras. Não nos fizeram mal. Apenas houve troca de palavras no momento da detenção", acrescentou Carbono Casimiro.



O porta-voz da organização adiantou que apesar da manifestação ter sido proibida, motivando o desdobramento de um forte dispositivo policial no Largo da Independência e que resultou na detenção de 12 pessoas, os detidos depois de terem sido soltos decidiram rumar ao local da concentração e manifestaram-se em fim da tarde, desta vez sem a presença visível de agentes policiais.



Entre os detidos, além de Carbono Casimiro, um dos "rappers" mais conhecidos de Angola, estavam também Elsa Luvualu, viúva de Pascoal Luvualu, ex-membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder) e o Brigadeiro Mata Frakus, outro "rapper" angolano, impulsionador da frustrada manifestação de 07 de março, e detido nessa ocasião.


Segundo a agência noticiosa angolana ANGOP, a manifestação constituiu uma "atitude criminosa", citando o diretor do gabinete jurídico do Governo Provincial de Luanda.


Durante uma conferência de imprensa, o diretor daquele gabinete, Carlos Alberto Cavuquila, justificou a classificação de "ilegal" por "possuir cunho desordeiro e dar azo ao vandalismo", segundo a ANGOP.



"Estamos perante uma ação totalmente criminosa. Enquanto as manifestações tiverem fins criminosos a polícia deve ser chamada a assumir as suas responsabilidades", afirmou.


À exceção da posição do Governo Provincial de Luanda não há mais nenhuma comunicação oficial, designadamente da polícia angolana.


Quanto a ações futuras, Carbono Casimiro disse à Lusa que na próxima sexta-feira será realizada uma palestra, tendo como pretexto a passagem do 34.º aniversário dos acontecimentos do "27 de maio", e no sábado será realizada uma marcha, que ligará o cemitério de Santana ao Largo da Independência, em Luanda.



A 27 de maio de 1977, Nito Alves e José Van-Dunem, dirigentes do MPLA, foram acusados pela direção do partido de uma tentativa de derrube do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto.



Os chamados fracionistas, por seu lado, consideram os acontecimentos como um contra-golpe que visou afastar a linha mais pura do partido.


Além das diferenças de opinião sobre os acontecimentos de há 34 anos, também o número de mortos não coincide: conforme as versões, o número de mortos no "27 de maio" varia entre os 1500 e os 30 mil.